Maio Amarelo 2025: do engajamento ao resultado
O poder público acena com iniciativas e programas, mas a efetividade dessas ações depende de uma coragem que, por vezes, parece faltar
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27/05/2025

O Maio Amarelo 2025, com seus recordes de adesão e impacto, celebra um avanço inegável na conscientização sobre segurança viária. A sociedade, mobilizada em níveis inéditos, demonstra que a urgência de um trânsito mais humano e seguro ressoa em corações e mentes.
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Contudo, a euforia dos números não pode nos cegar para uma verdade incômoda: a transformação real do trânsito brasileiro esbarra em uma legislação hesitante, que parece temer a ousadia de priorizar a vida acima de tudo.
O tema “Mobilidade Humana, Responsabilidade Humana” ecoou em escolas, empresas e entidades, evidenciando a crescente percepção de que a segurança no trânsito é um dever compartilhado. Dessa forma, as empresas, cada vez mais engajadas, demonstram que a responsabilidade social corporativa pode ser um motor poderoso para a mudança.
O poder público, entretanto, acena com iniciativas e programas, mas a efetividade dessas ações depende de uma coragem que, por vezes, parece faltar.
Maio Amarelo: do discurso para a ação
A grande questão que se impõe é: estamos dispostos a traduzir a comoção do Maio Amarelo em medidas concretas que desafiem o status quo? O “Desacelere. Seu bem maior é a vida.” realmente está sendo colocado como prioridade em uma sociedade assolada pelas mortes no trânsito? A resposta, infelizmente, ainda paira em um limbo de promessas e hesitações.
O cerne do problema reside na gestão da velocidade, um fator de risco negligenciado por décadas. Não basta clamar por “desaceleração” se a legislação permite velocidades incompatíveis com a segurança, especialmente em áreas urbanas.
A inércia legislativa perpetua um ciclo vicioso: a sociedade se conscientiza, mas as leis não acompanham a evolução da consciência, tornando a mudança cultural um processo lento e árduo.
É preciso que os tomadores de decisão compreendam que a redução de velocidade não é uma medida impopular, mas sim um ato de coragem em defesa da vida.
Prefeitos e gestores de rodovias que promovem a prática de velocidades seguras com engenharia e fiscalização, legisladores e normatizadores que avançam com a revisão de leis e resoluções que melhoram a fiscalização e a gestão da velocidade. Dessa forma, todos esses atores são agentes de transformação, que devem priorizar a segurança acima de cálculos eleitorais.
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Tema mais que urgente
Essa é a principal mensagem que deve vir do poder público, executivo, legislativo e judiciário, para que a sociedade civil e a iniciativa privada percebam que o assunto é sério e urgente, e não apenas uma grande campanha publicitária realizada no mês de maio.
O poder legislativo precisa formular e reformular a legislação de trânsito para que ela priorize e proteja os infringidos, e não os infratores. Para isso, os projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional e que tratam da promoção de velocidades seguras, reduzindo a velocidade referencial nas áreas urbanas para 50km/h e permitindo a fiscalização da velocidade média por trecho, precisam ser desapensados e tramitados em rito de urgência.
O poder executivo precisa agir sem demagogia, promovendo a sinalização e fiscalização necessária para a redução das velocidades das vias urbanas e rodovias sem cair na falsa sensação de impopularidade dessas medidas. Essas medidas são impopulares apenas para uma minoria barulhenta, que infelizmente ainda influencia a tomada de decisão dos políticos.
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Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão
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