A pandemia da covid-19 revelou as fragilidades do nosso transporte público coletivo, que, mesmo antes dela, já vinha sofrendo com a perda de passageiros, causada por aumento nas tarifas, concorrência do transporte por aplicativo, entre outros fatores, e se intensificou com a exigência de continuar operando com número reduzido de pessoas.
Mas a mesma crise sanitária acabou, também, impulsionando a incorporação de inovações com potencial para melhorar o sistema em todo o Brasil. “O pagamento por aproximação, por exemplo, é uma dessas tecnologias que já estavam disponíveis, mas, se não fosse a necessidade de reduzir o contato físico, acredito que demoraria para ser implementada.
Na cidade do Rio do Janeiro, o sistema já funciona, hoje, em 4 mil ônibus, de uma frota total de cerca de 6 mil veículos”, afirma Pedro Palhares, gerente-geral da Moovit, aplicativo de mobilidade que reúne informações sobre o transporte público. Ele acredita que a adoção dessa funcionalidade, não apenas nos ônibus mas em todos os demais modais coletivos, é uma das apostas para este ano.
Outra tendência que Palhares aponta é o transporte coletivo sob demanda. “Ele acabou trazendo uma solução aos sistemas, pensando, principalmente, nas pontas dos trajetos, passageiros que se dirigem aos grandes terminais e regiões pouco adensadas”, diz. Palhares explica que essa modalidade, que funciona em Fortaleza, Goiânia e outras cidades, tem se mostrado opção interessante para alguns desafios dos deslocamentos.
“É óbvio que não resolve todos os nossos problemas, mas é muito positivo quando atua com o BRT, corredores exclusivos e outras soluções que funcionam bem”, afirma.
Se é nos momentos de crise que lições importantes são aprendidas, as administrações perceberam, durante a pandemia, a necessidade de flexibilização dos contratos, especialmente os firmados com empresas de ônibus. “Vejo como tendência novos modelos de contrato para o transporte coletivo que separam a operação da provisão da frota.
Isso é realidade em países como Colômbia, Cingapura, Londres e Estocolmo”, diz Cristina Albuquerque, gerente de mobilidade do WRI Brasil. Por aqui, um case nesse sentido é o de São José dos Campos (SP), que, além dessa separação, vai permitir uma flexibilização por causa de eventos extremos, como a pandemia. “O edital de convocação separa em operação, tecnologia e financeiro, incentivando a participação de empresas especializadas em cada uma dessas áreas”, explica Paulo Guimarães, secretário de Mobilidade Urbana da cidade.
Outro desafio é a necessidade de os municípios buscarem novas formas de financiamento para o transporte coletivo. “Precisamos de um novo marco regulatório, mas é muito importante não vermos como responsabilidade única do governo federal. Muita coisa pode ser feita e está ao alcance das cidades”, diz Albuquerque.
A eletrificação do transporte coletivo também é apontada pelos especialistas como tendência, embora o momento de crise do setor dificulte ainda mais a medida. Com apenas 18 ônibus elétricos circulando, a cidade de São Paulo é destaque por, ao menos, ter metas nesse sentido. “Para 2024, a meta é de 2.600 ônibus elétricos em nossa frota. Outros países vizinhos estão avançando, como Chile e Colômbia, e precisamos também acelerar esse movimento que traz tantos benefícios à sociedade”, afirma a gerente de mobilidade do WRI Brasil.
Fonte: Instituto Clima e Sociedade (iCS)/2020
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