Voando para um futuro sustentável
Com incentivos corretos, é possível vislumbrar um transporte aéreo sustentável no País nas próximas décadas
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15/04/2025

O aumento da temperatura até 2050, como previsto no Acordo de Paris, é preciso que a emissão anual de CO2 seja de no máximo 1,5 tonelada por pessoa. Mas um passageiro voando entre São Paulo e Nova Iorque, ida e volta, gasta mais da metade do seu limite anual nesse trajeto. Isso mostra como a aviação é intensa na queima de combustíveis fósseis.
Por isso, voos mais sustentáveis são importantes para reduzir emissões e mitigar mudanças climáticas. E o Brasil pode ter um papel central nessa jornada.
A Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA) prevê que, em 2025, o total de passageiros deverá ser de 5,2 bilhões. Excetuando o período de pandemia, a tendência sempre foi de um aumento no uso do transporte aeroviário ano a ano, e deve continuar dessa forma. Afinal, viagens aéreas conectam negócios e viabilizam turismo e atividades econômicas essenciais.
O Conselho Internacional de Aeroportos (ACI) e a Organização Internacional de Aviação Civil (ICAO) estimam que, em 2042, poderá atingir 19,5 bilhões de passageiros. Aumentos de renda ampliarão o acesso e o grande desafio é conciliar crescimento de atividade com menores emissões por passageiro. Uma aviação mais sustentável precisa estar em pauta.
Combustível para o futuro
No momento, há três opções sendo exploradas: a eletricidade, o hidrogênio e o SAF ([ITALIC]Sustainable Aviation Fuel[/ITALIC]). As duas primeiras ainda enfrentam significativos desafios tecnológicos. São eles a densidade energética e a segurança das baterias, no primeiro caso, e a infraestrutura de abastecimento e a necessidade de designs específicos, no segundo. Diante disso, o SAF é a opção mais viável no momento.
Produzido a partir recursos renováveis como óleos vegetais, gordura animal e açúcares etanol, o SAF é uma solução drop-in, ou seja, pode ser utilizado diretamente nos motores atuais. O combustível é parte fundamental dos planos da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) para uma aviação net-zero até 2050. Só que, mesmo sendo a opção mais viável, sua produção ainda está aquém do necessário para a sustentabilidade do transporte aéreo.
Segundo a IATA, o SAF corresponde a apenas 0,3% do total de combustível consumido pela aviação comercial em 2024. Além disso, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), os projetos existentes ou planejados para produção seriam capazes de suprir apenas entre 2% e 4% da demanda mundial por combustível aéreo em 2030, bem longe dos 10% que seriam necessários naquele ano para uma jornada à neutralidade até 2050.
Oportunidades
Dentre as iniciativas globais que podem incrementar a produção de SAF, a IEA cita uma brasileira: a Lei do Combustível do Futuro, que prevê mandatos de mistura mínima do combustível sustentável, iniciando com 1% em 2027, até 10% em 2037.
Hoje, o Brasil não produz SAF. Mas segundo estudo da Empresa de Pesquisa Energética, os projetos de unidades de produção poderão suprir 11% da demanda total brasileira de combustível de aviação em 2037. A principal matéria-prima da produção nacional será a soja.
Temos oportunidade de diversificar fontes com o uso do etanol de cana-de-açúcar e milho. E, dado o potencial do Brasil em converter áreas degradadas para produção dos biocombustíveis, não há concorrência com os alimentos.
O caminho para uma aviação mais sustentável passa por políticas públicas capazes de incrementar a oferta de SAF para atender a demanda e diminuir custos de produção, ainda maiores do que os do querosene normal.
O que acontece na terra pode dar pistas sobre o que poderá acontecer no céu. Hoje, carros elétricos e híbridos são uma realidade, comercialmente viáveis e cada vez mais populares. Foram necessárias muitas políticas públicas e a colaboração do setor privado para chegarmos aqui.
O mesmo valerá para a aviação. Com os incentivos corretos, é possível vislumbrar um transporte aéreo sustentável nas próximas décadas. Com ótimas oportunidades produtivas e comerciais para o Brasil nessa jornada.
Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão
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