Roots Ativa: agroecologia na favela
Na maior comunidade de Belo Horizonte, coletivo promove sustentabilidade e geração de renda
“Eu moro no Serrão!”. É assim que os moradores do Aglomerado da Serra, o maior complexo de vilas e favelas de Belo Horizonte (MG), exibem carinhosamente o orgulho do lugar em que vivem. Esse grande território da periferia belorizontina é cenário de diversas movimentações. Uma delas é o coletivo rastafári Roots Ativa, que impacta positivamente a comunidade com agroecologia pensada e cultivada na favela.
Reportagem de Danny Mendes e Negona Dance, Lá da Favelinha, em Belo Horizonte
A necessidade de garantir moradia e um espaço para desenvolver sua cultura fez com que o coletivo se instalasse em 2008 no alto do Aglomerado, de onde a vista panorâmica escancara a divisão geográfica e simbólica da favela e o restante da cidade.
O grupo formado por educadores, cozinheiros, agentes culturais e artistas – em sua maioria moradores – desenvolve projetos que geram renda para a manutenção do espaço, das atividades e do auxílio aos membros. Respeitar o meio ambiente e não usar agrotóxicos e alimentos geneticamente modificados são pilares da cultura rastafari que baseiam o trabalho.
Thiago Lopes, um dos idealizadores do Roots Ativa, lista outras ações que reforçam o perfil do coletivo: empoderamento e valorização da mulher negra periférica; transformação de compostos orgânicos em adubos e fertilizantes naturais; e produção de alimentos vegetarianos e integrais – e o alcance desses últimos vai além do Aglomerado. “Os produtos são comercializados na Feira Terra Viva, de pequenos produtores locais, e entregues em todo o território da capital mineira”, conta Thiago. “A parceria também promove uma ponte entre a periferia e outras localidades da cidade.”
Transformação de amplo alcance
O conhecimento de sustentabilidade gerado na favela a partir do trabalho do Roots Ativa opera transformações em outros pontos de Belo Horizonte. Em Santa Tereza, por exemplo, o bairro que é considerado o mais boêmio da cidade, o coletivo integra a Rede Lixo Zero Santa Tereza. Trata-se de uma parceria com a cooperativa de catadores de material reciclável Coopesol Leste.
O foco está em ações de reciclagem e compostagem do lixo doméstico levado por moradores. Tudo é transformado em adubo para uma horta aberta e com produtos sem agrotóxicos. “A gente se juntou e montou um ecossistema em dois terrenos” diz Thiago. “Hoje, cem famílias do bairro têm seus resíduos tratados. Elas pagam uma taxa e deixam lixo orgânico e reciclável, fechando um ciclo super interessante em que os operadores desse sistema ganham pelos serviços ambientais.”
Para Isabela Rodsill, moradora do Aglomerado da Serra, em mais de dez anos de atuação é visível o quanto o coletivo tem mudado para melhor a vida da comunidade. “Nunca foi tão gostoso comprar cereais, comidas naturais que são produzidas dentro da quebrada onde moro, sem precisar ir ao asfalto”, afirma Isabela.
“Saber quem planta, colhe, produz, vende com preço acessível, tem seu trabalho reconhecido e faz a grana rodar dentro do morro é revolução”
Isabela Rodsill, moradora do Aglomerado da Serra
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