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Doença cardiovascular mata mais mulheres pobres

Por: Estadão Conteúdo . 14/10/2022

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Doença cardiovascular mata mais mulheres pobres

Mortalidade nas classes mais baixas e entre pessoas com mais de 65 anos pode ser atribuída a desigualdades sociais; campanha busca conscientizar sobre riscos

4 minutos, 18 segundos de leitura

14/10/2022

Mortalidade nas classes mais baixas e entre pessoas com mais de 65 anos pode ser atribuída a desigualdades sociais; campanha busca conscientizar o público de todos os riscos. Foto ilustrativa: Getty Images

Nesta página, você fica sabendo que:

a cada seis minutos, uma brasileira morre vítima de doença cardiovascular
enfermidades matam mais mulheres do que todos os tipos de câncer somados
entre os fatores de risco estão gravidez e anticoncepcional
as mulheres não costumam dar importância aos sintomas
os casos têm aumentado entre jovens e quem está na pós-menopausa

Metade da mortalidade por doenças cardiovasculares antes dos 65 anos pode ser atribuída a desigualdades sociais, ligadas a fatores como alimentação inadequada, álcool, tabagismo, instabilidade econômica e falta de suporte social e acesso à saúde


Com reportagem de Raisa Toledo e Ana Lourenço , O Estado de S. Paulo

A cada seis minutos, uma brasileira morre vítima de doença cardiovascular. Essas enfermidades, incluindo AVC e enfarte, matam mais mulheres do que todos os tipos de câncer somados. Alguns fatores de risco específicos – como gravidez e anticoncepcional – influenciam. Somados a isso estão a menor representatividade em estudos clínicos e o menor acesso a exames que elevam o risco de subdiagnóstico.

Por causa disso, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) acaba de lançar um documento de alerta sobre o problema. No manifesto, a entidade propõe reduzir a mortalidade feminina decorrente de doenças cardiológicas em 30% até 2030. “Na mortalidade proporcional das mulheres (que considera todas as causas de morte), as doenças cardiovasculares têm proporção maior do que nos homens”, diz Glaucia Moraes de Oliveira, diretora da SBC. Entre brasileiras, essa taxa era de 30,4% em 2019, ante 26,4% entre homens. Segundo Glaucia, a prevalência das doenças cardiovasculares tem crescido entre jovens e mulheres no pós-menopausa.

Para frear esse avanço, uma das medidas é conscientizar as mulheres sobre uma rotina de exames periódicos, como na prevenção do câncer de mama e de útero. “Mulheres são subdiagnosticadas e subtratadas. Muitas vezes, não valorizam seus sintomas e não procuram médico.” Como política pública, recomenda-se incluir indicadores de saúde cardiovascular em programas de Assistência Primária à Saúde (APS), no atendimento pré-natal e na transição da menopausa.


FATORES DE RISCO

Fatores de risco tradicionais para doenças cardiovasculares são os mesmos para homens e mulheres. Alguns exemplos são hipertensão, diabete, obesidade, tabagismo, altos níveis de gordura no sangue e sedentarismo. Mas, para um diagnóstico mais preciso, é preciso considerar também fatores de risco específicos delas. Conforme Glaucia, o funcionamento hormonal é o que faz com que aspectos psicossociais sejam mais determinantes. “Os hormônios femininos agem em diversos receptores em que a testosterona não funciona. O estresse nas mulheres leva a maior taquicardia, mais consumo de oxigênio. As mulheres não têm muitas doenças obstrutivas crônicas, mas têm mais disfunção endotelial (membrana que reveste parte do coração e os vasos sanguíneos)”, explica.

Além disso, as coronárias (artérias que nutrem o músculo cardíaco) femininas são mais finas, o que eleva a tendência de bloqueios arteriais. Já a menopausa faz com que a fabricação de estrogênio diminua, fazendo com que o coração perca proteção natural.

E até a pobreza pesa mais para a mulher. A SBC estima que cerca de metade da mortalidade por doenças cardiovasculares antes dos 65 anos pode ser atribuída a desigualdades sociais, ligadas a fatores como alimentação inadequada, álcool, tabagismo, instabilidade econômica e falta de suporte social e acesso à saúde. Além disso, influencia negativamente o acúmulo de estresse e burnout, sobrecarga frequentemente relacionada ao papel social feminino e agravada na pandemia, com situações como o trabalho remoto e a suspensão de aulas presenciais.

Particularidades femininas — como gravidez e uso de anticoncepcional — e menor representatividade em estudos clínicos são fatores de risco específicos e elevam subdiagnóstico

“O que percebemos, principalmente nos últimos cinco anos, é um olhar voltado para mulheres que tratam mulheres”, diz Ieda Jatene, presidente da Sociedade de Cardiologia de São Paulo. Ela e mais dez cardiologistas do HCor, há um ano, se reúnem mensalmente para debater artigos e compartilhar informações. Agora, a ideia é transformar a unidade de medicina diagnóstica do HCor Cidade Jardim em um espaço voltado para a saúde feminina com atendimento inteiramente feito por mulheres. Segundo Salete Nacif, também do HCor, há relatos e evidências de que mulheres com doença cardiovascular, quando atendidas por mulheres, costumam ser menos negligenciadas nos seus sintomas.

ANIVERSÁRIO 2 VEZES NO ANO

A gerente de relacionamento com o cliente de um banco Bernadete Abi-Diwan, de 56 anos, viveu na prática os efeitos da falta de acompanhamento cardiológico. Há sete anos, conta que “nasceu de novo”, após descobrir uma obstrução arterial quase completa. “Hoje comemoro o aniversário duas vezes no ano”, diz ela, que mora em Belo Horizonte. O quadro permanece sem diagnóstico preciso. Não se sabe o que causou a obstrução de uma paciente sem histórico familiar de doença cardiovascular.


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