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“O ônibus pode ser a salvação do turismo no Brasil”

Por: Tião Oliveira . 22/01/2022

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“O ônibus pode ser a salvação do turismo no Brasil”

Buser transportou 900 mil passageiros em dezembro de 2021 e aposta na ampliação do mercado interno

8 minutos, 34 segundos de leitura

22/01/2022

Por: Tião Oliveira

Marcelo Vasconcellos
Cofundador da Buser, plataforma eletrônica de venda de passagens de ônibus, Marcelo Vasconcellos antes atuava no mercado financeiro. Foto: Divulgação Buser

Em junho de 2017, o economista Marcelo Vasconcellos criou, com o amigo Marcelo Abritta, uma página no Facebook para oferecer bilhetes de ônibus rodoviários por meio de fretamento colaborativo.

Em menos de 30 dias, o perfil tinha 10 mil seguidores. Assim surgiu a Buser, plataforma eletrônica que trabalha em parceira com empresas de ônibus que atendem a mais de 700 destinos em todos os Estados do Brasil.

Os principais atrativos são os preços até 50% mais baixos do que os praticados pelas chamadas viações tradicionais e a facilidade do processo de compra, realizado de forma 100% digital. Em entrevista feita por meio de chamada de vídeo, o executivo falou ao Estadão sobre os avanços do setor e o que precisa ser feito para ampliar a oferta de transporte coletivo no País.

Como foi o ano de 2021 para a Buser?

Marcelo Vasconcellos: A Buser é uma plataforma que conecta pessoas que querem viajar para o mesmo destino com as empresas de fretamento. Funciona como se fosse um aplicativo para chamar carro, mas do setor de ônibus para viagens intermunicipais e interestaduais.

Assim, temos parceiros que formam uma grande rede e, com isso, a gente consegue atender muitas cidades e pessoas por um preço até 50% mais barato quando comparado ao dos bilhetes nas rodoviárias. Por causa dessa proposta clara, crescemos muito bem em 2021, mesmo com os percalços gerados pela covid-19.

Seja como for, o início do ano foi bem difícil por causa da segunda onda (de infecções). Porém, com o avanço da vacinação as pessoas se sentiram confortáveis para viajar, rever os amigos e patentes, bem como voltar a fazer turismo dentro do Brasil. Em dezembro de 2021, crescemos três vezes em relação a dezembro de 2020 em número de passageiros, para 900 mil pessoas. Oferecemos um serviço melhor, mais barato, com qualidade e segurança. Além disso, com a alta do dólar e alguns países limitando o acesso, o turismo dentro do Brasil cresceu muito.

A Buser possibilitou que muitos brasileiros pudessem viajar no fim do ano. E a gente fica muito contente porque o turismo está voltando e as pessoas voltaram a ter confiança para sair de casa, porque elas queriam fazer isso, mas podiam. A gente espera que 2022 seja melhor ainda. Isso porque o brasileiro redescobriu o turismo interno.

O Brasil tem muitas belezas e lugares bacanas para conhecer e revê. Então, isso tem contribuído para a retomada econômica do País.
 
Você acredita que haverá um boom no número de viagens de turismo?

Vasconcellos: Diferentemente da segunda onda (de contaminações por covid), no início de 2021, neste ano o número de mortes não está acompanhando a alta do número de casos. Isso prova que a vacina funciona e dá tranquilidade para as pessoas viajarem. Por isso, elas devem viajar ainda mais em 2022.

Assim, será um ano muito bom para o turismo. Falo muito de turismo porque é esse setor que gera os picos de demanda. As viagens a trabalho e para visitar parentes crescem em um nível pouco menor, mas também estão em alta. No caso do turismo, há uma demanda que ficou reprimida por causa da pandemia.

Seja como for, em 2022 as viagens a trabalho e para turismo vão crescer muito. E depois que passar essa onda o mercado vai voltar ainda mais forte.
 
A alta dos preços das aéreas também ajudou a vender mais bilhetes de ônibus?

Vasconcellos: Sim. É importante dizer que a inflação também aconteceu no setor rodoviário. Porém, a concorrência criada pela Buser e por outros apps e sites possibilitou que os preços não subissem tanto quanto na aviação.

A concorrência coloca o consumidor em primeiro lugar. Assim, ajuda a manter os preços baixos e a melhorar a qualidade do serviço. Com a alta do preços dos bilhetes aéreos, o ônibus passou a ser a opção viável para muita gente.

O que é preciso fazer para estimular o setor?

Vasconcellos: Há dois mercados separados. O setor de fretamento, que é onde a Buser atua, sofre por causa de regulamentações para criar reserva de mercado. É o caso do circuito fechado, lei que obriga que o mesmo grupo compre bilhetes de ida e volta. Isso não tem o menor cabimento.

No caso do PL 3.819/2020, o texto do Senado era muito ruim. Havia coisas que, na prática, proibiram os apps de ônibus de funcionar. Porém, após grande pressão na Câmara, essas proibições foram descartadas. Seja como for, havia um movimento de abertura das linhas regulares. São as linhas operadas por empresas que vendem bilhetes em rodoviárias. Desde 2014 o governo vem tentando abrir o setor.

