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Frei David afirma ter sido vítima de abordagem racista da PM no centro de SP

Por: Estadão Conteúdo . 22/12/2022

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Frei David afirma ter sido vítima de abordagem racista da PM no centro de SP

Fundador da ONG Educafro diz que foi intimidado ao gravar policiais abordando homem em situação de rua; Ouvidoria das Polícias pede investigação

3 minutos, 59 segundos de leitura

22/12/2022

Por: Estadão Conteúdo

Frei David, fundador da ONG Educafro, diz que foi intimidado ao gravar policiais abordando homem em situação de rua. Foto: reprodução/franciscanos.org

Com reportagem de Gonçalo Junior, O Estado de S. Paulo

O padre franciscano David Raimundo dos Santos, o Frei David, fundador e diretor-geral da ONG Educafro, afirma ter sido vítima de abordagem racista da Polícia Militar no domingo, dia 18, na região central de São Paulo. A Ouvidoria das Polícias do Estado de São Paulo foi acionada e pediu providências à Corregedoria da PM para investigar a atuação de quatro policiais

O padre de 70 anos diz que começou a ser intimidado pelos policiais depois de filmar uma abordagem a um homem (branco) que parecia estar em situação de rua nas proximidades da Avenida Rio Branco. Os PMs notaram a atitude do religioso e passaram a abordá-lo. O frei vestia calça jeans e camisa de manga longa, mas não o tradicional hábito franciscano, ordem da qual faz parte.

O policial ordenou que Frei David colocasse as mãos para trás e mostrasse seus documentos. Depois de liberarem o outro homem, os PMs continuaram a abordagem ao padre. Segundo ele, os policiais perguntaram à qual igreja ele pertencia e pediram o número do IMEI do celular, código de identificação de cada aparelho.

O religioso alega racismo dos policiais. “Brancos e ricos podem filmar (ação policial), mas pobres e negros, não. Foi uma abordagem racista. Só tem medo da filmagem o policial que está fazendo uma abordagem que não seja honesta. Não permitir a gravação é o nó da questão”, diz o líder religioso, que luta contra o racismo pelo menos há quatro décadas no País.

O padre afirma que os policiais o encararam, tentando provocá-lo para que ele fosse indiciado por desacato, em sua visão. O religioso afirma que se sentia intimidado e acuado. “A violência psicológica é tão prejudicial quanto a violência física. Eu perguntei por que faziam aquilo comigo e me mandaram calar a boca”, diz o fundador da Educafro, ONG que ajuda jovens pobres, em especial negros, a entrarem em universidades no País.

A entidade já garantiu o acesso ao ensino superior a cerca de 100 mil pessoas e esteve à frente de importantes conquistas da população preta e parda, como a Lei de Cotas e o Prouni.

O religioso acredita que a atitude dos policiais seria diferente se ele estivesse com o hábito franciscano. “Se eu estivesse como sacerdote, eles não fariam isso. Isso mostra a postura seletiva dos policiais. Eu experimentei na pele o que o meu povo negro experimenta no dia a dia. O povo negro não tem roupa de padre para se proteger contra a leitura visual equivocada da polícia.” No final da abordagem, o religioso avisou que telefonaria para a Ouvidoria. Os policiais teriam respondido: “A gente que está errado né, os bandidos estão certos?”

O advogado Márlon Reis explica que a Constituição Federal assegura o princípio da publicidade, como o direito de filmar ações policiais, no artigo 37. “Houve violação de dois direitos fundamentais neste caso: o direito do cidadão de registrar em vídeo a atividade dos policiais e o direito ao respeito ao seu corpo e à sua privacidade, pois ele foi revistado e investigado sem ter sido suspeito de crime algum”, diz o defensor da Educafro.

O QUE DIZEM A POLÍCIA MILITAR E A OUVIDORIA

Elizeu Soares Lopes, ouvidor das Polícias do Estado de São Paulo, afirma que um ofício foi encaminhado à Corregedoria da Polícia Militar para apurar a conduta de quatro policiais na abordagem do Frei David. O procedimento investigatório vai analisar “ação indevida e de cunho racial”. As imagens registradas pelas body cams, câmeras acopladas ao uniforme dos policiais, além de outras provas, também foram solicitadas.

O ouvidor diz que é prematuro afirmar que houve conduta racista. “A atividade policial deve seguir os protocolos operacionais e legislação vigente, visando a máxima proteção dos direitos das pessoas. A denúncia trazida é séria e deve ser apurada com rigor, verificando-se a eventual responsabilização dos envolvidos.” Pelo relato do Frei David, o ouvidor considera que a abordagem foi exagerada.

“Pelo relato, me parece que as hostilizações ocorreram em demasia. Não dá para analisar o que evidenciou a conduta dos policiais”, disse. Lopes reafirma que a população pode e deve filmar as atividades policiais. “Os atos da administração são públicos. O agente policial é a materialização da administração pública.”

Em nota ao Estadão, a Polícia Militar informou que “a denúncia, uma vez formalizada, terá todas as circunstâncias apuradas por meio da Corregedoria da Instituição”.

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