Stock car exportando talentos
De importadora, categoria agora exporta mão de obra especializada
Uma categoria de automobilismo com 42 anos de disputa ininterrupta tem várias histórias para contar. Uma delas foi sua vocação para acolher pilotos que retornavam de suas experiências internacionais.
Voltando da sua precoce aventura na Fórmula 1, Ingo Hoffmann adotava a Stock Car, em 1979, para dar continuidade à carreira, onde ficou por 30 temporadas. Na mesma direção, Wilson Fittipaldi Jr. se juntou ao grid, em 1982, para disputar seis temporadas, e Chico Serra, depois de pilotar para Fittipaldi e Arrows, na F1, chegava à Stock Car, onde seria tricampeão.
A senha estava dada: havia uma categoria profissional e sustentável no Brasil.
Iniciou, então, uma migração de volta à pátria mãe. Vários nomes que estavam no exterior começaram a retornar para o Brasil, seguindo os passos de Ingo, Wilsinho e Serra, movimento intensificado com o grande passo de profissionalização que aconteceu na categoria, em 2000, quando o modelo Chevrolet Omega foi substituído pelo Vectra, com estrutura tubular. Naquele mesmo ano, Nonô Figueiredo, que retornava de temporadas na Fórmula 3 italiana, Superturismo Sudam e Vauxhall Challenge na Inglaterra, reestreava na Stock Car, em que fizera quatro provas, em 1995.
No ano seguinte, foi a vez de Raul Boesel voltar à Stock Car, depois da F1 e do título mundial de trotótipos. Ainda em 2001, estreava o carioca Gualter Salles, egresso da Fórmula Indy e American Le Mans Series. Ricardo Maurício retornaria da F3000 europeia, em 2004, permanecendo até os dias atuais.
Entre 2005 e 2007, chegou mais uma leva da F1 para a Stock Car, com Luciano Burti (2005), Tarso Marques (2006), mais Ricardo Zonta, Enrique Bernoldi e Antônio Pizzonia, que vieram em 2007. Max Wilson, retornando do fortíssimo V8 Supercars australiano, estrearia, em 2009. Três anos depois, foi a vez de Rubinho Barrichello entrar na Stock Car, pouco antes da chegada de mais dois da Indy, Rafa Matos, em 2012, e Bia Figueiredo, em 2014, mesmo ano da estreia de Cesar Ramos na Corrida de Duplas, antes de fazer temporadas completas, a partir do ano seguinte, depois de sete temporadas na Europa.
No caminho oposto
Agora, a Stock Car exporta talentos. Dos pilotos de uma nova geração formada dentro da categoria, vários deles vêm sendo convidados para provas e campeonatos no exterior, como é o caso de Felipe Fraga (veja quadro ao lado) e Allan Khodair, que disputa o International GT Open, em dupla com Marcelo Hahn. Já Marcos Gomes, filho do tetracampeão Paulo Gomes e campeão da Stock Car em 2015, divide as atenções da Equipe Cavaleiro Sports, na Stock Car, com convites internacionais que recebe frequentemente. Já disputou as 24 Horas de Daytona quatro vezes e as 24 Horas de Le Mans, em 2020 e 2021, com Ferrari e Aston Martin, respectivamente, culminando com título da Asian Le Mans Series 2019/2020.
Outro filho de tricampeão, Daniel Serra vem pavimentando uma carreira de sucesso no exterior, paralela à da Stock Car, em que disputa o título de 2021. Foram três aparições nas 24 Horas de Daytona, 2013, 2014 e 2015, e na Petit Le Mans, pilotando uma Ferrari. Em 2016, foram seis provas na GT Le Mans da IMSA, também com Ferrari. Em 2017, passou a integrar a equipe de fábrica da Aston Martin no Mundial de Endurance, conquistando um feito histórico, ao ser o primeiro brasileiro a vencer na classe profissional (GT1 atual LMGTE Pro) das 24 Horas de Le Mans. Neste ano, disputou a temporada completa do Campeonato Mundial de Endurance, como piloto de fábrica, na classe GTE-Pro, novamente com Ferrari.
Não tem como não citar Cacá Bueno, cria da Stock Car, que disputou o inédito e 100% elétrico Jaguar I-Pace e-Trophy, em que foi vice-campeão mundial e recordista de poles da categoria, vencida por outro piloto da Stock Car, Sérgio Jimenez, campeão da primeira temporada e vice na segunda.
Como se vê, de importadora, a Stock Car equilibrou sua balança comercial e agora exporta talentos.
De Tocantins para o mundo
Felipe Fraga, mais jovem campeão na história da Stock Car, decidiu apostar em sua carreira internacional, após conquistas no Brasil, na Stock Light, em 2014, e na Stock Car, em 2016, ano em que também levou a vitória na Corrida do Milhão. Foram 18 vitórias, 28 pódios e oito pole positions em 126 disputas na categoria.
Atualmente, Fraga é piloto de fábrica da Mercedes-Benz no Intercontinental GT e Aston Martin no WEC.
Ano passado, foi vice-campeão do Mundial de Endurance e vice nas 24 Horas de Le Mans.
Nos EUA, Fraga acelera um protótipo da classe LMP3 e, neste ano, colecionou pódios e vitórias. Os triunfos foram em Watkins Glen (duas vezes seguidas) e Mid-Ohio. O tocantinense ainda conseguiu mais um pódio em Road America e somente não disputa o título, junto com seu companheiro de equipe, porque não faz a temporada completa.
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