No bairro do Guamá, periferia de Belém, mora Eliana Muniz, de 57 anos. Desde a adolescência, Eliana tinha o sonho de ter seu próprio ateliê, mas as condições financeiras não permitiram. Há dois anos, a situação mudou com o projeto Costuraê, que promove em um ateliê local oficinas de costura para mulheres vulneráveis. “Aprendi muitas coisas, tirei muitas dúvidas durante as aulas e consegui realizar meu grande sonho de montar meu negócio em casa”, diz. “Hoje tenho renda com serviços próprios ou vinculados ao projeto.”
Com perdas de parentes na família e sintomas de depressão, a oficineira Alzira Freitas, de 67 anos, também ressalta a importância da iniciativa. “Só chorava. Perdi filhos no passado e não me sentia bem emocionalmente, mas depois que comecei a participar do projeto isso foi uma forma de distração”, conta. Alzira diz que o aprendizado e o convívio com outras mulheres aumentou sua autoestima. “Ainda posso ganhar um trocado com minhas costuras.”
Criado em 2017, o projeto Costuraê conecta a comunidade local e alunos da Universidade Federal do Pará (UFPA). Seu objetivo é encaminhar a independência financeira de mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica, em especial moradoras de comunidades periféricas nos arredores da universidade. O portfólio inclui cursos de corte e costura, oficinas de moda local, uso de materiais ecológicos para a confecção de roupas e bolsas.
O programa Costuraê é um projeto social doTime Enactus UFPA, que tem o apoio da Enactus Brasil — organização internacional sem fins lucrativos que cria uma rede de estudantes e líderes acadêmicos voltada à promoção de projetos universitários de desenvolvimento comunitário. Paralelamente ao empoderamento feminino, a iniciativa estimula a economia criativa da região.
Durante a pandemia, o projeto sofreu adaptações. A faixa etária em torno de 60 anos exige atenção por ser grupo de risco na covid-19. As atividades passaram a ser realizadas em home office e os equipamentos foram levados até as casas das participantes. No avanço da vacinação, a programação presencial começam a ser retomadas. O ateliê com as máquinas de costura fica no Guamá.
Dezessete mulheres foram impactadas diretamente, além das centenas de pessoas de suas família. Quatro participantes trabalham agora no desenvolvimento das atividades.
“Atuamos em uma região periférica onde a comunidade não tem tantas oportunidades para ingressar no mercado de trabalho”, afirma Samya Layse, voluntária e coordenadora do Costuraê. “O projeto é muito bem recebido pela comunidade pelo fato de poder abrir essas portas e promover o empoderamento e o desenvolvimento pessoal dessas pessoas.”
Estão sendo planejados um bazar com peças doadas por parceiros, outros projetos sustentáveis e mais ações em prol do crescimento profissional das mulheres beneficiadas.