Uma nova língua para os veículos do futuro
Fabricantes se reúnem para criar o protocolo de comunicação do V2X – vehicle to everything
3 minutos, 28 segundos de leitura
15/12/2021
No futuro, os carros vão conversar com outros carros, com semáforos, placas de trânsito, bicicletas e até com smartphones. Os carros do futuro irão falar pelos cotovelos! Imagine uma consciência coletiva, composta por informações compartilhadas por centenas de sensores espalhados pela cidade ou instalados em outros veículos e dispositivos pessoais, que fornecem informações instantâneas para a tomada de decisão, elevando a segurança dos deslocamentos.
Pode parecer ficção científica, mas não é. Montadoras e fabricantes de equipamento têm investido em carros conectados já há algum tempo e a chegada do 5G torna tudo bem mais fácil. Conceitos como o IoT, cloud computing e machine learning são turbinados com o 5G. Enquanto no 4G tínhamos uma taxa média de transmissão de dados de 15 Mbit/s, no 5G podemos chegar a 10 Gbit/s e isso realmente muda o jogo.
Mas, para assegurar que os veículos de diferentes montadoras e equipamentos de diferentes fabricantes consigam se entender, é necessário definir um idioma comum a todos, um protocolo de comunicação. Estamos falando do V2X (vehicle to everything). Os veículos conversarão com a infraestrutura à sua volta (V2I – vehicle to infrastructure), com outros carros (V2V – vehicle to vehicle), com os equipamentos dos pedestres (V2P – vehicle to pedestrian) e com qualquer coisa ao seu redor (V2X – vehicle to everything).
Imagine que uma sinalização dinâmica em uma rodovia poderá fazer com que a velocidade dos automóveis seja harmonizada para passar por um obstáculo (V2I). Uma bicicleta, mesmo fora do campo de visão, avisará que está próxima e os freios do seu veículo poderão ser acionados automaticamente (V2V). E, enquanto tudo isso acontece, seu carro estará prestando atenção nos pedestres (V2P), no veículo ao seu lado, nas placas de trânsito, no semáforo e em tudo o mais (V2X).
Futuro logo aí
Conversei com Jason Conley, diretor executivo do OmniAir Consortium, que atua na certificação de equipamentos V2X e reúne fabricantes de diversas partes do planeta. Ele trabalhou na organização do Plugfest, um evento que permite que fabricantes coloquem seus equipamentos para conversar com equipamentos de outros fabricantes, em situações reais. O evento ocorreu na Universidade Estadual de Ohio, EUA, no centro de pesquisas automotivas, e os testes em campo aconteceram na cidade de Marysville, em cooperação com o Beta District. A cidade é a primeira a ter uma infraestrutura de suporte à conectividade para mobilidade, com semáforos inteligentes e estímulo à inovação e provas de conceito.
Perguntei a Jason quando poderemos ver essa tecnologia nas ruas e a resposta foi que em menos tempo do que se imagina. O Volkswagen Golf já sai de fábrica com o Car2X há dois anos e a Ford anunciou, publicamente, que terá a tecnologia embarcada em seus veículos em 2023. Além disso, pelos menos 14 fabricantes de equipamento já possuem produtos sendo lançados no mercado. Jason também comentou que os investimentos têm sido altos por parte de quem detém o controle da infraestrutura, como em rodovias, com a instalação de RSUs (road side units), unidades de beira de estrada que captam informações dos veículos para sistemas diversos – por exemplo, cobrança de pedágio e controle de tráfego. A OmniAir tem atuado na certificação de vários novos equipamentos e vem ampliando seus programas de certificação.
As possibilidades são infinitas. No futuro, enquanto os carros autônomos e conectados estarão falando pelos cotovelos com tudo que os cerca, você poderá fazer o que quiser. Se estiver cansado, vai poder contratar um pacote de direção totalmente autônoma por algumas horas e relaxar, com a certeza de que seu veículo, diferentemente de você, não conta somente com cinco sentidos, mas com centenas de informações sendo geradas por tudo que o cerca, tomando decisões precisas e mais seguras para todos.
O futuro é, realmente, surpreendente. E não está tão longe.
Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão
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