Gás: nova porta se abre ao transporte de carga
Scania encaminha projetos e parceiras para pavimentar solução mais limpa nas transferências de mercadorias de longas distâncias rodoviárias
Desde que começou a introduzir sua nova geração de caminhões, ainda em 2016, em um lançamento para o mercado europeu, a Scania deixou clara a mensagem global de que, a partir dali, iniciaria uma nova fase, como protagonista na transformação para um transporte mais sustentável.
Dois anos depois, a linha de veículos que demandou dez anos de desenvolvimento e investimento superior a € 2 bilhões, chegou ao Brasil com o mesmo propósito. Além de prometer economia de combustível de até 12% em relação à geração anterior, no caso dos caminhões a diesel, trouxe a reboque a decisão em liderar o transporte de carga movido a gás.
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A solução, pioneira em aplicações de longas distâncias rodoviárias no País, exige esforço da fabricante para construir um novo mercado, etapa que cacifa apostas em parcerias de toda cadeia do setor.
Em uma delas, com a Citrosuco, um modelo R 410 6×2 movido a gás natural veicular (GNV) ou bimetano roda a serviço da empresa desde o fim de 2018 com resultados promissores. “Até agora não mostrou perdas logísticas para o operador, mesmo em relação ao abastecimento, que é a principal dificuldade”, conta Silvio Munhoz, diretor comercial da Scania.
“Estamos nos primeiros passos da criação de um mercado. Vai acontecer com certeza, há muitas iniciativas para dispor de infraestrutura de abastecimento, inclusive na forma liquefeita. O gás natural também é abundante no pré-sal e o País precisa arrumar consumo para ele”, diz Munhoz.
Caminhão a gás da Scania gasta 15% a menos
Na operação da Citrosuco, encabeçada pela Morada Logística, a prestadora de serviços, o caminhão faz rota da cidade de Matão, no interior do estado, sede da processadora de suco de laranja, ao Porto de Santos, no litoral paulista.
O trajeto, caracterizado por perfil topográfico variado, o que inclui o trecho da Via Anchieta na Serra do Mar, se mostra adequado para uma avaliação ampla de desempenho. Perto de superar os 200 mil quilômetros rodados, a Morada Logística contabiliza redução de 15% no custo do quilômetro.
“Sabíamos dos desafios – afinal, se trata de uma novidade. Ao contrário do uso do GNV mais intensivo para automóveis, para veículos comerciais ainda é preciso de mais estrutura de abastecimento e preço mais competitivo do gás”, avalia André Leopoldo e Silva, diretor-geral da Morada Logística. “Mas, do ponto de vista operacional, a solução já está aprovada. Com os resultados obtidos até agora, já temos interesse de compra.”
O diretor comercial da Scania revela que, não fosse a crise provocada pelo novo coronavírus, que suspendeu a produção temporariamente na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), encomendas de caminhões a gás já começariam a ser entregues desde março, o que inclui dez unidades para a Morada Logística.
“O gás é comprovadamente mais sustentável que o diesel, além de economicamente viável, considerando a realidade atual do preço dos combustíveis. Continuamos a receber intenções de compra, o que prova existência de demanda. Falta é mais oferta do combustível.”
Redução de 15% na emissão de CO2
Para o meio ambiente, não há dúvida da vantagem do uso do gás. A redução da emissão de CO2, o maior responsável pelo efeito estufa, chega a 15% em relação ao diesel. O combustível pode ser 20% mais limpo caso o caminhão utiliza tecnologia de gás liquefeito ou ainda cortar em até 90% se abastecido com biometano. Se amigável ao ar, o desafio é providenciar a infraestrutura.
Apesar da oferta de GNV nos postos de serviços, a tecnologia das bombas é destinada para automóveis. Para servir caminhões pesados, tanto o local físico quanto o dispositivo de abastecimento precisam de adequações, desde contar com área maior capaz de receber veículos de grande porte até a introdução de mecanismo apropriado que abrevie o tempo do caminhão parado para abastecer.
Importante destacar que, embora o consumo de gás por quilômetro seja de 15% a 18% menor em relação ao diesel, a depender da operação, a autonomia de um caminhão estradeiro movido a gás natural é de 400 a 500 quilômetros, o que exige mais paradas em longas distâncias.
