A evolução da tecnologia e o gradativo aumento dos veículos eletrificados na frota brasileira vêm ajudando a construir um novo cenário na indústria automotiva brasileira, com mudanças em toda a cadeia produtiva, inclusive nas oficinas de manutenção das concessionárias ou independentes.
“Hoje, os automóveis mais parecem computadores sobre rodas”, afirma Marcelo Lima, gerente de Marketing de Produto e Engenharia da Bosch. “Cada vez mais eles vão se comunicar com o motorista e também com o meio externo, oferecendo uma variedade de serviços.”
Lima destaca que alguns aplicativos trabalham como ferramentas de geolocalização, proteção conta roubo e indicação de rotas, propiciando uma experiência mais interativa no cockpit e sem que o motorista dependa tanto do smartphone. “Futuramente, com chips tecnológicos e internet 5G, o carro passará a se comunicar mais com o ambiente externo”, afirma.
As montadoras, por sua vez, se valerão da tecnologia para atualizar remotamente os softwares dos veículos, por um telecarregamento sem fio. “No ecossistema de conectividade que está em desenvolvimento, as oficinas irão prover os clientes com muitos serviços e também conseguirão dialogar com os automóveis”, diz Lima. “Elas avisarão o proprietário que chegou a hora da revisão ou vão alertá-lo que uma luz acesa no painel indica um problema. Quando o carro chegar à oficina para o conserto, a peça já estará no estoque.”
As oficinas de manutenção caminham na direção dos novos tempos. Internet de altíssima qualidade e wi-fi em toda a área de trabalho tornam-se itens indispensáveis para gerar produtividade. Consultar o manual do proprietário impresso, então, ficará no passado. “As oficinas deverão ter uma literatura online sempre atualizada. O profissional entrará na baia de serviço já sabendo quais ferramentas precisará usar”, salienta.
Com a eletrificação dos carros, as oficinas passam por adequações, como a preparação de estrutura adequada para lidar com alta tensão e isolar uma vaga específica para prevenção de possíveis descargas elétricas. Os investimentos podem acontecer aos poucos, a julgar pela demanda do local. Hoje, elas possuem equipamentos utilizados para os reparos de carros com motor a combustão, como diagnóstico da unidade de controle e testador de bateria.
As oficinas, porém, podem equipar suas instalações para atender os veículos elétricos dando um passo de cada vez. Primeiramente, são necessários equipamentos de proteção individual (EPI) e qualificar seus profissionais. Em segundo lugar, o investimento contempla itens como testador de componentes de alta tensão, ferramentas isoladas e sistema de resfriamento do cockpit e da bateria. Por fim, o terceiro passo inclui a mesa pantográfica, espécie de elevador para remover a bateria.
Um dos aspectos mais importantes quando se fala das adaptações das oficinas com o advento dos elétricos é, de fato, a capacitação dos profissionais encarregados da manutenção.
“A segurança é vital, porque são carros com sistema de alta tensão, embora tenham manutenção mais simples do que os movidos com motor a combustão, pois possuem cinco vezes menos componentes”, explica Diego Riquero, chefe do Centro de Treinamento Automotivo da Bosch. “Os automóveis 100% elétricos não têm itens de reparação como velas, correias, filtros de combustível e de óleo, bielas e virabrequim, o que simplifica a revisão.”
Ele conta que ainda não existe uma regulamentação no Brasil sobre a qualificação destinada aos automóveis eletrificados, mas a Bosch já conta com um treinamento específico, dividido em três módulos, que envolvem o conhecimento dos dispositivos de segurança, diagnóstico e a intervenção para desconectar o sistema de alta tensão do carro.
Riquero reforça a ideia de que as oficinas devem criar um ambiente seguro para o veículo eletrificado, com boxes cercados e sinalizados, ferramental adequado e técnicos certificados.
“É claro que a qualificação vai evoluir conforme o avanço dos automóveis. Será um mergulho do genérico para o específico. O setor vive uma corrida tecnológica, na qual não sabemos se seguiremos com as baterias de íon de lítio ou se passaremos para as células de combustível”, completa.