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Acesso à segurança pública tem cor e endereço

Por: Ariel Freitas . 23/07/2021

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Acesso à segurança pública tem cor e endereço

Bairros com maioria da população preta e parda estão distantes do conceito de vida digna

2 minutos, 54 segundos de leitura

23/07/2021

Por: Ariel Freitas

Conjunto habitacional da Cidade Tiradentes, na Zona Leste de São Paulo: um dos distritos mais inseguros da cidade. Foto: J.F. Diorio/Estadão Conteúdo

João Oliveira Santos, 35 anos, conhece o peso das adversidades enfrentadas por quem vive e trabalha em territórios de difícil acesso urbano. Entregador de aplicativos, ele nem tira a mochila das costas para falar das situações complicadas no vaivém de Cidade Tiradentes, onde mora, na zona leste de São Paulo.

Reportagem de Ariel Freitas, Favela em Pauta, no Rio de Janeiro

Em seu trabalho, a demanda noturna é forte. A volta para casa, cheia de receios. A segurança física e a psíquica são preocupações constantes. “Eu ando pelas ruas, sim, mas com medo. Muito medo”,  diz João. “Sou um homem negro, tenho 1,82 metro de altura e nunca sei o que pode acontecer. Se serei assaltado, se serei confundido com algum assaltante, se simplesmente acontecerá algo ruim comigo.”

A apreensão de João reflete a posição do bairro no Mapa da Desigualdade de 2020, da Rede Nossa São Paulo. A Cidade Tiradentes ocupa o quarto lugar no ranking dos mais violentos da capital paulista (veja a lista completa nesta página). De tudo que atormenta os moradores na região, a violência é um dos fantasmas mais presentes. O levantamento também estuda outras áreas, como mobilidade, saúde, educação, habitação, cultura, esporte, trabalho e renda.

Racismo e exclusão

Segundo Gladis Elise Pereira da Silva Kaercher, especialista em educação antirracista, a insegurança no modo de vida das periferias não se dá por acaso: os bairros classificados como perigosos são, na maioria, habitados por negros. Na Cidade Tiradentes, por exemplo, pretos e pardos somam 56,1% da população.

“Não tem como pensar em segurança pública sem olhar atentamente as questões raciais no Brasil”, afirma Gladis, que é professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Grande do Sul (UFRGS). “A população que sempre viveu às margens da sociedade instalou-se nesses bairros que não têm acessibilidade ou mobilidade urbana. Realocada nos extremos das cidades brasileiras, ainda convive com uma política de repressão em vez de prevenção.”

Daí a importância de olhar para a educação e os ensinamentos transmitidos nas instituições responsáveis pela segurança – as polícias. “Muitos agentes aprendem que as características negras são suspeitas e que esses bairros são suspeitos”, diz. Essa realidade só contribui para a desigualdade em todo o País.

Letícia Maria Schabbach, professora do Departamento de Sociologia da UFRGS, ressalta outro problema de fundo. Qualquer solução e planejamento em segurança pública tem de passar, necessariamente, por projetos e políticas sociais, incentivo à educação, geração de renda e promoção de cultura e lazer. “É essencial oferecer uma estrutura urbana digna, com a iluminação pública plena, a disponibilidade de serviços essenciais e saneamento básico”, diz. “Os moradores das periferias têm o direito de desfrutar a sociedade.”


Os dez distritos mais seguros de São Paulo

1. Alto de Pinheiros
2. Consolação
3. Pinheiros
4. Santo Amaro
5. Butantã
6. Perdizes
7. República
8. Itaim Bibi
9. Jardim Paulista
10. Moema

Fonte: Mapa da Desigualdade 2020

Os dez distritos menos seguros de São Paulo

1. Marsilac
2. Brás
3. Jardim Ângela
4. Cidade Tiradentes
5. Sé
6. Bom Retiro
7. Vila Medeiros
8. Brasilândia
9. Capão Redondo
10. São Miguel

Fonte: Mapa da Desigualdade 2020


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