Caminhos para atravessar a crise: negócio de família
Juntar saberes e experiências ajuda a colocar a comida na mesa
Dos seus 56 anos, Maria Madalena Félix passou quase 18 como funcionária do sistema de transporte público da região metropolitana do Recife (PE). Começou como cobradora de ônibus e foi promovida a coordenadora de terminal, na fiscalização de chegadas e partidas. Madalena foi demitida em 2020, mas tinha uma alternativa em curso: Gleysson Ricardo e Nathália Santos, filho e nora, queriam empreender e a convidaram para participar.
Juntando verbas rescisórias de Madalena e Nathália — que também havia deixado o emprego de babá com carteira assinada —, a experiência anterior do casal em gestão e alimentação e os conhecimentos de Madalena na cozinha, o trio inaugurou em janeiro de 2021 uma loja de hambúrguer que funciona exclusivamente com em domicílio. Mas as coisas estão dando certo e, para atender a demanda e não perder o público que começa a retomar atividades presenciais, a família abrirá em breve a primeira loja física.
A nova realidade trouxe melhores condições de trabalho e mais qualidade de vida. Sim, há alguma instabilidade de fluxo de caixa, mas a autonomia é um benefício importante.
“É um bom negócio. É dinâmico e eu sobrevivo, tenho minhas coisas e minhas contas pagas e não me estresso”, afirma Madalena. “Não está tão tranquilo, mas está melhor do que antes”, completa Gleysson.
NORTE E NORDESTE DO BRASIL…
…contratam menos com carteira assinada
…lideram os rankings de desocupação e mercado informal Taxa de desocupação
Norte: 14,8%
Nordeste: 18,6%
Taxa de trabalho informal e/ou autônomo Norte: 55,6% Nordeste; 53,3%
BRASIL
– 24,8 milhões de trabalhadores por conta própria
– 35,6 milhões de trabalhadores informais, ou 40% da população ocupada
Fonte: Sebrae e Fundação Getúlio Vargas
POSSÍVEIS SOLUÇÕES
Em 2020, a Oxfam, organização da sociedade civil dedicada ao enfrentamento da fome e da desigualdade, publicou o relatório Dignidade, Não Indigência. “O mundo precisa aprender com a crise financeira de 2008, quando governos resgataram bancos e grandes empreendimentos enquanto pessoas comuns pagaram com uma década de austeridade econômica, com cortes de gastos em serviços públicos, como saúde e educação”, diz um dos trechos do documento (…). E mais: “A fortuna dos bilionários dobrou nos 10 anos seguintes, enquanto os salários dos trabalhadores praticamente não aumentaram. Pacotes de resgate financeiro podem ser uma oportunidade para mudar permanentemente os incentivos e modelos de negócios.
Com isso, é possível ajudar a promover uma economia mais humana e sustentável, na qual os trabalhadores sejam tratados de maneira justa.” Outras alternativas apontadas para conter a crise são a adoção de impostos emergenciais de solidariedade e a suspensão e o cancelamento de dívidas, sobretudo nos países mais pobres e com alta taxa de desigualdade social, caso do Brasil.
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