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Rapper em ascensão, Duquesa quer ser ícone musical

Por: Beatriz de Oliveira, Nós Mulheres da Periferia . 27/05/2022

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Rapper em ascensão, Duquesa quer ser ícone musical

Cantora e compositora baiana fala de processo criativo, início da carreira e novo EP

7 minutos, 55 segundos de leitura

27/05/2022

Por: Beatriz de Oliveira, Nós Mulheres da Periferia

A rapper baiana Duquesa encontra na melancolia, encontra ideias para escrever e, ao expor situações que já viveu, conquista a identificação do público. Foto: kaliane Madureira/Divulgação

O melhor de Duquesa ainda não chegou: a cantora sabe que será maior. Diz que está plantando agora para colher depois. Aos 22 anos, tem paciência com o tempo de cada processo. Na melancolia, encontra ideias para escrever e, ao expor situações que já viveu, conquista a identificação do público. Gosta de mensagens na lata, escrachadas. Muito da sua inspiração vem de músicas antigas. Já cantou com artistas que é fã e quer estender a mão para novas vozes,  assim como fizeram por ela.

Dona de faixas que vão do R&B ao trap, a exemplo de Diz, Para pra Pensar e Versase, a rapper começou sua carreira aos 15. Nascida e criada em Feira de Santana, na Bahia, hoje é uma das artistas da Boogie Naipe, produtora do Racionais Mc’s e de Mano Brown.

O primeiro EP deve ser lançado em julho deste ano. O nome é Sinto Muito e carrega dois aspectos: a intensidade de sentimentos e o lamento. “Que pena, não posso ser diferente, eu sou isso aqui e sinto muito”, explica a cantora. As cinco faixas tratam de diferentes relacionamentos amorosos, em situações vividas pela artista.

“Começa com aquele momento que a gente tá querendo ser outra pessoa para agradar alguém, depois passa para uma fase em que a gente tá pedindo para ser escolhida e quer ser a pessoa que é assumida, depois, quando a gente encontra o relacionamento feliz e não precisa ser ninguém além de você mesmo. Por fim, você se reencontra, como canto em é ‘Carta pra mim mesma’, que será a primeira faixa a ser lançada”, diz Duquesa.

Primeiros passos — O talento de Jeysa Ribeiro, nome de batismo de Duquesa, viralizou após a postagem de um vídeo em que fazia cover da música Viva, do grupo Zimbra e que já alcançou 600 mil visualizações.  Ela aparece sentada em uma cama e com o violão no colo. Na parede branca ao seu lado está escrito “poesia”. Nos comentários, muitos elogios à sua voz e críticas por não ter tocado o violão.

Depois disso, um amigo beatmaker convidou Duquesa para participar de uma música. Ele mandou o refrão e ela respondeu cantando em áudios no WhatsApp. A carreira artística começou assim, participando em uma faixa do grupo Sincronia Primordial, de Feira de Santana.

Em 2017, saiu a primeira música, Dois Mundos. O videoclipe foi excluído do YouTube pelo canal que publicou, mas hoje está disponível no Vimeo. A segunda foi Futurista.

Bastidores e perrengues — Nos primeiros shows, Duquesa passou por perrengues e se virava como podia para conseguir um figurino. “Eu pegava uma camisa e arrancava as mangas para um show, cortava no meio para fazer um cropped para ir em outro, para ninguém notar que era a mesma roupa. O mesmo sapato que ia pra escola, eu ia pra show”, conta, além de pegar roupas emprestadas de conhecidos.

Na época, a cantora não tinha contato com estúdios para fazer gravações e recursos para comprar equipamentos. Em eventos nos quais se apresentava, não havia suporte, camarim e nem comida. Ela ia até o local com dinheiro emprestado e, na mesma festa em que cantava, procurava por carona para voltar para casa.

Outra dificuldade do início é a falta de acesso que determinadas regiões sofrem. A cantora afirma que há muitos projetos musicais e incentivos que chegam à capital, Salvador, mas não alcançam a sua cidade. “Na minha terceira música eu ainda não entendia nada sobre distribuição, não sabia nem como colocar no Spotify. Essa questão de acesso me prejudicou muito e me prejudica até hoje, porque ainda estou aprendendo como lidar com a minha carreira de uma forma profissional”.

Eu me quebro em verso
Eu me viro do avesso
Quanto mais eu tropeço, mais viso os acertos
Eu invisto no certo, com erro eu aprendo

Trecho da canção Dois Mundos (Duquesa)

Recomeço — Duquesa pensou em desistir. Prestou vestibular e se formou em Publicidade. Nesse mesmo período, em 2019, um conhecido a chamou para gravar músicas e ela topou. A letra de Diz estava pronta. Gravou a faixa e um amigo da faculdade produziu o videoclipe em uma locação que a própria Duquesa arranjou: o salão de beleza que frequentava. Pegou roupas e perucas emprestadas, flores, toalhas de banho brancas, uma make de poder e fez de uma banheira antiga o item principal do cenário. Tudo terminou em três minutos e 20 segundos de trabalho final. “Foi muito colaborativo”.

