‘Ritmo da eletrificação está mais lento do que se esperava’, diz executivo da Siemens Digital Software
Nand Kochhar, vice-presidente automotivo e transporte da Siemens Digital Industries Software, acredita que a propulsão elétrica vai conviver com os motores de combustão interna por algum tempo

Durante três décadas, o engenheiro norte-americano Nand Kochhar trabalhou na Ford Motor Company em posições estratégicas, como chefe de sistemas globais de segurança. Desde 2020, ocupa o cargo de vice-presidente automotivo e transporte da Siemens Digital Industries Software, no Estado de Missouri (EUA), importante fornecedora de sistemas para a eletrificação veicular.
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Ele tem, portanto, uma visão abrangente sobre como a indústria automotiva está se reinventando, principalmente em tempos de eletrificação e digitalização dos veículos. Acompanhe, a seguir, a entrevista que Kocchar concedeu ao Estadão Mobilidade.

Que papel a Siemens vem exercendo na transição energética veicular?
A Siemens é uma empresa de tecnologia que ajuda os clientes a inovar. Apoiamos as transições de veículos elétricos e oferecemos soluções híbridas e híbridas plug-in em muitas regiões. Estamos investindo no desenvolvimento de células de combustível de hidrogênio, com o intuito de atender às necessidades do consumidor e impulsionar a inovação no setor automotivo.
Existe algum risco para a expansão da eletrificação automotiva global?
A eletrificação na indústria ainda está progredindo, embora o ritmo seja mais lento do que o esperado há cinco ou dez anos. Esse progresso não é nivelado em todos os locais. Os desafios regionais, como infraestrutura de recarga inconsistente e desenvolvimento da cadeia de suprimentos, persistem. Atualmente, a China está liderando o caminho na adoção de veículos elétricos.
Apesar dessa lentidão, a chegada dos veículos elétricos é irreversível ou eles podem esbarrar em algumas barreiras?
A infraestrutura, que ainda não é encorpada mundialmente, torna a compra uma decisão difícil, mesmo se o carro elétrico consegue suprir a maioria das necessidades do usuário. Reforço que a cadeia de suprimentos é outro obstáculo enfrentado pelo setor, pois o desenvolvimento de grande parte das matérias primas, eletrônicos e tudo o que entra em um sistema de bateria, é centralizado. Construir novas competências leva tempo.
Qual é a sua visão a respeito da eletrificação no Brasil e na América Latina?
Os mercados estão dispostos a adotar esse tipo de veículo, mas os desafios são os mesmos em relação a outras regiões. Os modelos de US$ 40 mil a US$ 50 mil que vemos na Europa e nos Estados Unidos não decolaram e os que custam abaixo de US$ 20 mil podem mudar esse interesse, desde que a infraestrutura acompanhe o ritmo de vendas.
Por favor, nos fale sobre os benefícios da digitalização na eletrificação, como, por exemplo, a produção de baterias mais eficientes e inteligentes.
A inovação é um impulsionador dos veículos elétricos, desde a implantação de novos produtos químicos de bateria, tempos de recarga mais rápidos e criação de sistemas integrados de gerenciamento de bateria. A digitalização é um meio de realizar tudo isso mais rapidamente e em todas as fases de desenvolvimento, porque ajuda a vincular a química, a eletrônica e o software aos sistemas mecânicos de um automóvel.
A digitalização se estende além do design, fazendo conexões com empresas que fornecem subsistemas altamente integrados a softwares, componentes eletrônicos e materiais como o silício. Ela é o catalisador que ajuda a construir, com sucesso, os chamados veículos definidos por software (SDV).
O que é o “fio digital” na colaboração entre engenharia e fornecedores da indústria?
Existem várias trilhas digitais que conectam todos os dados de veículos definidos por software. Muitas unidades de controle eletrônico ainda vêm de fornecedores, como domínios de frenagem e de direção.
Em nossos SDVs, nos conectamos com a comunidade de fornecedores de subsistemas para acompanhar o que está acontecendo. Isso também se aplica às trilhas digitais de manufatura inteligente, que se liga à cadeia de suprimentos, tanto para logística quanto para problemas da própria cadeia. Existem vários tópicos digitais que atendem a diferentes casos de uso e estamos criando colaborações por meio dessas tecnologias.
As fabricantes e toda a cadeia automotiva estão totalmente preparadas para a transição energética?
Algumas áreas estão crescendo tanto na questão de manufatura quanto na cadeia de suprimentos. Isso inclui os conjuntos de habilidades, recursos e desenvolvimento da força de trabalho. Embora não sejam instransponíveis, os desafios relacionados aos suprimentos são contínuos, como encontrar materiais abundantes e processá-los com eficiência. Eles exigem processos de otimização para construir um plano de negócios para aumentar o plano de eletrificação.
Os motores a combustão deixarão de existir ou vão conviver com os eletrificados ainda por muito tempo?
Esta é uma pergunta difícil de responder, mas, na minha opinião, eles coexistirão por algum tempo, porque não acredito que os motores de combustão interna (ICE) desaparecerão completamente. Haverá aplicações específicas em que um veículo elétrico simplesmente não fará sentido – especialmente em regiões que não prepararam a infraestrutura adequada.
Há também os entusiastas do ICE, de corridas ou apenas colecionadores, que não abrirão mão desse tipo de automóvel. E, não vamos esquecer, existem outras tecnologias que podem desafiar os carros a bateria, como o hidrogênio.
Quais são os limites para a evolução da eletrificação? O hidrogênio verde será viável a curto prazo?
Do ponto de vista global, o maior desafio é a infraestrutura de recarga. Outro desafio é obter a gama de tecnologias de bateria com autonomia alta, para que os clientes aceitem esses veículos de forma mais ampla.
A tecnologia está chegando lá, mas à medida que nos aproximamos desses limites, outras tecnologias, como o hidrogênio verde, podem surgir para preencher certas aplicações não cobertas pela eletrificação da bateria.
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