Descarbonização. Fórmula E faz pesquisas para ampliar a recuperação de energia nas frenagens
Categoria disputada por carros elétricos estuda soluções para recarregar anda mais as baterias durante as corridas da temporada

Bateria cheia, igual a menos tempo de recarga. A Fórmula E segue as pesquisas para aprimorar a principal equação dos carros elétricos. Depois de adotar o PitBoost, tecnologia que fornece 10% de energia extra em um reabastecimento de 30 segundos, a categoria trabalha pela ampliação da capacidade de frenagem regenerativa de seus monopostos.
Hoje, as freadas nas curvas ou desacelerações recuperam de 30% a 40% da energia exigida pelos carros durante as corridas. A partir de 2026, esse número deverá aumentar 20% nos modelos da geração 4 (GEN4), dando mais tranquilidade aos pilotos para concluir as provas sem o risco de “pane seca”.
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Os estudos nesse sentido tiveram um capítulo interessante em Mônaco, antes da etapa disputada nos dias 3 e 4 de maio. Um protótipo da Fórmula E chamado de Genbeta, desceu mil metros da região montanhosa Col de Braus, nos arredores do Principado, com o objetivo de armazenar energia suficiente para, lá embaixo, dar uma volta no circuito de rua.
O evento batizado de “Mountain Recharge” (recarga na montanha) contou com a parceria do Google AI Studio, incumbida de calcular as principais zonas de frenagem e análises gravitacionais, e a ABB, empresa de automação e eletrificação que patrocina a Fórmua E.
Dados do carro de Fórmual E coletados em tempo real
Ao volante do Genbeta, o piloto de testes da Fórmula E, James Rossiter, percorreu o traçado de 3.337 metros. Valendo-se de soluções de Google Cloud baseadas em inteligência artificial (IA), o Genbeta ganhou 4% de carga na frenagem regenerativa, energia suficiente para cumprir o desafio.
O Google AI Studio analisou as variáveis da descida – como velocidade, aceleração e força G –, ao passo que a IA identificou as zonas ideais de frenagem, dimensionou o impacto da relação velocidade-peso e das forças gravitacionais e refinou os ângulos de direção para maximizar a regeneração de energia.
Os dados e gráficos transmitidos pelo carro foram coletados em tempo real e hospedados em um painel intuitivo, permitindo aos engenheiros visualizar as informações de telemetria.
Usando a energia potencial da gravidade, o veículo precisou regenerar entre 1,6 e 2,0 kWh (4% de carga) para percorrer a pista. Numa comparação, essa quantidade de energia é necessária para carregar totalmente cerca de 60 dispositivos portáteis, como smartphones e notebooks.
“Não se trata apenas de competição. As análises sobre a regeneração de alta eficiência, aliada à IA, pode revolucionar a otimização de energia e sustentabilidade, seja em frotas de entrega ou no gerenciamento eficiente de energia em cidades inteligentes”, afirma o vice-presidente de marketing da Fórmula E, Alex Aidan.
Para ele, o projeto Mountain Recharge comprova como a IA consegue solucionar desafios complexos do mundo real, como desvendar a intrincada física da descida e traçar com precisão o potencial de regeneração de energia de um veículo elétrico.
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Brasileiros da Fórmula E aprovam
Os engenheiros brasileiros aplaudem a iniciativa. “A Fórmula E já é reconhecida como laboratório que impulsiona a inovação e acelera a evolução tecnológica”, diz Hilton Spiler, diretor de segurança veicular da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA). “A frenagem regenerativa representa um avanço crucial no cenário automotivo, especialmente no Brasil, que acompanha a crescente tendência de veículos eletrificados.”
Ele conta que o controle eletrônico de estabilidade (ESP) assume papel importante na coordenação da recuperação de energia nos veículos de passeio elétricos e híbridos. Ao utilizar um sistema ESP com capacidade de frenagem regenerativa, a autonomia da bateria elétrica é acrescida, dependendo também das características do motor elétrico.
“A gestão exigirá decisões precisas dos pilotos, enquanto a recuperação de energia nas frenagens ganhará mais relevância. A eficiência passará a depender de um equilíbrio sofisticado entre software, hardware e habilidade ao volante”, completa.
“Tecnologias desenvolvidas sob pressão competitiva costumam chegar aos veículos de produção em médio prazo, como motores elétricos compactos, inversores leves, sistemas de refrigeração avançados e baterias de recarga rápida. Para o consumidor, o resultado é uma vasta oferta de automóveis mais sofisticados, econômicos e com menor impacto para o meio ambiente”, explica Clemente Gauer, diretor da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Já Rodrigo Vicentini, gerente de engenharia de soluções da Keysight Technologies América Latina, acredita que a Fórmula E provavelmente está refinando a otimização dos sistemas baseados na tecnologia SiC (silicon carbide). Ela permite que altos níveis de tensão sejam rapidamente transferidos aos componentes elétricos e à própria bateria.
“Isso representa redução de peso do veículo e recarga mais rápida, pois é possível desenvolver sistemas de controle em inversores e conversores mais ágeis e precisos”, diz. “Assim, os sistemas de inteligência artificial do carro, que integram melhor os algoritmos, contribuem para a eficiência energética total.”
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O ‘orelhão’ que virou ponto de recarga

Grandes companhias e montadoras estão investindo na infraestrutura de recarga brasileira, mas o crescimento nas vendas de eletrificados permite que outras empresas também busquem seu espaço no mercado. É o caso da Eletrix, que oferece soluções completas para recarga.
Desde 2022, ela atua na instalação, operação e gestão de eletropostos residenciais, empresariais e comerciais. “Hoje, contamos com 70 pontos ativos e queremos passar dos 200 até o final do ano, sem comprometer a qualidade do suporte e da manutenção”, afirma Michel Khafif, CEO da Eletrix.
Segundo Khafif, as soluções oferecidas pela Eletrix são a instalação residencial de carregadores, com ou sem fornecimento do equipamento, a preparação da infraestrutura em vagas de empresas e condomínios e a instalação em pontos públicos e privados em prédios corporativos, com tarifação ao usuário e gestão via app.
Ela trabalha com carregadores das marcas WEG e Duosida e, em alguns pontos de recarga, como o de um edifício corporativo em Barueri (SP), a Eletrix reaproveita a estrutura de antigos orelhões telefônicos.
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