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Por que elaborar política de gênero para a mobilidade urbana?
A insegurança para as mulheres e o preconceito sofrido pela população LGBTQIA+ levantam a demanda de um planejamento urbano para todos os públicos
2 minutos, 52 segundos de leitura
31/03/2020
Existe a ideia de que o planejamento urbano é feito igualmente para todo mundo; porém, essa teoria é muito diferente da prática. Para começar, as mulheres andam mais de transporte coletivo que os homens. De acordo com a pesquisa Informes Urbanos (2016), do Metrô de São Paulo, 74,6% dos deslocamentos por transporte público ou a pé são realizados por mulheres; enquanto isso, a parcela de homens é de 62%.
Para entender a relação entre gênero e mobilidade urbana, é preciso lembrar que as mulheres têm jornada dupla de trabalho. Por semana, são 3,1 horas a mais do que a dos homens, considerando o emprego e os cuidados da casa. A informação é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019.
Isso acontece porque as mulheres ainda ficam com a maior parte dos afazeres domésticos. Segundo o levantamento da PNAD Contínua, 92,2% das mulheres realizam as tarefas domésticas, enquanto no que se refere aos homens a porcentagem cai para 78,2%.
Esse contexto é refletido na quantidade de deslocamentos diários que a população feminina precisa fazer. Entre trabalhar, passar no supermercado, buscar as crianças na escola, dentre outras atribuições, o trajeto feminino passa a ser maior e, com isso, demanda a criação de uma política de gênero para a mobilidade urbana.
Perfil socioeconômico e insegurança no transporte
Quando se trata do uso do transporte público, é preciso abordar, além do gênero, a raça e a classe social. A pesquisadora Haydée Svab, em sua tese sobre políticas de gênero para a mobilidade urbana, evidenciou que o grau de instrução e filhos entre 5 e 9 anos são os fatores que mais influenciam na quantidade de deslocamentos diários da mulher.
Com o menor poder aquisitivo, as opções de transporte diminuem e a qualidade de vida, também. Em Recife, o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil) realizou um estudo com mulheres moradoras de bairros periféricos e municípios da região metropolitana da capital. Os resultados apontaram para situações como oferta insuficiente de serviços públicos e baixa qualidade de infraestrutura, o que leva a uma sensação de insegurança.
Se a violência é um medo constante nas ruas, o uso de aplicativos de transporte também é encarado com ressalvas, já que muitas pessoas denunciam o preconceito dos próprios motoristas. Uma solução paliativa para o problema foi lançada pelo empresário mineiro Thiago Vilas Boas, fundador do aplicativo Homo Driver. A startup surgiu para atender e empregar pessoas da comunidade LGBTQIA+, mas já abriu vagas para outros públicos, que passam por um treinamento rigoroso.
A pesquisa do ITDP Brasil indica que o planejamento urbano pode melhorar o investimento em mobilidade por bicicleta, segurança nas vias públicas, transporte público e infraestrutura urbana, além de ações contra a violência de gênero.
Medidas como o aplicativo Homo Driver e aplicativos de transporte voltado para mulheres já são uma realidade, mas é preciso ir além. A fim de desenvolver políticas públicas, é preciso entender quem ocupa esses espaços e quais são as suas maiores necessidades.
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