O alcance, porém, pode ser elevado para até 1.200 quilômetros, caso o transportador opte pelo gás liquefeito. Mas aí, novamente, a solução esbarra na falta de infraestrutura, ainda mais incipiente.
“A questão de abastecimento certamente será definida melhor ou igual à oferta de diesel”, afirma Munhoz. “Com o pré-sal, sobra gás no País, que precisa ser consumido. A Scania tem todo o interesse e busca parceiros em toda a cadeia.”
Solução inovadora
Exemplo de uma solução completa, e inédita no País, entrará em operação no segundo semestre. A Scania fornecerá um caminhão a gás para ser aplicado nas atividades da mina Várzea do Lopes, da Gerdau, na região de Itabirito (MG).
“Buscamos por uma opção mais sustentável e o gás, como nova matriz energética, vem ao encontro da nossa ótica”, justifica Vinícius Fernandes de Moura, gerente-geral de suprimentos da siderúrgica.
Devido à severidade do serviço, frequentemente conduzido sem interrupções, apenas as necessárias para as manutenções programadas e trocas de motoristas ao longo da jornada, o caminhão será colocado a toda prova.
“A mineração exige os limites de equipamento: se aprovado na mina, estará apto para qualquer outra aplicação e ainda com redução de emissões no meio ambiente”, resume Moura, adiantando que entende ser um projeto promissor para levar em frente a migração do diesel para o gás na frota. “Só os testes responderão às incógnitas.”
Como a atividade é confinada, não é possível o caminhão sair da mina para abastecer no posto da esquina. Para o problema, a corrente de parcerias viabilizou a construção de uma estação de abastecimento no local, com o combustível fornecido pela Gasmig. Mais um bloco que a Scania assenta em seu projeto de transporte de carga sustentável.
“O gás é comprovadamente mais sustentável que o diesel, além de economicamente viável, considerando a realidade atual do preço dos combustíveis.”
Silvio Munhoz, diretor comercial da Scania
Scania R410 GNV*
Dimensões entre eixos: 3.950 mm
Largura do chassi: 2.600 mm
Altura interna: 1.915 mm
Capacidades: Peso Bruto Total Combinado (PBTC): 56.999 kg
Motor: Scania OC13 GNV; 12,7 litros; 410 cv a 1.900 rpm; torque 204 kgfm de 1.100 a 1.400 rpm
Transmissão: Opticruiser GRS905R, 12 velocidades + 2 super-reduzidas
*A Scania produz sob demanda, as especificações técnicas sofrem alterações de acordo com a necessidade do transporte
Segundo a Scania, em média, o modelo a gás custa 30% a mais em relação ao convencional a diesel, mas entrega potencial de custo total de propriedade (fórmula estima todos os custos ao longo do uso) 15% inferior.
Parceria impulsiona uso de biometano
Projeto em conjunto da Scania e da ZEG, empresa dedicada à geração de energia renovável, busca argumentos para viabilizar o uso de biometano.
As companhias colocaram em operação o primeiro caminhão do País 100% movido ao tipo de combustível em uma das usinas do Grupo São Martinho, gigante do setor sucroalcooleiro.
Na atividade canavieira, o modelo G 410 XT 6×4 é abastecido com o BioGás, nome comercial dado pela ZEG, produzido, inicialmente, no Centro de Tratamento de Resíduos Leste, no bairro paulistano de São Mateus. A ideia, no entanto, é instalar unidades de produção de biometano no interior do País a partir da experiência, em parceria com empresas do agronegócio e indústrias.
De acordo com dados da Abegás, Associação Brasileira de Gás Canalizado, o consumo de gás natural no Brasil no ano passado foi de 64,4 milhões de m³/dia, dos quais 6,2 milhões de m³/dia no uso automotivo. Como referência, porém, a ABiogás, Associação Brasileira do Biogás, estima o potencial de produção de biometano proveniente de resíduos do agronegócio de 70 milhões de m³/dia.
“Utilizando resíduos orgânicos, conseguimos produzir um combustível de excelente qualidade, com desempenho equivalente ao gás natural e muitas vantagens ambientais, com redução de até 90% na emissão de gases do efeito estufa”, garante Daniel Rossi, CEO da ZEG. “A nossa expectativa é contribuir com empresas de logística ou que possuem frotas próprias para que viabilizem sua transição energética.
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