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Etanol é aposta enquanto elétrico não vem

Por: Cleide Silva, de O Estado de S. Paulo . 28/01/2020
Inovação

Etanol é aposta enquanto elétrico não vem

Montadoras trabalham em projetos com o combustível para atender às metas de eficiência energética até elétrico ser viável economicamente

6 minutos, 25 segundos de leitura

28/01/2020

Indústria automobilística pretende manter o etanol como combustível alternativo. Foto: Getty Images

Está em curso mais uma investida por parte da indústria automobilística para manter o etanol no foco como combustível alternativo até que veículos elétricos se tornem viáveis economicamente no Brasil, o que só deve ocorrer no longo prazo.

         O País é o único fabricante de carros que rodam com etanol e as montadoras, com produtores do combustível, apostam na ampliação do seu uso e até mesmo que o produto terá papel importante nos automóveis do futuro.

         O grupo FCA (dono da Fiat e da Jeep) trabalha no desenvolvimento de tecnologia inédita para motores só a etanol, mais eficientes que o antigo carro a álcool – que tinha como base motores a gasolina – e que os atuais flex quando abastecidos com o combustível da cana.

         Para o futuro um pouco mais distante, a Nissan desenvolve tecnologia para usar bioetanol em veículos movidos à célula de combustível.

Fila de espera

Já a Toyota colocou nas ruas, em setembro, o Corolla híbrido flex, que tem como opção o uso do álcool para o motor a combustão operar em conjunto com a bateria elétrica. O modelo, produzido em Indaiatuba (SP), custa a partir de R$ 125 mil e atualmente tem fila de espera de cerca de três meses.

Toyota desenvolveu e começou a produzir no Brasil o Corolla híbrido flex. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

         Parte desses projetos tem no horizonte o atendimento às metas de melhora da eficiência energética dos veículos estabelecida pelo programa automotivo Rota 2030.

         A partir de 2022, os novos automóveis produzidos no País ou importados terão de consumir 11% menos combustível que os atuais, o que diminuirá também as emissões de poluentes na atmosfera.

         No programa anterior, o Inovar-Auto, as empresas cumpriram exigência de melhora de 12% em relação aos carros que circulavam no mercado em 2012. Essa norma ainda vai valer nos próximos dois anos.

         A corrida é acirrada, pois quem não cumprir a meta terá de pagar multa a ser depositada em um fundo governamental para programas de modernização do setor de autopeças.

         Já quem superar o limite estabelecido de 11% terá desconto de 1 a 2 pontos porcentuais (pps) no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), benefício similar ao do programa anterior.

         Conseguiram o bônus extra para ser aplicado neste ano pelo Inovar-Auto a Ford e a General Motors (2 pp), Audi, Honda, Mercedes-Benz, Nissan, PSA, Renault, Toyota e Volkswagen (1 pp).”

Diferença

Com o novo motor, o plano da FCA – que atendeu à meta dos 12% do Inovar-Auto – é reduzir a diferença de consumo do etanol, hoje 30% maior que o da gasolina.

         Chamado de E4, o motor turbo é um projeto da engenharia brasileira e deve ficar pronto em dois anos. A Fiat foi a primeira marca a lançar no País o carro a álcool, no início dos anos 80, um Fiat 147.

         Trabalho semelhante está em estudo pela fabricante de autopeças Bosch. “Cabe a nós {setor automotivo} continuar trabalhando na evolução do etanol”, diz Besaliel Botelho, presidente da Bosch América Latina.

         João Irineu Medeiros, diretor de assuntos regulatórios e compliance da FCA, explica que o etanol é um combustível altamente renovável quando se considera o ciclo desde o cultivo da cana até o que sai do escapamento do carro.

         “Trabalhamos num modelo conceitual que reduzirá substancialmente a diferença entre o uso do etanol e o da gasolina”, diz Medeiros. “Essa tecnologia é patente nossa e não existe no mercado hoje.”

         O grupo também vai começar a produzir na fábrica de Betim (MG), no fim do próximo ano, uma nova família de motores turbo que vai equipar utilitários esportivos e picapes produzidos pela Jeep na unidade de Goiana (PE).

         “Esses motores permitirão ganho significativo de eficiência que, somados a novos sistemas eletrônicos, pneus e aerodinâmica, vão nos ajudar a atender às normas do Rota 2030”, informa Medeiros.

         Edson Orikassa, gerente de assuntos governamentais e regulamentação veicular da Toyota, prevê que o Corolla híbrido flex deve ultrapassar o mínimo de redução de consumo exigido na primeira fase do Rota (que vai até 2025), e usufruir do crédito de 2 pp de IPI. No Inovar-Auto, a empresa obteve desconto de 1 pp.

         Segundo Orikassa, “até 2025 teremos globalmente pelo menos uma versão híbrida de cada produto da marca e a tendência é de que também cheguem ao Brasil em algum momento.”

Parceria

Na Em novembro passado, a Nissan assinou acordo de parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), da USP, para acelerar o projeto que usa bioetanol em veículos movidos à célula de combustível.

         Em teste pela empresa desde 2016, a solução substituirá o hidrogênio pelo etanol, eliminando a necessidade de infraestrutura de abastecimento de hidrogênio e até mesmo os riscos de se transportar cilindros com o composto químico.

         De acordo com a Nissan, a tecnologia permitirá uma autonomia de mais de 600 quilômetros ao veículo com apenas 30 litros de etanol, além de não emitir nenhum poluente na atmosfera.

         Ela está prevista para ser testada em automóveis em até cinco anos e dará à Nissan vantagem extra na medição da eficiência energética de seus veículos. Até lá, a montadora pretende ampliar as vendas do elétrico Leaf, lançado oficialmente no País em julho e hoje comercializado a R$ 195 mil.

         Cada carro elétrico tem o fator da medição de eficiência multiplicado por quatro, e o híbrido, por três. “Também estamos trabalhando no desenvolvimento de novas tecnologias relacionadas à combustão para aumentar a eficiência dos carros”, informa a Nissan.

Veículos pesados

Fabricantes de caminhões e ônibus também precisam atender às metas de redução de consumo e emissões e trabalham em várias frentes. Uma das novidades apresentadas recentemente foi o caminhão sem retrovisor da Mercedes-Benz.

         No lugar dos espelhos, duas telas de LCD e câmaras de alta definição são instaladas dentro do veículo e permitem um campo de alcance de até 200 metros. O sistema também tem alerta de pedestre e reduz o consumo de combustível em 0,5% a 1% por melhorar a aerodinâmica ao eliminar os grandes espelhos das laterais.

        No Brasil há 30 anos, a Pósitron vai oferecer essa tecnologia, chamada de Mirror Eye, para montadoras e o mercado de reposição a partir de 2020. “Inicialmente, será importada da Europa, mas, como temos fábrica em Manaus, a tendência é de que seja produzida localmente”, diz Obson Cardoso, diretor de operações da empresa.

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