Mais de 8 milhões de jovens da geração Z estão com dívidas atrasadas
Veja algumas causas da inadimplência e conheça uma ferramenta gratuita para melhorar esse cenário
Muita gente tem a falsa impressão de que a geração Z é composta por uma maioria de crianças e adolescentes sem tantas preocupações. No entanto, a verdade é que aqueles que nasceram entre a segunda metade dos anos 90 e 2010 também se inquietam com responsabilidades, incluindo os boletos a pagar. O Serasa faz um mapeamento mensal dos inadimplentes brasileiros — pessoas que ficam sem pagar as dívidas dentro do prazo. Segundo o levantamento mais recente, quase 13% têm entre 18 e 25 anos. Isso quer dizer que 8,5 milhões de jovens da geração Z não estão conseguindo pagar contas em dia.
Dados de 2019 do SPC Brasil mostram que quatro a cada dez jovens da geração Z já estiveram com o nome negativado devido ao não pagamento das dívidas. Quando questionados sobre o motivo da inadimplência, a principal resposta era a perda do emprego. Cabe ressaltar que no primeiro trimestre de 2022, três a cada dez (30%) brasileiros desempregados tinham entre 18 e 24 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os principais números apresentados ao longo deste artigo sobre a geração Z, dívidas e hábitos de consumo têm como fonte o SPC Brasil. Quando houver outro estudo, ele será identificado
O segundo motivo é o fato de não terem planejado os gastos ou de terem consumido mais do que podiam. Essa informação está diretamente ligada a uma outra informação: 47% das pessoas da geração Z não controlam as finanças, porque não sabem (19%), sentem preguiça (18%) ou não têm o hábito ou disciplina (18%). Em relação aos gastos excessivos, parte do problema está relacionada ao uso indevido do crédito, uma vez que as dívidas mais mencionadas pelos jovens brasileiros são as de parcelas do crediário, aquele famoso carnê de loja. Além disso, 57% das pessoas dessa faixa etária têm cartão de crédito.
Geração Z x Geração Y
De acordo com a agência de crédito americana TransUnion, o consumidor da geração Z devia cerca de US$ 2 mil em gastos com cartão de crédito em 2019. Enquanto isso, os millenials — nascidos entre a década de 1980 até meados dos anos 1990, a Geração Y — gastava 30% a menos no cartão de crédito em 2012, quando tinha a mesma faixa etária que a geração Z tem hoje
Qual é a relação da Geração Z com o dinheiro? — Ainda de acordo com o SPC, os jovens dessa faixa etária se mostram impulsivos: 56% admitem que costumam ceder aos impulsos quando querem comprar algo, enquanto 47% às vezes perdem a noção de quanto podem gastar com atividades de lazer. Outro destaque: 34% gostam de ter um produto que a maioria dos seus amigos têm.
Talvez o próprio cenário atual das redes sociais justifique um pouco dessa impulsividade: basta abrir qualquer uma delas para se deparar com conteúdos de “comprinhas” ou “recebidos”, em que as pessoas mostram suas últimas aquisições para o público que as acompanha. Um estudo da Fullscreen e da Shareablee, feito com as gerações Y e Z, indicou que quase metade (48%) da geração Z é mais propensa a comprar um produto quando ele é indicado por um influenciador digital. Se cruzarmos essa informação com o fato de essa faixa etária ser nativa digital, conectada a todo instante, é possível entender melhor esse hábito de consumo.
No entanto, engana-se quem pensa que a geração Z só gasta com compras impulsivas: 65% desses jovens contribuem para o sustento de suas casas e lidam com ansiedades financeiras. Um dos dramas é o endividamento estudantil: no fim de 2021, havia 1 milhão de estudantes inadimplentes no Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), programa de financiamento do Governo Federal que oferece vagas em universidades privadas. O total em atraso soma R$ 6,7 bilhões, segundo dados do Ministério da Educação (MEC). A ideia do Fies era que esses alunos se formassem, conseguissem empregos e pudessem quitar a dívida. Com o cenário de inflação, pandemia e alto desemprego entre os jovens, a inadimplência já atingiu 50% dos contratos do programa.
Perfil da desesperança *29% dos jovens de 18 a 24 anos dizem que sua maior preocupação é o custo de vida *46% vivem conforme o que dá para pagar em cada mês *28% acreditam que a economia de seu país vai melhorar nos próximos 12 meses *26% não confia que poderá se aposentar *75% não se prepara para a aposentadoria *75% não pode pagar confortavelmente suas despesas mensais Fonte: consultoria de gestão Deloitte
Nativos digitais com hábitos analógicos? — Apesar do pessimismo, mais da metade dos jovens (52%) afirma ter dinheiro guardado. Contudo, a maioria investe em opções pouco ou nada rentáveis: 53% deixa o dinheiro na poupança, 25% guarda em casa e 20% na conta corrente.
Recentemente, nós publicamos aqui um texto sobre jovens investidores que mostrou que a geração Z tem se feito mais presente no mundo dos investimentos, mas seu produto favorito é justamente a poupança, uma opção que existe desde os tempos de seus tataravós. Estamos falando de nativos digitais, que viraram adultos em um mundo que investe em criptomoedas, então é curioso que eles optem pelo caminho mais conservador.
Uma possibilidade para refletir sobre esse aspecto é o cenário de crises em que esses jovens precisaram crescer. Em 2008, a geração Z vivenciou uma das maiores crises econômicas da história, resultado de uma crise no mercado financeiro dos Estados Unidos, que impactou as economias do mundo inteiro. Sete anos mais tarde, esses mesmos jovens viveram no Brasil uma recessão histórica, que elevou a inflação e afetou o poder de compra.
Para completar, em 2020, no auge de suas juventudes, precisaram lidar com dois anos de pandemia de Covid-19, que além de milhares de mortes, trouxe impactos econômicos catastróficos para o país. Segundo um estudo da consultoria McKinsey, esse histórico de crises tornou a geração Z menos idealista que os Millennials, o que talvez justifique esse comportamento mais conservador nos investimentos.
Ingressar na vida adulta nunca é um processo fácil. Quando esse momento acontece em um cenário de crises, inflação, desemprego e desesperança, o desafio fica ainda maior. No entanto, quando novas gerações atingem a vida adulta, o fôlego é renovado e sempre há uma expectativa de que as coisas vão melhorar. O estudo da McKinsey indicou que a geração Z é mais participativa nas causas que defende, além de ser aberta ao diálogo, por exemplo. Dá pra ter um pouco de esperança, não é mesmo?
Quanto ao endividamento, o primeiro passo para sair dessa situação é respirar fundo e organizar as finanças. A Barkus preparou uma planilha gratuita e muito intuitiva, que permite que você registre tudo que entra e sai da sua conta durante o mês. Ao fazer isso, você consegue entender onde está gastando mais e em quais áreas da sua vida é possível reduzir esses gastos.
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