Com ou sem pandemia, há um consenso entre especialistas: a forma como nos locomovemos está mudando e vai se alterar ainda mais com a chegada da moto elétrica.
Seja pelo fator ecológico – afinal, a estrutura da mobilidade ajuda as cidades a lidar com problemas ambientais –, seja pelo econômico, pois a urbanização impulsionada pelos grandes centros exige deslocamentos sem atrasos.
Nesse cenário, motos e scooters elétricas aparecem como uma alternativa eficiente e de baixo impacto ambiental. “A pandemia mostrou que menos veículos nas ruas fazem com que a cidade fique melhor para viver, e o temor do transporte público também é uma oportunidade para a micromobilidade elétrica”, analisa Rodrigo Contin, CEO da Hitech Electric, que desenvolveu o primeiro carro autônomo e elétrico do Brasil.
A empresa inaugurou uma plataforma de e-commerce no final de junho e incluiu em seu portfólio scooter e moto elétrica.
Um dos principais motivos para essa mudança é que as pessoas estão prontas para isso: 37% daqueles que dirigem gostariam de deixar seus carros na garagem; já entre os usuários do transporte público, 43% prefeririam ter uma alternativa de mobilidade.
Os dados são do estudo Mobility Futures, que entrevistou 20 mil usuários frequentes de diferentes meios de transporte em 31 cidades do mundo, incluindo São Paulo. O levantamento, realizado pela Kantar, empresa de consultoria de dados e insights, também revelou que uma em cada quatro pessoas quer mudar a forma como se locomove.
“Enxergamos um futuro de mobilidade multimodal no qual as pessoas irão realizar seus percursos em diferentes meios de transporte, incluindo os veículos elétricos”, afirma Luciana Pepe, diretora de contas da Kantar no setor automotivo.
Outro achado da pesquisa é que a escolha dos meios de transporte é emocional. As pessoas são mais propensas a usar meios de transporte que trazem alegria ao deslocamento diário e oferecem um estilo de vida, não só uma forma de se locomover. Vitor Groba, 42 anos, reflete a tendência e personifica o estudo. O empresário buscava uma alternativa para fazer deslocamentos curtos, que faria a pé ou com aplicativos, pela capital paulista.
Encontrou na scooter elétrica Voltz EV1 um veículo que atende a suas necessidades, além de ser prático e ecologicamente correto. “Já tive outras motos no passado, mas a relação com a scooter elétrica é diferente. As pessoas olham de outra maneira no trânsito”, conta ele.
Como já teve outras motos normais, movidas a combustão, Vitor Groba queria evitar oscustos de manutenção nesse tipo de veículo, como trocas de óleo, para ir à academia ou percorrer pequenos trajetos. Com a covid-19, “para não andar de carro de aplicativo, que entra e sai gente toda hora”, segundo ele, decidiu comprar uma scooter elétrica.
Desde então, confinado em casa e trabalhando em home office, se diz satisfeito com a escolha. “Não tive que parar no posto nenhuma vez”, comemora Vitor.
O empresário adquiriu a EV1 pela internet e recebeu a scooter em casa. “Sempre faço compras online, mas receber uma moto dentro de uma caixa foi uma experiência muito louca”, diz ele, que só teve de instalar os retrovisores.
À venda desde novembro do ano passado, a Voltz EV1 já teve mil unidades comercializadas até o início de julho. Com lojas em sete cidades do Nordeste e uma unidade fabril em Cabo de Santo Agostinho (PE), a Voltz Motors aposta no crescimento do mercado.
Tanto que irá abrir uma loja na cidade de São Paulo, no final de agosto, e irá transferir a produção para a Zona Franca de Manaus (AM), em 2021, ampliando a capacidade produtiva para 22 mil motos por ano.
“Lançaremos um novo modelo, uma moto elétrica urbana, mais adequado ao uso dos paulistanos”, revela Manoel Fonseca, 37 anos, diretor de marketing da Voltz.
