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“Em 2022, setor vai ter maior previsibilidade”

Por: Tião Oliveira . 19/01/2022

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“Em 2022, setor vai ter maior previsibilidade”

Além de retomar a produção local do Evoque, Jaguar Land Rover trará novos modelos ao País

7 minutos, 54 segundos de leitura

19/01/2022

Divanildo Albuquerque diretor-geral da Jaguar Land Rover
Divanildo Albuquerque, diretor-geral da Jaguar Land Rover, diz que o risco de falta de peças vai cair no final do ano. Foto: Divulgação Land Rover

Divanildo Albuquerque é um gentleman. Ele fala de forma pausada, em tom baixo e mirando os olhos do interlocutor. Assim, o cargo de diretor-geral da Jaguar Land Rover no Brasil, que ocupa desde 2018, ano do 70.º aniversário do Land Rover Série 1, que deu origem ao Defender e à companhia, parece ter sido feito sob medida para o executivo. O recifense ingressou no setor de veículos na GM.

Passou pela International (de caminhões), Toyota e Lexus até chegar, em 2011, ao grupo britânico. Albuquerque, que comemora a volta da produção do Range Rover Evoque na fábrica de Itatiaia (RJ) e diz que vai torcer para o Náutico subir à primeira divisão do Campeonato Brasileiro em 2022, falou ao Estadão por chamada de vídeo.

Como foi o ano de 2021 para a Jaguar Land Rover no Brasil?

Divanildo Albuquerque: Foi ano desafiador para todos, mas tivemos conquistas, e é importante a gente frisar isso. A Jaguar Land Rover confirmou seu compromisso com o Brasil.

Estamos retomando a produção do novo Range Rover Evoque, que se junta ao Discovery Sport na nossa fábrica de Itatiaia (RJ). Isso contribuiu para a manutenção de empregos, Lançamos a Defender 90 e a versão especial Onçafari do modelo, que consolida nossa parceria para preservar as onças no Pantanal.

São 25 unidades, sendo que cada uma tem o nome de uma das ondas que são monitoradas. Os clientes que compraram esses carros contribuíram com o projeto. O grupo também lançou o “Reimagire”, que aposta no conceito de luxo moderno. Com isso, vamos oferecer experiências exclusivas, únicas, aos nossos clientes.

Ao longo deste ano, vamos falar mais sobre isso. Em 2022, vamos lançar no mercado brasileiro a nova Range Rover, que é um ícone.

O que o sr. fez para convencer a matriz a investir no Brasil em um momento tão complicado?

Albuquerque: Nós competimos com outros países dentro da marca. Mas o Brasil é um mercado estratégico, de grande relevância. O País chegou a ser o quarto maior do mundo em veículos novos e está entre os três, quatro principais em seminovos.

Portanto, nosso pensamento é de longo prazo. A retomada da produção do Evoque segue essa lógica. Assim, a estratégia para convencer a matriz são os planos de longo prazo.

Com a redução da produção, sobretudo por causa da falta de peças, houve fila de espera?

Albuquerque: Obviamente, esse não é um “privilégio” nosso. Houve falhas na cadeia de suprimentos e, sobretudo, falta de chips. Então, a demanda foi superior à nossa capacidade de produção. Mas estamos fazendo de tudo para atender nossos clientes e entregar veículos no timing correto. Esse é um desafio no mundo todo.

Em 2022, os problemas logísticos e da cadeia de suprimentos vão continuar. Porém, no fim do ano isso deve começar a melhorar. Seja como for, em 2022 o setor vai ter maior previsibilidade. Ou seja, a situação está melhor que a de 2021, quando tudo estava muito mais nebuloso.

A eletrificação é um processo inexorável. Quando a venda de eletrificados vai ser relevante no Brasil?

Albuquerque: A eletrificação é uma realidade. Evidentemente, estamos falando de carros 100% elétricos, híbridos e que têm algum nível de eletrificação. E a relevância desse setor só vai crescer.

Em relação a datas, é difícil dizer. Isso depende muito do consumidor e também da oferta de infraestrutura. A Jaguar já anunciou que será uma marca 100% elétrica (até 2025).

A Land Rover também está ficando cada vez mais eletrificada (a meta para 2030 é chegar a 60% dos produtos vendidos no mundo). Acabamos de lançar o Range Rover Sport eletrificado no Brasil. O novo Range Rover, que anunciamos no ano passado, terá versão 100% elétrica por volta de 2024. Acreditamos que essa solução vai ser cada vez mais relevante, inclusive no Brasil.

“A pandemia trouxe grandes reflexões sobre aproveitar a vida. Creio que muitos clientes se sentiram motivados a comprar carros.” Foto: Divulgação Land Rover

Quais são as metas da Jaguar Land Rover para 2022 e o que será feito para alcança-las?

Albuquerque: Em primeiro lugar, vamos consolidar a reestruturação na fábrica, que inclui ajustes para a produção do novo Evoque. Também vamos trabalhar na nossa clínica de restauração. Oferecemos a oportunidade de o cliente reformar completamente qualquer carro da marca.

