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Conheça a história do Cacuriá da Dona Teté, tradição maranhense

Por: Mariana Oliveira, Nós, Mulheres da Periferia . 03/06/2022

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Conheça a história do Cacuriá da Dona Teté, tradição maranhense

Após quase dois anos parado, o grupo de dança volta a jogar nas festas juninas

5 minutos, 35 segundos de leitura

03/06/2022

Cacuriá da Dona Teté, 'o melhor do Maranhão'. Foto: divulgação

“O melhor cacuriá do Maranhão” ou o Cacuriá de Dona Teté é um dos diversos grupos dessa dança tipica — tradicional nos festejos juninos — espalhados pelo estado. Seu legado já é conhecido dentro e fora do território nacional. Disseminada por Dona Teté, a coreografia alegre traz na ginga, no rebolado e na sensualidade a alegria de ser.

Nascido em 1975, com o mestre popular Alauriano Campos de Almeida, mais conhecido como Seu Lauro, o cacuriá é uma manifestação cultural que faz parte do folclore brasileiro. É brincado o ano todo, mas se intensifica nos meses de junho e julho devido às festas juninas. Antes de entrar na essência da dança, precisamos entender a festa maior na qual ele está incluso: a festa do Divino.

A festa é uma celebração de origem católica ocorrida no dia de Pentecostes — sete semanas depois da Páscoa. Está ligada à descida do Espírito Santo para encontrar seus apóstolos. Nos diversos jogos que fazem parte da celebração do Divino em todo o País, no Maranhão o cacuriá tem grande destaque.

A coreografia é feita em roda, aos pares, e acompanhada por instrumentos de percussão chamados caixas do Divino, além de banjo, violão, clarinete e flauta para contagiar quem dança e acompanha. Anualmente no dia de Santo Antônio, em 13 de junho, é realizado o batismo, um ritual de fé, momento de pedir proteção e bênçãos para a temporada.

O figurino também é parte importante do cacuriá. A coroa utilizada vem da representação do império da festa do Divino. Embora não seja trocado anualmente, todas as alterações do figurino prezam esses valores.

Dona Teté e as mulheres — Dona Teté era aprendiz de Seu Lauro na arte de brincar o cacuriá. Em 1986, movida por seu jeito irreverente, cativante e descontraído, acabou lançando seu próprio cacuriá dentro do Casarão Laborarte, grupo artístico independente criado em outubro de 1972 no Centro Cultural de São Luís, no Maranhão.

No início, todos que desejassem poderiam integrar o Cacuriá de Dona Teté, mas a procura ficou tão grande que foi preciso reorganizar as entradas e limitar ao máximo de 18 dançarinos por temporada.

No espetáculo de Dona Teté são priorizadas mulheres caixeiras e cantoras, mas em outros cacuriás há homens que integram o vocal, feito de versos improvisados respondidos por um coro de brincantes. Na última música existe a possibilidade de abertura à participação do público.

Mesmo fazendo parte da festa do Divino, o cacuriá é considerado profano, porque envolve o lado sensual, o corpo a corpo, as letras de duplo sentido. Não envolve o culto, mas o brincar, a diversão. Diferente das mulheres caixeiras do Divino, que focam no celestial, na devoção ao sagrado, no culto ao Espírito Santo.

Jabuti – Cacuriá de Dona Teté

Jabuti sabe ler, não sabe escrever
Ele trepa no pau e não sabe descer
lê, lê, lê
To entrando

Jabuti sabe ler, não sabe escrever
Ele trepa no pau e não sabe descer
lê, lê, lê
Tô saindo

Afinal, quem foi Dona Teté? — Almerice da Silva Santos nasceu em 1924, em São Luís do Maranhão. Ganhou o apelido de Teté ainda bebê. Começou a participar das festas do Divino Espírito Santo com Seu Lauro, fazendo parte de grupos de Tambor de Crioula, mas encontrou no cacuriá sua grande paixão.

Ainda que não tenha sido a criadora do ritmo, Dona Teté deixou um legado tão importante que é considerada responsável pela introdução dos novos instrumentos e do gingado característico de hoje em dia, o rebolado sensual.

Dona Teté faleceu em 2011, vítima de um acidente vascular cerebral, mas sua essência e singularidade foram eternizadas e mantidas com muito rigor por todos que a conheciam e participam de seu cacuriá, especialmente pela dupla Ayckran Silva e Rosa Reis. As duas são as integrantes mais antigas do grupo e não se referem à Dona Teté no passado; sempre no presente.

“O Cacuriá de Dona Teté é diferente dos demais, é o melhor. Tem sensualidade, é mais animado por conta da energia da Dona Teté. Os outros são bons, mas não têm isso. Ela já tinha, tem, toda essa energia e juntava que ela gostava de sua cervejinha, tomava sua cachacinha, aí contagiava e contagia todo mundo. Essa é a principal diferença”, diz Ayckran. “Até hoje as pessoas me olham e falam: ‘olha lá a filha de dona Teté’. Ela tinha essa relação com todo mundo. De chamar de filho, de filha. Comecei como dançarina, mas, para ajudar dona Teté com as músicas e outras demandas do grupo, fui deixando a dança para cantar e tocar durante as brincadeiras. Tocar é uma libertação.”

O Divino coroou esta mulher
Nós a batizamos de Rainha Teté
Quando ela solta sua voz para cantar
Grande magia se espalha pelo ar
Rainha Teté – Cacuriá de Dona Teté

A produtora cultural Imira Brito, filha de Rosa, além de dançar no grupo com a mãe e as irmãs, coordena o Laborarte. “Estar no cacuriá é compartilhar boas energias”, afirma. “Só fortalece nossa união enquanto uma família. Às vezes, se temos algum desentendimento em casa, quando chega no cacuriá a gente tem de resolver, porque ali é trabalho, não dá pra ficar sem se falar”, comenta. “Isso nos ajuda. Sempre estive, desde criança, no Laborarte. Meus pais tinham de ensaiar e como não tinham ninguém para cuidar da gente, então a gente ensaiava. E ensaiando tinha de apresentar. Uma coisa levou a outra.”

A maioria dos versos do cacuriá são de domínio popular, outros levados à roda foram escritos por Dona Teté. Há ainda alguns cantos, conhecidos no grupo, compostos por Cecé Ferreira, a Cecézinha, e Rosa Reis.

Quem está longe e não pode acompanhar corpo a corpo a manifestação consegue ouvir as cantigas na internet. Gravadas em CD, as faixas estão no Spotify.

O primeiro videoclipe do grupo reapresenta a música Caixeira (Rosa Reis) e será lançado no dia 27 de junho, aniversário de Dona Teté. Com toda essa movimentação, o Casarão lançou um financiamento coletivo para custear o figurino, gravar e editar o clipe. “Não tem graça ver os vídeos. Tem de vir aqui no Maranhão, aqui no Cacuriá de Dona Teté, brincar com a gente. Então vem. Vem para São Luís”, convida Ayckran.

Rosa Reis, do Cacuriá da Dona Teté. Foto: Paloma Barros/Divulgação

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