Por mais que já façam parte da realidade do mercado automotivo brasileiro, o carro elétrico ainda é visto com ressalvas por muita gente. O consumidor tem dúvidas e certa desconfiança com relação a temas como segurança, infraestrutura de recarga e aumento na conta de luz.
Em alguns aspectos, o ecossistema da eletrificação, de fato, precisa melhorar. Em contrapartida, existem polêmicas que não têm fundamento. Veja 10 mitos e verdades sobre o carro movido a bateria no Brasil.
1 – O carro elétrico já está mais barato?
Verdade
Alguns movimentos vêm derrubando os preços dos veículos elétricos. Com o lançamento do BYD Dolphin Mini, em fevereiro passado, na faixa de R$ 115 mil, outras marcas resolveram mexer nos valores de seus carros para não perderem espaço no mercado.
São os casos de Renault Kwid E-Tech (R$ 142.990 para R$ 99.990) e Caoa Chery iCar (de R$ 139.990 para R$ 80 mil). “As margens de lucro diminuíram, porque as fabricantes tinham, sim, como cortá-las”, afirma Rodolfo Levien, diretor de operações da Voltbras, empresa de soluções de energia e software. “A tendência é que os preços caiam ainda mais.”
2 – Os lançamentos de veículos elétricos ao Brasil estão esfriando?
Mito
Vender um automóvel movido a bateria exige das fabricantes muito estudo do mercado, assim como acontece nos carros com motor a combustão. Embora ajam com cautela, elas seguem com os planos de eletrificação. BYD e Great Wall continuam agressivas em suas estratégias e, em setembro, a Zeekr – marca da chinesa Geely – estreia no País, com os modelos 001 e X, aumentando a oferta. Outras montadoras, como Audi, BMW e Volvo, também se reforçam nesse segmento.
3 – A infraestrutura de recarga ainda é deficiente no País?
Verdade
O número de eletropostos no País está crescendo, mas ainda precisa melhorar. “A proporção de carregador por quilômetro quadrado é baixa e concentra-se na região Sudeste”, diz Levien. Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o Brasil tem, hoje, cerca de 8 mil estações de recarga. “O problema é que nem todos são bem gerenciados. Algumas unidades não funcionam ou não recebem manutenção”, revela.
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4 – O carro elétrico polui mais que o convencional?
Mito
Há quem diga que, do berço ao túmulo – ou seja, desde a exploração do material para a bateria até o momento em que ele deixa de rodar –, o veículo elétrico é mais poluente. “Essa questão provoca uma guerra de narrativas”, atesta Clemente Gauer, diretor executivo da ABVE.
“A bateria do carro elétrico não tem um grama sequer de chumbo – presente na bateria dos modelos tradicionais – que é muito mais pesado e poluente.” Ele cita os estudos do Conselho Internacional de Transportes Limpos (ICCT), em que as emissões dos veículos elétricos registrados nos Estados Unidos e na Europa são de 66% a 69% mais baixas. Na China, cuja matriz energética é o carvão, a emisão é de 37% a 45% menor.
5 – Componentes das baterias são reutilizáveis?
Verdade
As montadoras têm o dever de dar o destino correto às baterias de veículos elétricos depois da primeira e da segunda vidas. Atualmente, de 95% a 98% de seus componentes são recicláveis – ao contrário de 80% de tempos atrás.
“No Brasil, já existem empresas totalmente preparadas para reciclar as baterias e direcionar os elementos químicos para a reutilização”, acentua o executivo da Voltbras. Vale lembrar que uma bateria defeituosa não precisa ser totalmente trocada. Basta substituir o módulo danificado.
6 – Os elementos químicos da bateria vão acabar?
Mito
Os metais usados na produção da bateria geram polêmica. “O lítio, presente em apenas 3% na composição total do componente, é abundante na natureza”, salienta Clemente Gauer. “Outros elementos, como grafite, níquel, manganês, alumínio e cobre, também existem em profusão.”
Para ele, o uso prudente dos metais e a reciclagem das baterias para reaproveitá-los garantem a produção da bateria sem a preocupação com a finitude de matéria prima.
7 – Ainda é difícil instalar ponto de recarga nos edifícios antigos?
Verdade
A complexidade não se deve apenas à precariedade das instalações de edificações antigas, mas também à resistência de moradores dos condomínios, que temem o aumento na conta de energia elétrica e a ameaça de incêndio provocado pelo carro elétrico.
“Isso é bobagem. O risco de carro a combustão pegar fogo é 11 vezes maior que o elétrico”, diz Gauer. “Ademais, basta recorrer a uma empresa de qualidade para instalar o ponto de recarga no prédio com segurança e com as devidas adaptações.”
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8 – Carro elétrico é menos seguro?
Mito
Além do risco menor de causar incêndio, o veículo elétrico tem o pacote de baterias com proteção antipenetrante para, em caso de forte impacto, ficar totalmente preservado. A carroceria recebe uma série de reforços estruturais para garantir maior segurança, como os dispositivos de proteção contra sobrecarga e curto-circuito das baterias, que cortam a energia imediatamente ao detectar uma avaria.
9 – Recarga doméstica de carro elétrico aumenta a conta de luz?
Verdade
O encarecimento do valor da energia elétrica é uma verdade que deve ser ponderada. “Considerando que o motorista de carro elétrico gasta, em média, 233 quilowatts hora por mês, ele pagará cerca de R$ 210 a mais na conta. No entanto, gastará por quilômetro rodado um quinto do valor do desembolsado quando usa gasolina”, afirma Gauer.
10 – As concessionárias estão totalmente aptas para atender carro elétrico?
Mito
O treinamento dado pelas fabricantes para a rede de concessionárias ainda está longe do ideal. De acordo com estudo da consultoria automotiva J.D. Power, cerca de 40% dos concessionários mostram despreparo com o serviço de pós-venda porque não passaram por uma qualificação adequada.
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