A primeira trilha da tarde do Summit Indústria Automotiva 2023 teve como tema “Perspectivas, Inovação e Visão de Futuro”, com atividades que contaram com uma palestra e duas mesas de debate sobre o futuro dos automóveis.
Milena Braga Romano, presidente da Eletra, falou no painel “Perspectivas, inovação e visão de futuro da indústria de ônibus elétrico”. A Eletra é uma empresa brasileira que fabrica ônibus elétrico em território nacional. Hoje, a empresa tem mais de 280 ônibus em operação. “O Brasil ainda está muito atrasado em relação a [países como] Chile, Colômbia, México”, explica a presidente.
“Hoje, o Brasil tem uma capacidade produtiva que atende toda a América Latina em relação aos ônibus elétricos”, afirma Milena. Segundo a presidente, o Brasil perdeu o mercado de produção para a China nos últimos 20 anos, mas as pesquisas e as inovações tecnológicas estão avançando. Um exemplo é a própria produção nacional de baterias de alta performance.
O segundo painel da tarde abordou os conhecidos eVTOLs, veículos de decolagem e aterrissagem vertical, apelidados de “carros voadores”. O debate sobre o tema tratou das novidades tecnológicas que têm permitido esse novo modal, mas também permitiu discussões sobre questões regulatórias.
De acordo com Roberta Fagundes Leal Andreoli, advogada especialista em Direito Aeronáutico e Regulatório, o Brasil ainda não tem uma regulamentação específica para este tipo de veículo. “O normal é de que a tecnologia se desenvolva […], para que depois se tenha um controle regulatório”, afirma a advogada. Desta forma, o controle normativo não deve impedir o desenvolvimento tecnológico.
Um desses projetos inovadores é encabeçado pela Embraer. “Com a chegada de novos modelos de negócio […], tudo isso traz mais segurança e traz a oportunidade de você poder ter um custo operacional menor”, afirma Edgar Mendes Rodrigues, engenheiro de estratégia e inteligência de mercado da Eve Air Mobility. A empresa é responsável pela criação de aeronaves elétricas.
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Samuel Salomão, fundador da Speedbird Aero, trabalha há cinco anos no Brasil com drones. A empresa foi iniciada na área da medicina, com um serviço de transporte de medicamentos e tem expandido as entregas pelo País. “A regulamentação está avançando e a gente tem conseguido avançar ainda mais com os drones [e o serviço]”, afirma.
Jefferson Vieitas Fragoso é conselheiro da Associação Brasileira de Evtol (AbraEvtol) e fez uma separação conceitual entre os carros voadores e o Evtol. “O carro voador é o primo distante do Evtol. Existe uma interface aí”, brinca Fragoso. De acordo com o conselheiro, essas diferenças também impactaram as próprias regulações, que precisam tratar das especificidades do veículo.
Para finalizar a rodada de palestras e painéis do dia, o Summit reuniu quatro especialistas no setor para falar sobre os carros autônomos e o futuro da condução automática. O sistema que já é utilizado em alguns serviços tem, a cada dia, ampliado sua atividade.
Para Sergio Avelleda, sócio-fundador do Urucuia Inteligência em Mobilidade, não há o que temer em relação aos carros autônomos. Na verdade, é a segurança o principal fator desse novo modelo. “O veículo autônomo pode resolver um déficit que os carros nos devem desde sua criação que é essa prioridade extrema com a segurança viária”, afirma.
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Avelleda ainda traz uma provocação em relação às escolhas programadas nos algoritmos desses casos. “Outros dilemas surgem, que hoje delegamos ao motorista, que serão delegados ao algoritmo no futuro”, comenta. Por exemplo, em uma situação de risco, como os carros autônomos poderão fazer escolhas entre proteger o embarcado ou o pedestre?
Rodrigo Fioco, diretor de Marketing de Veículos Elétricos da General Motors América do Sul, afirma: “Nossa visão de futuro é de um mundo [com] zero acidentes, zero emissão e zero congestionamento”, disse.
A tecnologia 5G é vista como uma das ferramentas cruciais para o funcionamento desses veículos. De acordo com Renato Coutinho, gerente sênior de Desenvolvimento de Negócios IoT & 5G da TIM, o 5G já nasceu com um dos propósitos sendo a conectividade dos veículos nas áreas urbanas. “À medida que outros sistemas autônomos evoluem, eles vão passar pelo veículo autônomo com certeza”, explica.
O professor André de Souza Mendes do Departamento de Engenharia Mecânica do Centro Universitário FEI reforça a opinião sobre a segurança. “O que parece em um primeiro momento algo inseguro, a tecnologia vai se provando e a gente vai colocando ela em prova em cenários ainda mais desafiadores”, explica. De acordo com o professor, os vários níveis de autonomia são, por si só, mais seguros, mas conforme a tecnologia é testada, mais avanços são feitos nesta direção.
O encerramento do Summit Indústria Automotiva 2023 ainda contou com uma apresentação da cantora Tiê, pelo Eldorado Sessions. O longo dia de debates e palestras abordou temas desde a descarbonização com veículos eletrificados até a legislação de carros autônomos. A trilha da manhã aconteceu entre as 9h e 12h.
No dia 20 de agosto, o Estadão trará um caderno de cobertura completo sobre o Summit Indústria Automotiva