Diz é um recomeço também pelo estilo: foi a primeira faixa em R&B. Antes disso, os sons estavam mais inclinados ao trap e ao boom bap. “‘Diz’ é uma música tão escrachada pra mim, de falar de sentimento de uma forma aberta. Eu falei sobre o meu relacionamento antigo que teve traição, foi abusivo e me fez muito mal, estava vivendo esse relacionamento quando lancei a música.”

O que tu pensa quando tá do meu lado?
Amor, sinto ódio, isso é tão estranho
Como eu consigo odiar o que eu amo?
Mas é que isso tudo já me tirou sono”

Trecho da canção Diz (Duquesa) 

Com o novo fôlego vieram parcerias com outros artistas, entre eles Rincon Sapiência, Bivolt, Onnika e Yuki Vino. “Com o Rincon foi meio louco pra mim, porque eu ficava tentando entender qual era a vantagem que ele teria em gravar com uma pessoa que não tinha nada, pensando em mercado”, conta Duquesa. “Mas o Rincon gostou do meu trabalho e isso fez eu me valorizar também.” O resultado é que agora a artista também assume essa responsabilidade de apoiar novos talentos.

Ponto de virada — Quando se apresentou no lançamento do livro da jornalista e empresária Monique Evelle, criadora do laboratório Desabafo Social, pra geração de renda, educação e comunicação, Duquesa contou que queria ser “a maior artista de R&B do Brasil”. Foi Monique quem mostrou o trabalho da rapper parar a produtora Boogie Naipe, que gostou e fechou contrato. “Fui para São Paulo do nada. Antes eu estava trabalhando em loja departamento, dobrando roupa.”

A partir daí, a trajetória construída por Duquesa tem permitido obter sustento na música e mais tempo para fazer suas produções. A cantora já se apresentou ao lado de Mano Brown no AfroPunk Festival em 2021. Para ela, aquele foi o batismo no rap e o público viu que ela existe.

E o que a Duquesa acha da presença das mulheres na cena hip-hop? “Hoje a gente está sendo muito mais ouvida, comentada e respeitada”, afirma. “Eu vejo, por exemplo, a Tasha & Tracie; vários caras pagam pau pro trabalho delas. A gente tá começando a fazer as pessoas pensarem: ‘ela é artista’.”

Tem que parar com essas coisas de colocar rap feminino, trap feminino. Não existe isso, é trap e rap, sem divisão de gêneros, colocar isso como divisor é atrasado (Duquesa)

Na tinta da melancolia — Músicas antigas nas vozes de cantoras como Dolores Duran, que relatam situações cotidianas, são substrato para a criatividade de Duquesa. Outras referências são Alcione, Péricles, Marília Mendonça e Maria Bethânia. “Eu escuto de tudo um pouco.”

Viver a melancolia para conseguir falar sobre ela é uma espécie de recurso para o processo criativo. Duquesa que por um tempo viveu o que chamou de “vício de sofrer” e transformou isso em música. “As minhas relações interferem muito na hora de compor. Eu tive relacionamentos ruins e hoje vivo um bom, mas é muito mais fácil falar do ruim. Fiquei tão viciada em falar do que não deu certo, que esqueço do que tá dando. Agora estou aprendendo a escrever também sobre as coisas boas que vivo.”

Vivências de outras pessoas também encontram espaço nas letras da cantora, que se considera colecionadora de histórias. Sua intenção não é que o público sofra quando a escute, mas entende a importância de participar desses momentos. “Me via nessa situação de procurar um artista que falasse sobre o que eu estava vivendo e passar aquele momento escutando no fone e chorando. Agora sou essa pessoa que pesquisam para ouvir e chorar”, explica.

Duquesa costuma receber mensagens de fãs que viveram casos relatados nas músicas e algumas pedem até conselhos.

Quantas ondas faltam pra gente se desfazer?
E foi mais de uma vez e já nem somos nós, amor
Mais de uma vez, me diga o que cê fez
A gente se desfez e só sobrou nossos lençóis

Trecho da música Para pra Pensar (Duquesa)

Ao se reconhecer no início da caminhada, Duquesa acredita que é questão de tempo, alguns anos, para chegar a um patamar mais consolidado. Por ter começado aos 15, se cobra muito. Ainda se vê como uma cantora inexperiente, mas reconhece o que já conquistou.

Na sua vida cotidiana e nos pensamentos para seu futuro profissional enxerga além da música: quer representar algo para as pessoas que convivem com ela. Duquesa quer “parar de ser só artista para ser um ícone”.


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