Cresce uso da bicicleta como meio de transporte no Estado de São Paulo, mas segurança não acompanha
Para especialista, é necessário priorizar a mobilidade ativa e implementar uma política de redução de velocidades dos veículos

A Pesquisa Origem e Destino (OD) 2023, divulgada em março deste ano, mostrou que o uso da bicicleta como meio de transporte na Grande São Paulo aumentou 25% na comparação com 2017. Naquele ano, foram 377 mil viagens diárias de bike, que subiram para 472 mil em 2023. Esse aumento, no entanto, não tem sido acompanhado de melhorias na infraestrutura cicloviária que possam oferecer segurança aos ciclistas, na avaliação de um especialista no tema.
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De acordo com Sérgio Avelleda, consultor em mobilidade urbana e coordenador do Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável do Insper, a adesão à bicicleta como meio de transporte vem crescendo há anos e se intensificou durante a pandemia.
“As pessoas foram estimuladas a pedalar porque a infraestrutura cicloviária estava crescendo, as entregas usando as bikes também. Só que o que aconteceu em São Paulo é que, nos últimos anos, não apenas as ciclovias não foram expandidas, como as que já existiam têm sido abandonadas”, afirma.
De acordo com ele, esse cenário contribui para um maior índice de acidentes. “Na medida em que se cria uma infraestrutura e depois não é feita sua ampliação, nem sua manutenção, quem pedala está exposto aos riscos”, explica.
Números mostram falta de segurança aos ciclistas
No acumulado de janeiro e março deste ano, as mortes de ciclistas cresceram 9,9% na comparação com o mesmo período do ano passado. Os números são do Infosiga, a plataforma que contabiliza os sinistros de trânsito no Estado de São Paulo. Dessa forma, nesse período 100 ciclistas morreram.
De acordo com Avelleda, os números são preocupantes, pois confirmam uma tendência de aumento das mortes dos mais vulneráveis no trânsito. “É preciso que as autoridades parem para pensar, refletir e reagir frente a essas mortes, com políticas públicas efetivas. E precisam fazer isso rapidamente”, afirma.
Assim, a continuidade do plano cicloviário e de um programa de manutenção das ciclovias existentes, redução das velocidades para veículos e aumento da fiscalização são as principais iniciativas mencionadas por Avelleda para reverter esse quadro.
“A função do poder público, entretanto, é proteger as pessoas. Para isso, é preciso que se trabalhe em várias frentes”, explica Avelleda.
Ações integradas
Colocar a mobilidade ativa e a redução da velocidade no centro de uma política de segurança viária é, de acordo com o especialista, a principal medida para reverter os índices de sinistros de trânsito.
“Dessa forma, o compromisso número 1 de gestores municipais deveria ser com a proteção à vida. Então as autoridades não deveriam ficar constrangidas de instalar radares, pois eles foram criados para essa finalidade. O contrário, como aconteceu em algumas cidades do interior paulista, onde prefeitos romperam cabos de radares com alicates, é que deveria causar vergonha”, acredita
O especialista reforça a importância de as cidades incorporarem o sistema seguro Visão Zero, que prega que nenhuma morte no trânsito é aceitável, para administrar o trânsito. “Essa é a única metodologia para redução das mortes que tem funcionado no mundo todo. Funciona em Fortaleza, em Salvador, em Bogotá, em Paris, em Oslo, em Nova York. Contudo, se nós não incorporarmos esses princípios, vai ser muito difícil reduzirmos as mortes no trânsito”, acredita.
Por fim, Avelleda cita a falta de um programa permanente de redução das velocidades dos veículos, implantação de faixas de pedestres e de travessias seguras.
“Bogotá, na Colômbia, tem se destacado pela redução considerável das mortes no trânsito nos últimos anos. E é comum o prefeito de lá dizer que cidade civilizada não é a que tem bom pavimento para carros, mas a que tem bom pavimento para pedestres e ciclistas. É essa mudança de cultura que temos que ter aqui”, finaliza.
Passarela oferece segurança aos ciclistas

Na capital paulista, uma iniciativa recente tem levado mais segurança para ciclistas: a inauguração da passarela Jornalista Erika Sallun, em 30 de janeiro. Ela foi prometida há quase 30 anos atrás, na Operação Urbana Faria Lima, como uma das quatro passarelas no total que seriam construídas na região.
A ciclopassarela fica sobre o Rio Pinheiros e oferece uma travessia segura para ciclistas e pedestres entre os bairros Butantã e Pinheiros, na zona Oeste da capital. Iniciada em dezembro de 2023, a obra custou R$ 46 milhões.
“Infraestrutura de qualidade é essencial para uma cidade mais humana, e essa inauguração precisa ser apenas o começo. A ciclopassarela é a prova de quando há infraestrutura, a demanda aparece”, afirma Renata Falzoni, cicloativista e vereadora em São Paulo (PSB).
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