A nova EVS terá autonomia para 120 quilômetros e o preço deve ficar em torno de R$ 15 mil. Já a scooter EV1 é vendida a R$ 9.450 e pode rodar até 60 quilômetros com uma carga da bateria de lítio.
Desenvolvida para as necessidades dos consumidores brasileiros, a EV1
traz suspensões confortáveis e seguras para encarar as ruas do Brasil. “A bateria de lítio também é portátil, pois muitos locais não oferecem tomadas para recarga”, explica Fonseca.
A procura pela scooter, segundo o executivo, dobrou após a pandemia. O desempenho da EV1, segundo a Voltz, é equivalente a uma scooter de 50 cc, as populares “cinquentinhas”. Chega a 60 km/h, velocidade máxima na maioria das ruas e avenidas da cidade de São Paulo.
“Para meu uso, em trajetos curtos, é suficiente. Perde um pouco de desempenho nas subidas, assim como uma scooter a gasolina”, avalia Vitor Groba. Ele diz já ter chegado a 55 km/h, mas não se arrisca nas Marginais, vias de velocidade máxima de até 90 km/h e trânsito de veículos pesados na capital paulista.
Quanto à autonomia da bateria, o empresário afirma rodar 20 quilômetros, em média, por dia. “Quando chego, tiro a bateria e carrego no meu apartamento durante à noite”, diz ele. Uma vez que não existe sistema de alimentação de combustível, não é preciso dar partida com frequência,
como nas motos normais, lembra Vitor. “Basta desligar a chave geral para que a bateria mantenha a carga e ela esteja sempre pronta para rodar.”
Com frete, a EV1 saiu por cerca de R$ 10 mil para Vitor. O valor, maior que uma scooter a gasolina, acaba compensando no final, afirma ele. A carga completa leva cerca de quatro horas e custa, em média, R$ 1. Além disso, motos e scooters elétricas têm o benefício de pagar 50% do IPVA, no Estado de São Paulo.
O preço inicial é realmente maior, mas o custo operacional é menor. As motos e scooters elétricas têm um payback alto”, avalia o engenheiro Rodrigo Contin, da Hitech, que vende a scooter Change Urban, da Super Soco, por R$ 15.900. Assim como Vitor, Contin lembra que não há manutenção nas motos elétricas.
“Só é preciso trocar pneus e pastilhas de freio. Não tem óleo do motor, líquido de arrefecimento nem corrente de transmissão para lubrificar”, ressalta. O custo mais alto, e preocupação de muitos consumidores, é com a vida útil da bateria, que, segundo o engenheiro, é “o coração da moto elétrica”.
As baterias de lítio da scooter duram 2 mil ciclos completos de recarga, ou seja, cerca de 120 mil quilômetros. O preço de uma nova gira em torno de R$ 4.500.
“Um ciclo completo significa zerar a carga e carregar até 100%”, explica Contin. Mas o ideal não é rodar até descarregar. “Tem de usar a scooter ou a moto elétrica como um smartphone: a bateria baixou para 30% e você vai precisar sair? Carregue”, ensina ele.
1. Bateria – Opte por um modelo que tenha baterias de lítio, feitas para os veículos elétricos. Dê preferência a baterias portáteis, que podem ser
carregadas em qualquer tomada.
2. Autonomia – Escolha uma scooter ou moto elétrica adequada a seu uso: se vai rodar 50 quilômetros por dia, não compre um modelo que tenha essa autonomia justa.
3. Desempenho – As scooters, geralmente, vão até 50 km/h e são adequadas para trajetos curtos e ruas tranquilas. Se for rodar em trânsito rápido, escolha uma moto que possa chegar a uma velocidade maior.
4. Recarga – Se a bateria for de lítio e removível, encare como a de um smartphone. Usou metade ou mais da carga, recarregue.
5. Habilitação e emplacamento – Em função do seu desempenho, as motos e scooters exigem CNH categoria A e precisam ser emplacadas. O uso de capacete é obrigatório, e recomendado.