Cria da Maré, Anielle Franco será ministra da Igualdade Racial no governo Lula
Cria da Maré, Anielle Franco será ministra da Igualdade Racial no governo Lula
Educadora, jornalista, escritora, feminista preta, mãe de meninas, doutoranda, diretora do Instituto Marielle Franco e irmã de Marielle”. É dessa forma que Anielle Franco se apresenta em seu perfil no Twitter. Ao já invejável currículo, ela acrescenta agora, aos 37 anos, o título de ministra da Igualdade Racial do novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Com reportagem de Roberta Jansen, O Estado de S. Paulo
O convite pegou todo mundo — e a própria Anielle — de surpresa. A feminista preta integrou o grupo técnico da transição sobre o tema mulheres e era cotada para assumir essa pasta. Um rearranjo nos planos ministeriais de Lula legou a Anielle um protagonismo maior na área racial. Não que a pauta fosse estranha a ela. Muito pelo contrário.
“Cria da Maré”, como gosta de dizer, se referindo ao conjunto de comunidades na zona norte do Rio onde nasceu, Anielle tornou-se uma voz importante na luta pelos direitos das mulheres negras e periféricas, sobretudo depois que assumiu a diretoria do Instituto Marielle Franco, criado logo após o assassinato da irmã vereadora, em 2018. Marielle foi brutalmente assassinada junto com o motorista Anderson Gomes, num crime político que segue sem resolução até hoje.
Quando aceitou o convite para integrar a equipe de transição do novo governo, Anielle escreveu no Twitter:
“Importante ressaltar que não adentro a equipe de transição sozinha, chego com o legado de Marielle e com a trajetória das mulheres negras. Isso mostra que somos muito maiores que qualquer discurso de ódio, desinformação e violências. Também é importante que nós, mulheres e pessoas negras, estejamos em todos os espaços de decisão de forma transversal. Somos qualificadas para estarmos em todos os ministérios e secretarias Vamos construir o Brasil do futuro, da esperança para todas, todes e todos.”
Nascida em 1985 no Complexo da Maré, Anielle começou a jogar vôlei com apenas oito anos de idade e acabou se tornando jogadora profissional, passando por times como Vasco e Flamengo. Por sua atuação, ela acabou por ganhar uma bolsa para estudar nos Estados Unidos, quando tinha apenas 16 anos. Com as bolsas esportivas, a jovem estudou em diversas escolas americanas, como a Navarro College, a Luisiana Tech University, a North Carolina Central University e na Florida A&M University – as duas últimas consideradas instituições historicamente negras dos EUA.
De acordo com seu perfil na Wikipedia, por conta dessa formação, “Anielle foi influenciada desde o início a pensar de maneira antirracista e a se entender mais enquanto mulher negra. Lá ela conheceu o trabalho de pensadores negros como Angela Davis, Martin Luther King e Malcolm X”.
Anielle se formou em jornalismo pela Universidade do Estado da Carolina do Norte, nos EUA, e em inglês e literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Ela fez ainda mestrado em relações étnicos-raciais pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ).
Em 2016, Anielle trabalhava no Rio como professora de inglês e começou a ajudar a irmã mais velha, Marielle Franco, que acabara de se eleger vereadora pelo PSOL/RJ, na elaboração dos discursos políticos. O assassinato de Marielle dois anos depois virou a vida de Anielle de cabeça para baixo. No mesmo ano do crime, ela criou o Instituto Marielle Franco, numa tentativa de dar continuidade à luta política, antirracista, feminista, pró-LGBTQIA+ e pró-direitos humanos que marcou o curto mandato da irmã.
À frente do instituto, ela já liderou iniciativas importantes, como o lançamento da Plataforma Antirracista nas Eleições, em julho de 2020, para apoiar candidaturas negras nas eleições municipais. Ela coordenou também uma pesquisa para mapear a violência política de raça e gênero no Brasil com o objetivo de fazer um retrato dos direitos políticos das mulheres negras no País.
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