O projeto começou com um Defender de 1996, que foi totalmente refeito. O lançamento da nova Range Rover vai ser no primeiro semestre e deve coroar a mudança do conceito de design da Land Rover. Também vamos consolidar nossa posição em relação à eletrificação, com o lançamento da versão Black do I-Pace (SUV 100% elétrico da Jaguar).

Outras estreias importantes serão o Defender 130 e a versão a diesel do Defender 110, que tem motor muito eficiente.

O novo Range Rover tem desenho muito diferente da média. Há risco de o consumidor rejeitar o produto?

Albuquerque: Quando a gente lançou o Evoque (em 2011), ele tinha um visual inovador e muito à frente do seu tempo. Por isso, permanece atual até hoje. O I-Pace também era um carro à frente do seu tempo quando foi lançado (em 2018) e inaugurou o segmento de SUVs 100% elétricos.

O Range Rover é um ícone, que lança tendências e que sempre foi precursor, um desbravador. Não quero falar muito a respeito do novo modelo, mas ele tem sido muito bem recebido pelo mercado. Mais uma vez, vamos estar na vanguarda. No Brasil, já há até reservas antes mesmo de a gente anunciar o lançamento.

Não vou revelar volumes, mas o número de interessados supera o de vendas do modelo anterior em outros anos.

O sr. dirige uma companhia que vende produtos de alto luxo, que têm tíquete alto. Qual é a estratégia para vender esse tipo de produto, que é bem diferente dos modelos de massa?

Albuquerque: Quem compra um Jaguar ou um Land Rover tem a possibilidade de ter outros modelos. Mas, muitas vezes, o nosso é o carro principal. Eles são confortáveis, e, no caso da Land Rover, estão preparados não só para a cidade como também para chegar a lugares aonde vários outros não conseguem ir.

Estamos muito bem posicionados. No caso da Jaguar, há a ótima experiência, o design refinado e a exclusividade. Ou seja, trata-se de um segmento que está nesse caminho do luxo moderno. Essa experiência internacional é um dos motivos que fazem que o cliente nos procure e se sinta bem com nossos veículos.

E vamos oferecer experiências únicas no novo conceito de luxo moderno.

Durante o pico da pandemia, cresceram as vendas de itens de luxo. Isso aconteceu nas marcas?

Albuquerque: A pandemia trouxe grandes reflexões sobre aproveitar melhor a vida e as conquistas. Isso tem muito a ver com o DNA de nossas marcas. Creio que muitos clientes se sentiram motivados a comprar carros, sim.

Seja um mais confortável, como os da Jaguar, ou que tenham ligação maior com a natureza, como os da Land Rover. Por exemplo, as vendas do esportivo F-Type cresceram bem, sobretudo o conversível.

O que o governo deveria fazer para fomentar o setor e desenvolver a economia?

Albuquerque: Certamente, o aumento dos juros tem reflexo na questão financeira. A volatilidade da moeda também é um fator que impacta nosso negócio, pois boa parte dos carros são importados.

Então, 2022 será um ano que vai requerer atenção. Estamos cautelosamente otimistas. Porém, como eu havia dito em relação aos investimentos, estamos no Brasil pensando no longo prazo. E haverá mais estabilidade agora e em 2023.

O que a gente pode fazer de melhor é lançar novos produtos, que sejam aderentes ao mercado e prestar a melhor assistência. Além disso, vamos focar a oferta de experiências únicas.

“Nós competimos com outros países dentro da marca. Mas o Brasil é um mercado estratégico, de grande relevância.” Foto: Divulgação Land Rover

Há alguma decisão que o sr. tomou e, se pudesse, mudaria?

Albuquerque: Se a pergunta tratasse do âmbito pessoal, eu responderia facilmente. Tanto 2020 quanto 2021 foram anos desafiadores para quem toma decisão. Provavelmente, eu errei muito, mas, certamente, também acertei muito.

As vendas das duas marcas vão crescer em 2022?

Albuquerque: Nosso crescimento de vendas será similar ao do mercado. No momento, estamos positivamente cautelosos. Até porque 2022 será um “ano inteiro” de vendas para os veículos que nós montamos.

Em 2021, foi preciso fazer atualizações do L6 para o L7 (novas regras de controle de emissões, em vigor desde 1º de janeiro). Teremos lançamentos importantes, como a Range Rover, Defender 110 e novas versões e opções de motor. Mas não visamos grandes volumes.

Você está no setor de veículos há mais de 25 anos. Se pudesse mandar uma mensagem para o Divanildo daquela época, qual seria?

Albuquerque: A principal é manter a calma e a paciência, os ouvidos e os olhos abertos. O tempo vai nos ensinando, amadurecendo. Aprendo muito com meu time.

Então, eu diria que é preciso se cercar de pessoas boas e que tenham algo a agregar. A gente tem muito a aprender com o outro.

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