Quem lembra? ‘Foto no cavalinho’ causa nostalgia em moradores da periferia
Para fotógrafo aposentado, ‘naquele tempo, as pessoas eram mais felizes’
No início da década de 1990, era muito comum que fotógrafos circulassem pelas praças e ruas oferecendo para as famílias um serviço bem específico: fotografar as crianças em cavalos de madeira ou de verdade. “Ser criança, posar para a foto na pracinha e recebê-la revelada na mesma hora era o máximo, tanto para a família, quanto pra criança”, diz a analista de comunicação Stefanny Silva, de 29 anos, moradora do Parque Sete de Setembro, em Diadema, região metropolitana de São Paulo.
Tinha gente que chorava ou ficava com medo, principalmente quando o bichinho era de verdade, mas a Steffany nunca teve receio. “Adorava cavalos. Nas férias, visitava meus avós em Pernambuco e sempre andava a cavalo lá.”
O hoje aposentado Aparecido Neris de Queiroz, de 85 anos, foi um dos principais responsáveis pelas fotos de cavalinho que marcaram uma geração em Diadema. Ele fazia a maioria dos retratos, mas tinha muitos colegas de ofício. Aos finais de semana, por exemplo, a concorrência aumentava — e os fotógrafos da Praça da Moça disputavam a atenção do público com barracas de comida e brinquedos.
Queiroz conta que as pessoas que trabalhavam ali se ajudavam muito. “Às vezes, acabava o filme da câmera e outro colega emprestava”, diz. “Também tinha uma mulher que vendia cachorro quente e uma cliente que morava perto da praça deixava ela guardar o carrinho na garagem.”
O fotógrafo lembra da experiência com emoção e nostalgia. Foram quase vinte anos fazendo o mesmo trajeto, todos os dias. Para Queiroz, a praça naquele tempo era muito mais alegre e cheia de vida; as pessoas, mais felizes; as famílias, mais unidas. Mas a procura pelas fotografias nos cavalinhos começou a diminuir quando foi inaugurado um shopping a 100 metros da Praça da Moça.
Em Guaianases, na zona leste da capital paulista, Felipe Santiago afirma que quase todos os seus amigos têm foto desse tipo. “O fotógrafo passava em datas específicas oferecendo seu trabalho na porta das casas”, diz o analista de sistemas. Felipe, que tem 29 anos, não lembra o nome do profissional, mas na memória de seus familiares era um morador de Itaquera, a 10 quilômetros dali. No lugar do cavalinho de madeira, as crianças era fotografadas em um cordeiro colorido.
FOTOS PELO BRASIL
Registros de crianças posando para fotos em cavalinhos de madeira, pôneis ou cordeiros nos anos 1990 não são exclusivos de São Paulo. Moradores e moradoras de diversas partes do Brasil enviaram fotos para a reportagem
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