Fundada em 1984, a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) não se envolve em debates políticos sobre a indústria automotiva. Entretanto, está sempre aberta a dar embasamento técnico que possa colaborar com todas as questões do setor, como a mobilidade elétrica.
Em entrevista ao Mobilidade, o diretor de eletromobilidade da entidade, Gustavo Noronha, acredita que o biocombustível é, hoje, a melhor solução para a descarbonização do setor. Para ele, porém, isso não significa que as demais tecnologias devem ser descartadas. Ao contrário, todas precisam ser estudadas.
Como a AEA avalia a eletromobilidade no Brasil?
Gustavo Noronha: Tenho uma visão otimista sobre o crescimento da eletromobilidade no País. Mas é preciso entender que o veículo movido 100% a bateria é apenas uma das opções de um espectro bem amplo de soluções que envolvem a mobilidade. O biocombustível é outra possibilidade bastante viável, visando a descarbonização dos processos da indústria nacional.
O biocombustível é mais adequado para a realidade brasileira?
Noronha: O biocombustível está mais próximo do mundo ideal, embora seja difícil classificar se um é melhor que outro. O motor híbrido flex é um exemplo de como essa tecnologia funciona bem na mobilidade elétrica. O Brasil é privilegiado por ter matriz energética limpa e renovável e pode ser um protagonista global quando o assunto é redução nas emissões de gases de efeito estufa.
Mas as montadoras que já apostam no carro elétrico vão aceitar investir também em motores biocombustíveis?
Noronha: Cada fabricante terá de fazer a análise do que é melhor para ela e esse movimento tem sido forte no Brasil. A AEA acredita que as soluções desse momento crucial da descarbonização vão coexistir no País. Em vários países, existe somente a tecnologia do motor elétrico em desenvolvimento. Repito: aqui, temos outras opções possíveis.
A associação acredita, então, que seria melhor o País investir mais no desenvolvimento do biocombustível?
Noronha: A AEA defende que todas as possibilidades de um mundo mais verde devem ser consideradas. Existem, também, estudos sobre o hidrogênio verde com gerador de energia e as células de combustível, que, futuramente, podem se mostrar como soluções em prol da mobilidade. A eletrificação passa por diversas tecnologias, que precisam ser discutidas.
De que forma a AEA recebeu a recente decisão do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) que reduziu, em média, 30% a autonomia informada dos veículos elétricos vendidos no Brasil?
Noronha: É difícil avaliar a decisão do Inmetro, porque desconhecemos os critérios que o órgão utilizou para tomar a decisão. Acredito que ele utilizou algum estudo, mas não sabemos qual é. A AEA não costuma discutir esse tipo de resolução, embora julgue importante existir uma proximidade entre a entidade e o governo federal. Felizmente, já estamos ouvindo dele termos como biocombustível, matriz elétrica e meio ambiente. É um bom sinal.
A autonomia, aliás, é um dos temores para o consumidor adquirir um carro elétrico. A seu ver, há outros desafios que precisam ser superados?
Noronha: A redução do preço dos modelos 0-km é um deles e vem impedindo a disseminação ainda maior desse tipo de veículo no Brasil. Embora o consumidor esteja cada vez mais consciente de como usar o automóvel movido a bateria, falta conhecimento técnico do uso e da manutenção dele.
A AEA pode colaborar nesse sentido?
Noronha: Com certeza. A entidade é muito respeitada e atua como um depositário de conhecimento técnico sobre tudo que envolveu o universo automotivo e queremos compartilhar essas informações. Buscamos promover eventos e seminários e atuar ao lado do Governo, da indústria e da academia para dar o suporte necessário.
A evolução da infraestrutura de recarga também é um desafio atual?
Noronha: Sim, mas os investimentos estão em andamento. Veja: na medida que uma política de mobilidade elétrica se desenvolve, o número de eletropostos cresce consideravelmente. Isso é uma consequência e não a raiz do problema.
Para saber mais sobre o assunto, acesse o canal Planeta Elétrico.
A Associação Brasileira de Engenharia Automotiva tem 82 associados e promove discussões estratégicas sobre todos os temas que cercam a engenharia automotiva nacional, com envolvimento da indústria, do governo, do meio acadêmico e de pesquisa, entidades internacionais e sociedade em geral.