‘Ninguém para’, diz morador sobre semáforo quebrado na periferia
População relata preocupação e acidentes; problemas mostrados nesta reportagem estão há meses sem solução
Apesar do coração alvinegro, evidenciado pelo escudo do Corinthians na parede, Nilzete de Moraes, de 50 anos, não fechou a mercearia para ver o jogo contra o Flamengo pela Libertadores no dia 2 de agosto. Seu comércio fica na altura do número 700 da avenida Gabriela Mistral, bairro Penha da França, zona leste da capital paulista e, naquela noite, carros e motos passavam em alta velocidade e desviavam dos poucos pedestres que atravessavam as calçadas. O semáforo logo em frente poderia garantir mais segurança, mas está apagado há pelo menos dois meses. Acidentes e atropelamentos não são novidade.
Dois dias antes de receber a reportagem do Estadão Expresso na Perifa, a própria Nilzete havia testemunhado o atropelamento de um ciclista. “Se não tiver um conserto logo, vai ficar muito ruim”, afirma, preocupada. “Temos crianças que passam por aqui e vão para a escola.”
A poucos quilômetros da mercearia, na avenida Governador Carvalho Pinto — mais conhecida como Tiquatira —, semáforos apagados são comuns. As consequências, graves. O comerciante Rael da Silva, de 32 anos, vende espetos na região e conta que no cruzamento com a Praça Oswaldo Martinelli a situação tem piorado e já produziu acidentes fatais. “Há um mês e meio, um motoqueiro matou uma senhora porque não parou para ela passar. Ninguém para”, alerta.
A gerente de produtos Regiany de Freitas, de 33 anos, fala da dificuldade em atravessar algumas das principais vias de Itaquera, também na zona leste. No entroncamento das avenidas Nagib Farah Maluf e João Batista Conti, onde fica um hipermercado, o semáforo que opera em quatro fases está quebrado há meses. Segundo Regiany, isso impossibilita a passagem de pedestres e prejudica a circulação de veículos. O mesmo problema ocorre no encontro da Nagib Farah Maluf com a Radial Leste.
“Isso é um absurdo, o semáforo de uma das avenidas mais movimentadas da cidade, que liga todos os bairros da zona leste, estar quebrado desde o começo do ano. Mesma coisa o encontro da Jacu Pêssego com a rua Montanhas e Boas Noites. Sempre fico preocupada, porque a gente tenta entender de qual carro é a vez, mas sempre tem alguém que passa de forma acelerada e eu fico apreensiva”, relata.
O que diz a prefeitura — Em média, 20 semáforos apresentam problemas todos os dias na cidade. No período de janeiro a junho, segundo a prefeitura, 21 vias foram recordistas de “furtos e vandalismo”. Dessas, 13 estão na zona leste. Entre janeiro e abril de 2022, no entanto, 75,3% dos semáforos na cidade de São Paulo não funcionavam por causa de falhas ou quebras, e não por furtos, segundo dados obtidos em maio deste ano pelo jornal “Folha de S. Paulo”, por meio da Lei de Acesso à Informação.
Dos 6.668 locais com equipamentos semafóricos em São Paulo, 247 estão em manutenção, aponta o site Sinal Verde, consultado às 19h da quarta-feira, 3 de agosto. O portal, ligado à prefeitura, não traz dados sobre problemas relacionados a furtos, falhas ou quebras.
O QUE DIZ A CET
De acordo com a CET, o número de semáforos com apagões no primeiro semestre de 2022, em decorrência de furtos de fios e cabos, como no cruzamento da Avenida Aricanduva com a Avenida Ragueb Chohfi, cresceu 47,43% em relação ao mesmo período de 2021, saltando de 2.357 para 3.475 ocorrências. Até junho, foram 11 flagras só na capital. Além pedir à companhia dados sobre falhas de equipamentos e recortes por região da cidade, o Estadão Expresso perguntou em quanto tempo os semáforos são consertados e qual é o número de denúncias em regiões periféricas, mas não houve resposta da gestão Ricardo Nunes (MDB) até o fechamento da reportagem. O texto será atualizado se o órgão entrar em contato com os jornalistas.
Como denunciar faróis danificados — Para informar sobre um semáforo com problemas é preciso entrar em contato com a CET por meio do Portal SP 156. Também dá para baixar o aplicativo de mesmo nome ou ligar para 1188, a partir da capital paulista. A chamada é gratuita e o atendimento 24 horas ocorre em todos os dias da semana. No site da CET também é possível acessar o Sinal Verde, que permite verificar as condições de mais de 6.665 pontos.
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