Mesmo na pandemia, tiroteios em vias de transporte têm alta no Rio
Foram registradas 264 ocorrências com trocas de tiro e disparos de arma de fogo em rotas de conduções públicas
Era por volta de nove da noite quando o ônibus em que a estudante Letícia [nome fictício] embarcou a caminho de casa precisou estacionar. A viagem foi interrompida por uma troca de tiros perto da rota do coletivo, na Cidade de Deus, zona oeste do Rio. “Lembro de ter escutado um burburinho de que estava tendo operação na CDD. O ônibus ficou parado por um tempo para evitar o tiroteio”, diz Letícia.
Esses casos têm aumentado na região metropolitana do Rio. Na primeira metade de 2021, foram registrados 264 tiroteios e disparos com armas de fogo em vias e modais de transporte público. O dado, extraído do relatório semestral do Instituto Fogo Cruzado, representa um aumento de 16% em relação ao mesmo período do ano anterior, que teve 227 ocorrências. Os elevados números de tiroteios dos últimos anos têm sido associados às ações policiais pela população fluminense. “Quando o veículo seguiu, eu vi muitos policiais no local”, observa Letícia.
Apesar de apenas 28% dos tiroteiros mapeados em 2021 terem ocorrido em ações policiais, agentes de segurança pública estavam presentes nas situações em que 64% dos mortos e 73% dos feridos foram atingidos por tiros de armas de fogo.
Por pouco essa estatística não aumentou quando um tiro atingiu um dos ônibus da linha 712L, que vai do município de Seropédica até o bairro de Coelho Neto, na zona norte do Rio. “Estávamos na altura da Vila Kennedy [na Avenida Brasil]’, conta Nathalia Souza, estudante de jornalismo que estava no veículo e junto com os outros passageiros escutou um barulho e na mesma hora uma janela estourou. A bala atravessou o vidro e acertou a caixa de delivery de um passageiro. Ninguém se feriu. Quando chegou em casa, a estudante soube da provável origem de tudo aquilo. “Uma amiga que estava passando pela mesma região me contou que rolou confronto armado”, diz.
Na contramão da expectativa
Levando em consideração as medidas de proteção contra o coronavírus e a decisão do STF de restringir operações policiais, a expectativa para o primeiro semestre de 2021 era de redução nos índices de violência em comparação com o ano anterior.
Para Maria Isabel Couto, diretora de Programas do Instituto Fogo Cruzado, as principais razões para o aumento no número de tiroteios em um ano que já começou em pandemia são os crescentes episódios de ações da polícia e de assaltos. “As operações policiais, que deveriam estar limitadas, aumentaram 18% nesses grandes corredores de transporte. O mesmo aconteceu com o número de casos de tentativa de roubo, que aumentou 21%”, afirma.
Isabel considera que a alta nas ocorrências deveria servir de alerta para as autoridades mudarem o foco de suas ações. “Estamos passando no Brasil e no mundo por um momento de crise econômica, agravado pela pandemia do coronavírus. A gente sabe que esses momentos tendem a gerar aumentos de crimes. Por que a resposta do poder público é sempre mais polícia em vez de investimento em políticas sociais de alívio da miséria e de combate às desigualdades?”, questiona.
Destaques do relatório
Fonte (arte e conteúdo): Instituto Fogo Cruzado
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