Rota 2030: é hora de fazer alianças
Executiva da Fundep afirma que as diferentes organizações voltadas para eletrificação devem se unir
O Rota 2030, programa criado pelo governo brasileiro, entra, neste mês, em seu terceiro ano. O Rota é uma evolução do Inovar Auto, que visava aumentar a competitividade na cadeia automotiva nacional, com foco em reengenharia e processos internos das empresas. Mais alinhado às necessidades da atualidade, como eletrificação e conectividade, o programa aparece como uma ferramenta para incentivar a inovação aberta (conceito criado pelo professor Henry Chesbrough, e propõe que haja colaboração entre empresas, indivíduos e órgãos públicos, na criação de novos produtos e serviços), na prática.
Por se tratar de um projeto que trafega por temas áridos e diversos, achou-se por bem incluir vários atores, como coordenadores dos recursos, associações de classe, além dos ministérios da Economia e da Ciência e Tecnologia e, claro, instituições e universidades.
Uma das coordenadoras do Rota, a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) faz a gestão de três linhas do projeto, inclusive a V, voltada para biocombustíveis, segurança veicular e propulsão alternativa à combustão, que engloba iniciativas de eletrificação (veja reportagem aqui). A instituição já captou mais de R$ 370 milhões para cerca de 72 projetos, e, de acordo com Janayna Bhering Cardoso, gerente de prospecção de novas oportunidades da Fundep, é chegada a hora de fazer com que as sinergias entre diferentes organizações voltadas para a eletrificação aconteçam. Confira a entrevista.
Alguns especialistas criticam o Rota 2030, pois dizem que está muito na teoria e pouco na prática. Qual sua análise?
Janayna Bhering Cardoso: Estamos cumprindo a portaria de acordo com o que nos é exigido em termos de prazo. Varia de um, dois e até três anos para que os resultados sejam colhidos. Somamos cerca de 72 projetos, que foram selecionados e receberam aporte com resultados que já geram algum impacto dentro desse período estabelecido.
Os resultados apresentados ao conselho gestor, órgão que analisa o que foi acordado e o que está sendo cumprido, tem recebido elogios, o que resultou na conquista da coordenadoria da linha VI (conectividade). Inovação demanda mais do que curto prazo, como é o caso de iniciativas de descarbonização, por exemplo, com biocombustíveis, trazendo questões de materiais alternativos. Precisamos trabalhar com essas duas frentes. Uma a curto prazo e outra a médio e longo prazos.
Na sua opinião, o caminho do Rota 2030 é a eletrificação?
Janayna: Segundo as montadoras, essa transição se dará, muito provavelmente, por meio da hibridização por meio da hibridização. Ou seja, utilizando diferentes fontes de energia (elétrica, etanol, hidrogênio verde, entre outras), em um mesmo veículo, dependendo do tipo de modal. Nos carros, por exemplo, é muito provável que a maioria não seja com propulsão 100% elétrica. Haverá um mix de produtos que serão alimentados por energia elétrica apenas e outros com a possibilidade de recarregar na tomada ou com etanol.. Por causa do volume da frota e pela necessidade dos investimentos das montadoras para se adequarem para que essa transição aconteça. Lembrando que essas empresas são globais e atendem à diversidade de mercado. Para nós, o interessante é atrair investimento significativo dessas empresas para pesquisa e desenvolvimento em inovação para atender à nossa demanda. É um caminho sem volta; a descarbonização é um compromisso assumido e precisa entrar na pauta. Precisamos construir juntos, sociedade e governo.
Como deverá ser feito esse trabalho de convergência?
Janayna: A ideia é que, com base nos estudos desenvolvidos no âmbito do Rota, se possa conglomerar instituições que já estão participando do programa e outras externas. A Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica (PNME), por exemplo, precisa ser observada com um foco especial. Ela é responsável pela construção de uma política nacional de mobilidade elétrica para que essa transição, de fato, aconteça. São mais de 50 instituições envolvidas e que precisam entrar em convergência com o Rota 2030 para que se possa pensar na edificação de baterias, na questão dos semicondutores, na infraestrutura de recarga, entre outras questões.
São oito grupos de trabalho, compostos de especialistas da indústria e de instituições que atuam nessa questão de baterias, políticas públicas, combustíveis alternativos, para desenhar o que é preciso para que se avance nesses termos. Assim, se aproxima o momento de efetivar essa convergência entre o que já existe no Rota 2030 e os estudos feitos pelo PNME.
O que ainda impede que a inovação aberta se desenvolva no País?
Janayna: Essa é a grande contribuição do Rota 2030. É a criação da cultura da inovação aberta, além de fomentar o desenvolvimento de uma cadeia completa. Por que não replicar esse programa em outras áreas? A inovação começa a ser colocada como pilar estruturante do desenvolvimento econômico do País. Nosso maior desafio, já que produzimos grandes cérebros, é como reter talentos aqui, no Brasil, para exportar produtos com valor agregado.
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