Espaço criativo democratiza a cultura em comunidade do Pará
Em Belém, Gueto Hub reúne biblioteca comunitária, coworking, café, exposições, oficinas e intervenções culturais
O espaço criativo e cultural Gueto Hub, idealizado pelo engenheiro cartográfico paraense Jean Ferreira, 27 anos, fica na divisa dos bairros Jurunas e Condor
Reportagem de Cássio Miranda, Periferia em Foco, em Belém do Pará
Opção de lazer e troca de conhecimento na periferia de Belém, o Gueto Hub aproxima a leitura e a arte da população local. Além disso, talentos da comunidade encontram ali um lugar parar expor seus trabalhos —surge assim uma oportunidade para quem não está inserido no que a sociedade em geral considera “centro” e “cultura dominante”.
Inaugurado em junho de 2021, o espaço funciona de terça a domingo, das nove da manhã às oito da noite. Tem galeria de arte, museu, coworking, lanchonete e área verde para moradores, estudantes e artistas locais baterem um papo “pai d´égua” [expressão de conotação positiva usada por paraenses para dizer que algo é legal]. Com todos os cuidados de distanciamento por causa da pandemia de covid-19, claro.
Outro atrativo é o Museu D’Água, que abriga a Galeria Izabel Aquino, batizada em homenagem a uma personalidade importante da cultura e da comunicação do bairro. O acervo virtual é formado por fotos e depoimentos de moradores do bairro que narram as transformações urbanas ao longo dos anos na comunidade, reunindo afeto e pertencimento. A curadoria é do artista visual e pesquisador Henrique Montagne.
Inspiração e proposta
Jean conta que a inspiração para o Gueto Hub veio do projeto Sebo do Gueto. Esse último nasceu para aumentar o número de livrarias em comunidades, incentivando aluguel e doação de livros a preços acessíveis e formando uma rede para a democratização da leitura nas periferias brasileiras. Atualmente, está presente no Pará, em Minas Gerais, na Bahia, no Rio Grande do Sul e em São Paulo.
“O Sebo do Gueto já era uma realidade diferente estando numa periferia, mas pensei que as pessoas ainda precisavam de um espaço para ler, estudar, ter acesso à internet e até mesmo trabalhar (…). Esses lugares estão todos no centro da cidade e faltam espaços na periferia como esse”, explica Jean. “A proposta do Gueto Hub é potencializar iniciativas, projetos e negócios que incentivem a população a conhecer a história, talentos e cultura do próprio bairro. É como um catalizador da potência periférica.”
O Gueto Hub está instalado no imóvel ocupado antigamente por escolinha, e qu estava abandonado há mais de vinte anos. O próprio Jean estudou ali, e sua mãe foi professora. Contando com a ajuda de seus pais, amigos e vizinhos, a ideia saiu do papel. Selecionado em um edital cultural, o jovem recebeu incentivos financeiros que aceleraram a reforma e a inauguração.
A importância de vencer o estigma
O geólogo Menkell Souza, 27 anos, morador do Jurunas, visitou o espaço no mesmo dia em que a reportagem esteve lá e disse que ficou encantado com a proposta de engrandecer o lúdico, o artístico, e enaltecer um espaço que historicamente é tido como feio e não atraente. “Na periferia, não somos só aquilo que sai nas manchetes dos jornais; as manchas de sangue, roubo, tráfico […]”, afirma o geólogo. “Foi uma surpresa [ver] vencer o estigma do feio e devolver a autoestima de um periférico que têm um espaço bonito, porque a periferia também é bonita.”
Moradora do bairro, a estudante de pedagogia Laise Pantoja, 22 anos, destaca que o Gueto permite à população local narrar sua própria história em seus ambientes e versos. “É um espaço acessível e tão perto da comunidade, de muita riqueza cultural. Sempre ouvimos nossa história contada pelos outros, agora somos nós que precisamos falar de nós mesmo”, afirma Laise.
Por dentro do espaço cultural e da biblioteca comunitária do Gueto Hub, no Jurunas, em Belém do Pará.
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