O maior troféu do multicampeão
Atividades extrapista mostram uma faceta diferente do automobilismo
Qualquer esporte remete à disputa, à rivalidade, à superação, e o automobilismo não é diferente. Talvez tenha até um componente que o torna ainda mais competitivo, a máquina, o carro. Chegar na frente, portanto, não é apenas vencer seu rival de carne e osso – as máquinas também se enfrentam.
Por isso, o ambiente dos esportes motorizados é carregado de adrenalina; a rivalidade permeia todos os cantos, desde quem é o mecânico que troca um pneu mais rápido até a equipe que calibra melhor um amortecedor ou motor.
E, nesse ambiente de alta tensão, a Stock Car disputa, neste ano, sua 43ª temporada ininterrupta, desde a estreia, em abril de 1979, quando, apesar do amadorismo intrínseco – porém, inexistente, na prática –, dez pilotos colocaram seus Chevrolet Opala, praticamente originais, na pista do autódromo de Tarumã (RS), dando início a uma das maiores categorias de carros de turismo do mundo.
Daqueles tempos românticos até hoje, muita coisa aconteceu, e essa competitividade só aumentou. Dentro dela, destaca-se o nome do piloto Ingo Hoffmann, que não estava na primeira corrida de Tarumã, mas sim na segunda, para se tornar o piloto com mais conquistas na Stock Car: 12 títulos, 77 vitórias e 60 pole positions.
Campeão introvertido
Para quem não o conhece, este paulistano de traços germânicos, nascido em 28 de fevereiro de 1953 e recém- chegado da Fórmula 1, em 1979, antes de estrear na Stock Car, parece ser uma pessoa mal-humorada, de poucos amigos e nada a fim de papo. Tudo errado. Basta trocar a primeira frase para se ver diante de um ser humano de primeira grandeza, afável, sempre cercado de amigos, que adora uma conversa e de contar bons causos. Percebe-se, rapidamente, que a sisudez é, na verdade, o jeito de um cara de poucas palavras, mas muita atitude.
E, assim, surpreendendo, como sempre, e já multicampeão nas pistas, decidiu que ajudar o próximo seria mais uma vitória a conquistar. Em 2005, já com seus 12 troféus de campeão na prateleira, resolveu fundar o Instituto Ingo Hoffman, entidade beneficente sem fins lucrativos, com a missão de oferecer mais conforto e qualidade de vida às crianças em tratamento de câncer e suas respectivas famílias.
Em parceria com o Centro Infantil Boldrini, hospital referência mundial no tratamento de câncer infantil, o Instituto Ingo Hoffmann é responsável pelo projeto Casa da Criança e da Família, que abriga os pequeninos em tratamento, junto com suas famílias. Localizado em Campinas (SP), o instituto proporciona todo o suporte necessário para o enfrentamento dessa difícil situação a quem não tem condições de suportar o custo de se mudar, às vezes de Estado, para tratar a doença.
São 30 chalés, divididos em dez vilas. O terreno, cedido pelo Boldrini, tem mais de 6.000 m² e está localizado ao lado do edifício da radioterapia do hospital. Além das acomodações, o local oferece lavanderia, refeitório, espaço da mulher, sala de TV, biblioteca, brinquedoteca e uma moderna academia de ginástica, com assessoria permanente de dois instrutores. As famílias recebem alimentação, transporte para realização de exames e aquisição de remédios fora do instituto, além, é claro, de muito carinho.
“Abrimos as portas em 2007, quando recebemos as primeiras famílias dentro do projeto. De lá para cá, entre pacientes e acompanhantes, já atendemos mais de 15 mil pessoas, e servimos 80 mil refeições até o fim de 2020”, informa Hoffmann. “Posso dizer que se trata um sonho realizado, pois é extremamente gratificante olhar para todo o projeto, que dá segurança e dignidade às pessoas, em um momento tão difícil de suas vidas.” Os custos são altos, mas as famílias não pagam nada por tudo isso; assim, as contribuições são necessárias para a manutenção dessa linda iniciativa. “Qualquer tipo de ajuda ou colaboração é muito importante para nós. Hoje, posso afirmar que, com certeza, esse projeto foi a maior vitória de minha vida.”
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