Nesse caso, o texto trouxe algumas dificuldades. Agora, para que o órgão regulador libere a abertura de uma nova linha o interessado tem de mostrar os impactos econômicos que as outras empresas vão sofrer. Ou seja, perde o foco no consumidor e visa saber se vai ser bom ou ruim para as empresas que já estão consolidadas no mercado. De qualquer modo, a gente acredita que isso vai melhorar.

Os próprios órgãos reguladores estão chegando à conclusão de que a concorrência é benéfica não só para o País e para os consumidores, mas também para as próprias empresas. Creio que seja preciso haver regulamentação. Porém, quanto mais concorrência houver, melhor será para o consumidor.

Como ampliar a oferta do serviço e melhorar a qualidade?

Em tese, a solução do problema é bem simples, o que não quer dizer que seja fácil. A lei do circuito fechado é o principal impeditivo para aumentar a concorrência.

O ideal é que hajam regras focadas na segurança e na prestação do serviço ao usuário. É preciso focar o consumidor. No fim, é ele quem paga a conta. Seja como for, a população está cada vez mais exigente e bem informada.
 
A Buser atua com as empresas parceiras para garantir a segurança dos usuários, inclusive do ponto de vista sanitário?

Vasconcellos: A gente aprendeu muita coisa durante a pandemia. Várias delas vieram para ficar. É o caso do maior cuidado com a higienização dos ônibus, por exemplo. Estamos trabalhando forte para padronizar o serviço e vamos investir ainda mais nos pontos de embarque.

Com a alta na demanda, percebemos que alguns deles precisam de ajustes para melhorar a experiência do passageiro. São melhorias contínuas que a gente vem fazendo e vai continuar implementando em 2022. É primordial mantermos o preço baixo, mas também temos de oferecer um serviço com segurança e qualidade cada vez melhor.

O que haverá de novidade em 2022?

Vasconcellos: No meio do ano passado a gente recebeu um aporte de R$ 700 milhões, que serão utilizados para expandir a operação para todo o Brasil. Além disso, vamos fazer pontos de embarque nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Vamos melhorar a experiência do embarque e do desembarque.

Também estamos mirando outras frentes de negócio, como o transporte de encomendas. O bagageiro do ônibus, que é muito grande, fica vazio em 90% das viagens.

Ao aumentar a receita desses ônibus, no fim do dia vamos poder baixar ainda mais o valor que o passageiro paga pelo bilhete. É um efeito em cascata. Quanto mais barato forem as passagens, mais pessoas vão viajar. E quanto mais pessoas viajarem, mais barato ficará o serviço.

 
A Buser tem planos de expansão para outros mercados fora do Brasil?

Vasconcellos: Em 2022, vamos celebrar cinco anos de operação. Em dezembro de 2021, transportamos quase 900 mil pessoas. Isso prova que as pessoas estão viajando mais e que gostam do serviço. Também estão indicando para parentes e amigos, Já temos mais de 6 milhões de pessoas cadastradas no app. É legal ver um negócio que começou tão pequeno chegar onde está hoje, mas com ainda muito espaço para crescer.

Estamos em todos os Estados do Brasil. Em alguns temos o modelo de marketplace. Ou seja, vendemos bilhetes das empresas de rodoviária. Como somos focados no consumidor, esse movimento faz muito sentido. O consumidor vai contar com maior oferta e mais empresas prestando serviço.

Assim, vamos conseguir chegar em mais lugares. Estamos em mais de 700 cidades, mas o Brasil tem 5.500 municípios. Então, estamos em pouco mais de 10% do País. Ou seja, ainda há muito espaço para crescer. Por isso, penso que é cedo para pensar em outros mercados, mesmo na América Latina. Enquanto a gente não estiver em todo o País, não faz muito sentido olhar para fora. Nosso foco continua sendo interno. Ao menos por enquanto.

 
Há alguma decisão que você tomou e que mudaria se pudesse?

Vasconcellos: Creio que não. Tem coisas que talvez a gente pudesse fazer de forma mais rápida. Com a segunda onda, diminuímos bastante a oferta do serviço e quantidade de ônibus. O mercado começou a dar sinais de que iria voltar, mas a gente continuou contido. Então, a única coisa que poderia ter mudado é isso: ter escutado melhor o mercado e aumentado a oferta antes. A gente só voltou mais forte em julho, agosto.

Seja como for, quando você está no olho do furacão, a primeira preocupação é com a saúde. Então, no fim a decisão foi acertada.


Que mensagem você mandaria para o Marcelo garoto que estava se formando na UFMG?

Vasconcellos: A mensagem seria: “Faça tudo que puder para ajudar os outros. A recompensa vem do mesmo tamanho ou maior. Quanto mais você puder impactar  positivamente a vida das pessoas, mais retribuição você vai ter. E não apenas na questão pessoal, mas também no aspecto financeiro. O Brasil tem muitos problemas para serem resolvidos. E quanto maior forem os problemas, maiores serão as recompensas após criarmos as soluções.”

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