Transição energética: agronegócio brasileiro se prepara para os tratores elétricos
Equipamento vai trabalhar nas plantações, representando redução de custos, em comparação ao modelo a diesel
A transição energética está chegando ao campo. As fabricantes de equipamentos agrícolas vêm desenvolvendo tratores com motorização elétrica que, em breve, começarão a trabalhar nas lavouras, beneficiando o agronegócio, setor que responde por 25% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Em 2022, a New Holland, empresa do conglomerado CNH Industrial, apresentou o protótipo T4 Electric Power, trator totalmente elétrico com recursos autônomos, que deverá entrar em linha de montagem no fim do ano.
Europa e Estados Unidos serão os primeiros mercados atendidos, mas a tecnologia poderá desembarcar no Brasil em um prazo de dois anos.
“Dentro de suas políticas de ESG (ambiental, social e governança), os profissionais do agronegócio buscam a sustentabilidade com a diminuição da pegada de carbono”, afirma Flávio Mazetto, diretor de marketing de produto da New Holland Agriculture para a América Latina.
Ele explica que os produtores adotam duas formas de rentabilidade em suas propriedades: o aumento de produção na área disponível e a redução de custos.
Nesse contexto, a instalação de painéis fotovoltaicos e o uso de biogás para a geração de energia e, futuramente, a utilização de tratores movidos a bateria são soluções para deixar as fazendas autossustentáveis.
Autonomia variável
Por isso, a New Holland está preparando o terreno para esse momento e pretende oferecer seu produto sem demora. O T4 Electric Power é equipado com motor de 75 cv a 120 cv de potência e bateria de íon de lítio (similar à dos carros de passeio) de 110 kWh. O conjunto leva o veículo a 40 km/h de velocidade máxima.
“A autonomia do T4 dependerá muito da aplicação do usuário e das condições do solo onde será colocado. Mas a bateria tem alcance para um dia todo de jornada, com a recarga sendo feita à noite”, destaca Mazetto.
Segundo a fabricante, o T4 Electric Power é a solução ideal para operações de menor potência, como atividades agrícolas mistas, gado, pomares e aplicações especiais. “Nossos clientes querem adotar esse tipo de produto. Dessa forma, continuamos no trabalho de eletrificação agrícola com essa plataforma”, afirma Marc Kermisch, diretor-geral digital e de informação da CNH Industrial.
O tempo de desenvolvimento do T4 durou cinco anos e foi abreviado graças a uma decisão estratégica da CNH Industrial: a aquisição, em 2021, de parte da Monarch Tractor, empresa americana de tecnologia agrícola que acelerou os estudos em torno do protótipo.
Custo menor
Tal como acontece com os automóveis elétricos, o trator com o mesmo tipo de propulsão alivia o bolso do usuário na hora da manutenção. “A quantidade de peças é bem menor do que a de um trator a diesel”, revela Mazetto. “Além disso, o custo operacional é 90% inferior, porque ele não usa diesel e tem valores de revisão mais baixos.”
Outra vantagem da eletrificação dos tratores agrícolas é o silêncio de suas operações. O nível de ruído do T4 cai 90% e a vibração praticamente inexiste, melhorando o bem-estar do gado principalmente em áreas cercadas.
Os recursos autônomos também são destaque no T4, que possui sensores, câmeras e unidades de controle, permitindo que os agricultores ativem a máquina remotamente, por meio de aplicativo para smartphone.
Trator da cas
O desenvolvimento de um trator elétrico se estende à Case IH, outra marca da CNH Industrial. O representante da companhia chama-se Farmall 75C Electric, que entrega desempenho semelhante ao modelo a diesel, com tempo médio de operação de quatro horas e recarga rápida, além de custos de manutenção mais baixos.
De acordo com a Case IH, o trator utilitário é silencioso, confortável e com emissão zero. Oferece versatilidade para trabalhos como manutenção de vinhedos e gerenciamento de um pequeno rebanho. O 75C Electric estará disponível para encomendas a partir do primeiro trimestre de 2024.
Para Ricardo David, diretor da Elev, empresa de soluções integradas para a eletromobilidade, o agronegócio no Brasil tem muito a ganhar com a adoção de tratores elétricos nas fazendas.
“Uma das principais vantagens é a redução de custos nas planilhas dos produtores rurais”, afirma. “Os profissionais da área já utilizam automóveis e caminhões elétricos nas propriedades. Seguramente, o próximo passo será incorporar os tratores com essa tecnologia em suas jornadas diárias.”
David destaca outro ponto positivo do equipamento. “Nos Estados Unidos, tratores elétricos, como o Monarch Tractor MK-V, servem também como geradores portáteis em períodos de queimada”, salienta.
Empresa brasileira lançará modelo em 2024
O agronegócio nacional não terá espaço reservado apenas aos tratores elétricos importados. A Yak, empresa sediada em Joinville (SC), também está desenvolvendo esse tipo de equipamento para trabalhar nos campos do Brasil.
“Quando a Yak nasceu, já tínhamos o pensamento de entrar no agronegócio com tratores 100% elétricos. Depois de alguns anos de evolução da tecnologia, estamos prontos para dar esse passo importante”, afirma João Ozório, fundador e chefe de design da Yak.
Segundo Ozório, o mercado conhecerá o primeiro produto do portfólio da Yak em 2024. “Com bateria de 25 kWh, o nosso trator apresentará autonomia de cinco a dez horas”, diz.
Embora não revele o preço do modelo, Ozório garante que a economia financeira proporcionada pelo trator elétrico da Yak será de aproximadamente 70%, em comparação a uma máquina movida a diesel.
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