Educação financeira: menina de 15 anos fala de investimentos nas redes sociais
Será que não investir é cringe? Cresce o número de jovens da geração Z preocupados em aplicar suas economias
A rotina da Carol Rangel, de 15 anos, é bem parecida com a de qualquer outra adolescente: acorda cedo, se arruma para a escola, estuda, come e se diverte com os amigos e a família. No entanto, ela vai além. Apesar da pouca idade, dedica parte de seu tempo para investir suas economias e entender melhor o mundo das finanças. Tem até um perfil nas redes sociais onde partilha conhecimentos com outros jovens, o @meninainveste.
Em breve, Carol fará parte dos 26% dos investidores brasileiros que são da geração Z (16 a 25 anos), segundo o raio-x feito pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Um outro levantamento, da B3, mostrou que, de 2016 para cá, 500 mil pessoas dessa geração começaram a investir na bolsa de valores brasileira.
A jovem conta que tudo começou há pouco mais de um ano, em uma conversa com seu primo, quando ela descobriu que ele estava investindo dinheiro para se aposentar logo após os 30 anos. “Eu achei aquilo incrível, porque na minha cabeça, eu só conseguiria parar de trabalhar depois de anos e anos, já idosa”, relata. A partir daí, Carol começou a estudar o assunto, principalmente pela internet, seguindo a tendência de colegas de geração: para 40% desses jovens investidores, os canais digitais são os principais meios utilizados na busca por informação sobre o melhor produto para se investir, com destaque para 12% que coletam esses dados nos perfis de influenciadores digitais, de acordo com a Anbima.
Foi seguindo esse raciocínio que Carol resolveu compartilhar seus conhecimentos. Ela achava que investir era algo muito distante da sua realidade e, quando percebeu que era mais acessível do que acreditava, decidiu comunicar isso para outros jovens. “A nossa juventude está em peso nas redes sociais”, diz Carol. “É ali que ela vai encontrar as pessoas nas quais ela vai se espelhar, se inspirar, então eu acho muito importante ter exemplos que vão agregar no seu futuro.”
Apesar da pouca idade, Carol já acumula uma produção de conteúdos bem relevante. Os e-books Guia da Renda Fixa e Finanças sem Neura, por exemplo, trazem abordagens mais profundas sobre os temas. Mas ela também tem no currículo podcasts, vídeos no YouTube e mais de 300 postagens no Instagram tratam dos diversos aspectos do mundo financeiro.
Ser uma nativa digital facilita o trabalho de Carol, mas os desafios ainda são grandes. Para a jovem, os padrões de consumo ditados pelo TikTok e pelo Reels, em que o público decide se vai prestar atenção em um conteúdo nos primeiros três segundos, dificultaram muito a produção. “Eu aproveito a minha linguagem, por ser jovem, então meu público acaba se identificando mais, e eu tento sempre contextualizar as coisas que eu vou explicar, com exemplos práticos”, relata.
Carol aprendeu com os pais a ter muita responsabilidade com o dinheiro, mas, no que diz respeito aos investimentos, eles pensam um pouco diferente — preferem a caderneta poupança. Esse também é um aspecto bem geracional, já que ainda que a poupança também seja o investimento preferido daqueles que têm entre 16 e 25 anos, o percentual é baixo se comparado às demais gerações. Assim, 28% dos investidores da geração X (41 a 60 anos) e 29% dos boomers (61 a 75 anos) utilizam a caderneta de poupança, enquanto apenas 15% daqueles da geração Z optam por esse produto. Carol conta que apesar das diferenças, o aprendizado é mútuo: “conforme eu fui aprendendo, eu fui conversando com eles que faz mais sentido investir, viver de renda e ser independente financeiramente a partir desses rendimentos”.
Quanto antes, melhor — É importante que jovens como a Carol tenham acesso a conteúdos financeiros e que encontrem espaço, inclusive, para conversar sobre o assunto. Mas será que esses espaços também têm surgido nas escolas? A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) indica que a educação financeira é um tema transversal a ser trabalhado nos currículos escolares de todo o Brasil. Isso significa que desde 2018, quando a base foi homologada, está previsto que a educação financeira deve ser ensinada nas escolas, para os alunos do ensino fundamental.
Para Carol Rangel, essa revisão do sistema educacional é muito importante: “a gente se preocupa muito em formar bons profissionais, o que é muito necessário, mas às vezes nos esquecemos de criar também bons cidadãos, que vão saber cuidar bem também da sua vida pessoal, que vão saber lidar com as suas finanças, investimentos e até entender de outras áreas como política, impostos e inteligência emocional”. Os dados corroboram com isso, uma vez que uma pesquisa feita pela Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil) mostrou que um a cada três estudantes afirmou ter aprendido a importância de poupar dinheiro depois de participar de projetos de educação financeira.
Primeiros passos — Para os jovens que decidem se aventurar pelo mundo dos investimentos, tendo participado de projetos de educação financeira, o próximo passo é a abertura de uma conta bancária. Hoje em dia, grande parte dos bancos digitais e corretoras já oferecem contas para menores de idade, de forma bem facilitada, lembra Carol. Geralmente, além dos documentos do titular da conta, também pode ser solicitada a documentação do responsável legal. A jovem relata ainda que ela teve mais trabalho para abrir uma conta em um banco mais tradicional, mas deu tudo certo no final. Cabe ressaltar que a relação com o banco também depende muito da geração: 54% da geração Z e 44% dos millennials utilizam o aplicativo do banco na hora de investir, enquanto só 12% dos boomers escolhem esse caminho, segundo levantamento da Anbima.
Tem uma menina puxando a fila — Carol também é uma menina de 15 anos em um universo em que as mulheres ainda enfrentam muitas barreiras, incluindo as financeiras. De acordo com a B3, o número de mulheres investidoras foi de 100 mil em 2013 para 1 milhão em 2022, mas o percentual continua sendo de apenas 25% de mulheres, uma vez que 3,2 milhões de investidores são homens.
Para Carol, a participação feminina também é muito pequena no cenário de pessoas que falam sobre investimentos e finanças: “quando a gente pensa nos grandes nomes, são todos de figuras masculinas, o que nos desmotiva muito, já que a gente não se sente representada”. No entanto, ela vê mais mulheres falando sobre o tema e mais exemplos do que quando começou. “Eu acho que, aos poucos, nós estamos conquistando mais espaço nessa área”, diz.
Carol deixou uma mensagem para os jovens que procuram a educação financeira: “Faça bom uso do seu tempo, porque, diferentemente de outros bens, como o dinheiro, o tempo desperdiçado não volta. Aprenda coisas novas e entre em contato com pessoas que tenham ideias diversas, porque conhecimento é um ativo que ninguém pode tirar de você”.
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