Como identificar, denunciar e combater o racismo
A população brasileira ainda não se deu conta de como as diversas camadas do racismo afetam as estruturas da sociedade
Quanta diversidade existe nos lugares em que você frequenta? Quantos negros estão em volta de você no seu dia a dia e qual a posição eles ocupam nesses espaços? Esse exercício é uma maneira de sensibilizar o olhar para identificar a reprodução da desigualdade racial nas organizações, nas empresas e na mídia.
A Constituição Federal e a Declaração Universal de Direitos Humanos determinam a garantia da dignidade da pessoa humana e a promoção do bem-estar de todos, independentemente de raça, cor, ou religião. Já a lei 7.716, que torna o racismo crime, completou 33 anos em janeiro de 2022, mas, apesar da legislação vigente, o combate ainda não é eficaz.
A sociedade brasileira foi construída a partir de privilégios, ou seja, uma pequena parcela da sociedade deteve o poder de decidir políticas e o acesso a determinados espaços. Entender isso é parte fundamental para o combate ao racismo e a violência estrutural. Muitas das instituições que existem hoje tiveram início no fim do século 19 em meio ao processo de inicial de abolição da escravatura, e foram criadas por uma elite branca colonizadora. Essa elite determinou quais eram as regras para acessar esses lugares, isso se aplicou a tudo que você pode imaginar como espaço de poder, desde as universidades até a Presidência da República. Tudo foi pensado a partir da realidade de uma minoria e assim segue até os dias atuais.
O racismo é um sistema de opressão em que a cor da pele determina quais espaços uma pessoa pode acessar, quais trabalhos deve exercer, se é inteligente ou não, se tem direito a viver ou não
O racismo é um sistema de opressão em que a cor da pele determina quais espaços uma pessoa pode acessar, quais trabalhos deve exercer, se é inteligente ou não, se tem direito a viver ou não. Para além da injúria à pele, o racismo se estende a uma educação precarizada e escolas sucateadas, interfere na qualidade do alimento que chega à mesa e até no direito à cidade.
Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva, 56% dos negros (pretos e pardos) afirmam já terem se sentido socialmente menosprezado em algum momento. Os dados apontam ainda que 52% dos trabalhadores negros já sofreram alguma discriminação no ambiente de trabalho. Além disso, 54% dos 1630 entrevistados, em abril de 2021, acreditam que brasileiros não reagiriam bem diante de um chefe negro.
ENTENDA OS TERMOS
Racismo é o nome que se dá para a discriminação e preconceito de forma direta ou indireta contra um grupo de pessoas por causa de sua etnia, cultura, descendência e cor de pele. Ele se manifesta de diversas formas e todas elas devem ser combatidas por todos e todas
Racismo estrutural: está presente historicamente em todas as camadas e ambientes da sociedade e suas consequências são vistas como naturais — e jamais deveriam ser. Como ele se manifesta? Se há poucas pessoas (ou nenhuma) de origem negra ou indígena em poder, cargos de chefia e nas universidades, existe racismo estrutural.
Racismo institucional: funciona como um critério de tratamento discriminatório e, como todo tipo de racismo, alimenta a injustiça social. Pode ocorrer, por exemplo, em escolas, espaços de saúde ou na polícia, quando indivíduos agem de forma violenta ou negam direitos a pessoas não-brancas.
Racismo ambiental: está relacionado a questões territoriais. Os mais afetados por ele no Brasil são os indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais; além de populações periféricas e faveladas e moradores de áreas de risco.
Racismo recreativo: quando a característica ou cultura preta é motivo de chacota ou apresentada de forma caricata.
Racismo reverso: não existe, porque não há escravização e marginalização de povos brancos por povos não brancos
Preconceito: pré-julgamento direcionado a pessoas consideradas diferentes pelo senso comum. Pode se manifestar por conta do gênero, orientação sexual, raça, classe social, deficiências etc.
Discriminação: dar um tratamento diferente a uma pessoa com base em características físicas, religiosas, econômicas e raciais
SOFRI RACISMO, O QUE EU FAÇO? DENUNCIE
*Disque 190, reúna as testemunhas, vídeos ou áudios (casa haja) e aguarde a chegada da polícia militar
*As denúncias de racismo podem ser registradas em qualquer delegacia e também nas especializadas em crimes raciais e de intolerância
*Registre boletim de ocorrência
*A denúncia tem de ser encaminhada para o Ministério Público que dará seguimento no processo criminal
ATENÇÃO: na internet, as pessoas se sentem mais seguras para repetir discurso de ódio. Mas há delegacias especializadas nos crimes cibernéticos. Nesse caso, reúna também as provas (prints, áudios e vídeos) e faça o boletim de ocorrência. É importante também denunciar o usuário para a própria rede social em que o ato foi praticado para a exclusão do perfil
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