"O Brasil é competitivo apenas da porta da fábrica para dentro"

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“O Brasil é competitivo apenas da porta da fábrica para dentro”, diz presidente da Stellantis

Por: Hairton Ponciano Voz . 08/05/2022
Mobilidade para quê?

“O Brasil é competitivo apenas da porta da fábrica para dentro”, diz presidente da Stellantis

Questões ligadas à infraestrutura e burocracia impedem crescimento no País, dizem executivos da indústria automotiva

3 minutos, 24 segundos de leitura

08/05/2022

Por: Hairton Ponciano Voz

Fábrica da Stellantis que produz modelos da Fiat e da Jeep é a única montadora do Nordeste do País. Foto: Stellantis/Divulgação

De acordo com o presidente da Stellantis para a América do Sul (grupo que reúne marcas como Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e RAM), Antonio Filosa, a indústria brasileira é competitiva com as similares de outros países “da porta para dentro”, mas perde competitividade “do portão para fora”, numa referência a problemas de infraestrutura de portos, aeroportos e estradas, além de carga tributária excessiva, entre outros pontos. O executivo fez a declaração durante o painel “Competitividade da Indústria Automotiva no Brasil”. Ele participou do debate ao lado do presidente do Sindipeças, entidade que reúne as fabricantes de autopeças, Cláudio Sahad, e do ex-presidente da Anfavea (associação das montadoras), Luiz Carlos Moraes – que participou do seminário no final de abril ainda na condição de presidente (a entidade oficializou a troca de diretoria no dia 2 deste mês).

“Em nossas fábricas no Brasil, temos os mesmos equipamentos e a mesma qualidade de mão de obra de outros países”, garante Filosa. No entanto, ele complementa que problemas alheios à atividade produtiva no País causam perda de competitividade para as montadoras a partir do momento em que os automóveis cruzam os muros das fábricas.

Além de burocracia e das condições precárias nas estradas (que prejudicam o abastecimento de componentes e o escoamento da produção), o executivo aponta também a falta de “isonomia territorial” como um problema. Filosa se refere ao fato de que em algumas regiões as condições rodoviárias são bem piores do que em outras. “É preciso promover uma descentralização, para equalizar as diferenças entre as regiões e atrair investimentos”, diz. O executivo cita o exemplo da fábrica da Stellantis em Goiana (PE), que produz os modelos da Jeep, além da picape Fiat Toro. Segundo ele, o investimento no local resultou em aumento de oportunidades para os moradores da região, além de melhoria de benefícios e salários e queda no índice de criminalidade, que segundo ele foi reduzido em 30%.

De acordo com Filosa, a descentralização melhora a economia da região onde a empresa se instala, com benefícios econômicos e sociais aos moradores. Atualmente, a fábrica da Stellantis em Goiana é a única montadora de automóveis localizada no Nordeste, após o fechamento da fábrica da Ford em Camaçari (BA) e da Troller em Horizonte (CE). A Fiat (que hoje também faz parte da Stellantis) já havia feito um movimento semelhante nos anos 70, ao se instalar em Minas Gerais, e não na região do ABC paulista, considerada o berço da indústria automotiva no Brasil.

Burocracia e Globalização

O presidente do Sindipeças, Cláudio Sahad, garante que “a burocracia é maior do que a carga tributária”: “Não é possível gastar mais de dez vezes o tempo necessário apenas para apurar impostos”, diz, referindo-se a uma comparação com uma empresa do mesmo ramo em outros países. De acordo com Sahad, enquanto no Brasil há empresas com até cem pessoas trabalhando nos setores fiscal e tributário, no exterior o serviço é realizado por apenas dois funcionários.

Produção local de itens como semicondutores pode reduzir dependência das fabricantes locais

O ex-presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, alertou para o fato de que a pandemia mostrou “quão frágil” é a logística da cadeia automotiva, e disse que é preciso “revisitar” o tema globalização. “Não sou contra a globalização, mas é preciso olhar para a questão geopolítica.” Ele cita que efeitos climáticos localizados, que resultaram em incêndios, falta de água e nevascas, comprometeram a produção global. “É preciso estudar para ver o que faz sentido economicamente (de nacionalizar a produção) para mitigar esses problemas. A pandemia trouxe o problema, mas estou olhando como uma oportunidade”, declarou, ao mencionar a possibilidade de trazer para o País fornecedores de semicondutores, por exemplo.

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