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‘Situação das mortes no trânsito, que já é grave, está piorando’, diz ONSV

Por: Redação Mobilidade . 08/05/2024

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Maio Amarelo

‘Situação das mortes no trânsito, que já é grave, está piorando’, diz ONSV

Pedro Borges, head de Mobilidade Segura do Observatório Nacional de Segurança Viária, afirma que educação sobre trânsito deve começar muito antes do processo de habilitação

4 minutos, 43 segundos de leitura

08/05/2024

Sinistros de trânsito no Brasil têm crescido ano a ano. Foto: Adobe Stock
Brasil registrou 16 óbitos em acidentes de trânsito por 100 mil habitantes, média acima da Argentina. Foto: Adobe Stock

Para marcar a 11ª edição do Maio Amarelo, o Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) escolheu uma localização que simbolizasse a intenção de internacionalização do movimento. Assim, o 4º Seminário de Mobilidade Humana, Segura e Sustentável foi realizado nos dias 6 e 7 de maio em Foz do Iguaçu, no Paraná, na região da tríplice fronteira, divisa entre Brasil, Argentina e Paraguai.

De acordo com Pedro Borges, head de Mobilidade Segura do ONSV, “a ideia é expandir o Maio Amarelo para os nossos vizinhos”. Relatório da Organização Mundial da Saúde divulgado em 2023, referente a dados de 2021 (o último disponível) revelou que o Brasil registrou 16 óbitos em acidentes de trânsito por 100 mil habitantes.

Média perigosa

O índice é similar ao de países vizinhos como Colômbia, Costa Rica e Suriname, e acima do verificado na Argentina (9 mortes por 100 mil habitantes), Chile (10/100 mil), Peru e Uruguai (13/100 mil). No Paraguai, a média é de 21 mortes por 100 mil habitantes. Isso mostra que o problema é continental, e que o Brasil está acima da mediana, segundo Borges.

“Quando a gente olha para a quantidade de vítimas fatais, o nosso cenário é grave. São mais de 33 mil pessoas morrendo por ano no nosso trânsito, o que é muita coisa, e esse valor vem aumentando desde 2021. Então, em vez de melhorar, a gente vê que está piorando uma situação que já é grave”, afirma.

Levantamento da Polícia Rodoviária Federal mostra que as mortes em acidentes rodoviários vinham caindo ano a ano entre 2011 (8.675 ocorrências com mortes) e 2018 (5.273 falecimentos).

Entretanto, em 2019 o número voltou a subir (5.338 mortes). Caiu levemente em 2020 (5.293) e a partir daí continuou subindo em 2021 e 2022, último dado disponível.

Influência econômica

O executivo do ONSV diz que o período de queda nos índices pode estar relacionado com uma melhora das condições das vias, principalmente nas capitais, que começaram a focar mais em segurança viária.

Embora não apoie a tese “100%”, Borges cita também um viés econômico para explicar o período de queda, apontado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que atribui a redução nos índices até 2018 a um desaquecimento da economia brasileira.

“Eu, como (representante do) Observatório não gosto de afirmar isso 100%, porque parece que fica atrelado só à economia. A segurança viária é multidisciplinar, você chega a ela com fiscalização, infraestrutura, educação da população.”

No evento de abertura da 11ª edição do Maio Amarelo, no início do mês, o secretário nacional de Trânsito, Adrualdo Catão, lembrou que a responsabilidade sobre o trânsito também é do Poder Público. “Não podemos colocar esse ônus apenas no cidadão. Nós, gestores, também somos responsáveis pela segurança viária.” 

Motorista nota 6

Questionado sobre como classificaria o motorista brasileiro, numa escala de 0 a 10, Pedro Borges, do ONSV, diz que daria “um 7 ou 6”. “Acredito que falta um senso de cidadania aos motoristas brasileiros. Eles devem entender que o espaço (no trânsito) é público, não é só deles, e que muitas vezes o meu desejo de chegar rápido em algum lugar não tem de ser prioridade”, afirma. “A gente tem muito a evoluir nessa questão.”

Apesar dos problemas, Borges considera que o País está avançando com a questão da segurança veicular. “O Brasil já tem uma rota de resoluções até 2030, para trazer novas tecnologias veiculares. Então eu acho que o Brasil, mesmo que esteja atrasado em relação às normas da União Europeia, por exemplo, já tem ao menos uma previsão.”

Por outro lado, ele cita a infraestrutura viária como um problema mais grave. “O Brasil tem cidades muito desiguais.” Citando São Paulo como exemplo, Borges afirma que a capital paulista tem boa oferta de infraestrutura viária nas regiões mais centrais, com mais ciclovias, mais ônibus. “Entretanto, nas periferias isso não ocorre. Então, o próprio nível de infraestrutura acaba influenciando em uma segurança melhor ou pior.”

Na escola

Outro ponto levantado por ele diz respeito à educação. “Acho que a educação no trânsito é um tema muito importante. A gente acaba olhando para isso apenas para a formação do condutor. Mas isso tem de ocorrer ao longo de toda a formação da criança, do adolescente, de ele entender a parte dele no trânsito para tornar um lugar mais seguro.”

Além de preparar a pessoa, o executivo reforça a importância da fiscalização. “O poder público precisa fiscalizar ainda mais os fatores de risco para tentar diminuir esse cenário que a gente tem atualmente. A partir do momento em que a pessoa torna o trânsito mais inseguro, ela tem de arcar de alguma forma. E muitas vezes a punição é o pagamento de uma multa.”

Uma das maiores transportadoras do País, a Braspress implantou há 11 anos um sistema de monitoramento de motoristas, que por meio de telemetria detecta condições indesejadas ao volante.

Segundo a empresa, das 64.822 ocorrências de anomalias constatadas nos veículos da empresa em 2020 (que vão de uso de celular a excesso de velocidade, por exemplo), o índice caiu para 10.481 eventos em 2023, uma redução de 83%.

Acidentes com mortos em estradas

2011 – 8.675

2012 – 8.663

2013 – 8.426

2014 – 8.234

2015 – 6.867

2016 – 6.398

2017 – 6.248

2018 – 5.273

2019 – 5.338

2020 – 5.293

2021 – 5.396

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