Higer e Marcopolo na briga pelo mercado de ônibus elétricos
Companhia chinesa entra no jogo para fornecer veículos ao transporte urbano nacional, mas tem concorrência direta da fabricante brasileira
Uma interessante movimentação está em curso para intensificar a utilização de ônibus elétricos no transporte público de várias cidades brasileiras. As empresas locais vêm desenvolvendo projetos para oferecer veículos mais sustentáveis e confortáveis ao usuário, mas não estão sozinhas nesse cenário competitivo.
Atuando no Brasil desde 2021, a companhia chinesa Higer Bus vendeu 50 unidades do ônibus elétrico Azure A12BR à Prefeitura de São Paulo, que tem a meta de zerar a emissão de dióxido de carbono dos veículos até 2038. “Mais um lote de 150 unidades está encomendado e deverá chegar em julho”, afirma Marcelo Barella, diretor da Higer Bus para a América Latina.
Sediada na cidade de Suzhou, na China, a Higer Bus é a maior fabricante de ônibus elétricos do mundo, com capacidade de fazer 35 mil veículos por ano. Cerca de 30% de sua produção é vendida a 136 países.
Representada no Brasil pela empresa TEVX, a Higer Bus deu um passo importante para o País se tornar um hub de exportação para a América Latina. Ela vai construir uma montadora de 180 mil metros quadrados no polo de Pecém (CE), com investimento total de US$ 50 milhões. No esquema CKD, a planta cearense receberá todos os componentes e fará a montagem do ônibus.
Unidade no Ceará
A primeira fase da obra será concluída em 2024, e a segunda, dois anos depois. De lá, sairão de 500 a 600 Azure A12BR por ano, com destino aos países das Américas do Sul e Central. O modelo mede 12,2 metros de comprimento e pode transportar 78 passageiros. Segundo Barella, a autonomia do ônibus é de 270 a 310 quilômetros e a bateria de 395 kWh pode ser recarregada em duas horas e meia.
Ele aponta outros diferenciais do Azure A12BR. O modelo tem piso total baixo (low floor), sem degraus, facilitando o embarque e desembarque, e sua estrutura é monobloco. Ou seja, durante a construção, a carroceria não é instalada sobre o chassi. “Nesse tipo de arquitetura, a vantagem é ter um veículo mais leve e resistente”, garante Barella.
O Azure A12BR é o primeiro ônibus trazido ao País, mas a sexta geração do modelo também será representada no mercado brasileiro por outras quatro versões, com capacidade para levar de 40 a 134 usuários.
Além das instalações em Pecém, a Higer Bus está erguendo um centro técnico exclusivo para ônibus elétricos na cidade de São Paulo, que deverá entrar em funcionamento daqui a dois meses. “Ele vai dar suporte aos serviços de manutenção e peças de reposição aos clientes”, diz o executivo. “A obra de infraestrutura custará US$ 1 milhão e teremos US$ 1,5 milhão de peças no estoque.”
Barella acredita que o cenário dos ônibus movidos a bateria está bem encaminhado no País, mas faz uma ressalva. “Não dá para entender por que o imposto de importação do ônibus seja de 35% no Brasil”, lamenta. “Afinal, é um meio de prestação de serviços essencial para a população.”
A arma da Marcopolo
Se depender das fabricantes nacionais, a Higer Bus não terá vida fácil no País. Com sede em Caxias do Sul (RS), a Marcopolo, por exemplo, foi a primeira empresa brasileira a homologar um ônibus elétrico. Ela desenvolveu o Attivi, que tem alcance de aproximadamente 250 quilômetros e bateria de 400 kWh, capaz de ser realimentada em quatro horas.
“A eletrificação faz parte da nossa estratégia, e já temos 370 ônibus elétricos e híbridos rodando no Brasil e em países como Argentina, Austrália e Índia”, afirma Luciano Resner, diretor de engenharia e tecnologia da Marcopolo.
Segundo Resner, o ônibus elétrico Attivi é 100% feito pela Marcopolo, possui 70% do conteúdo nacional, custa três vezes mais que o convencional e a bateria, que pesa em torno de 3 toneladas, representa 30% do valor total. “O conteúdo nacional de quase 50% ajuda a equilibrar os custos”, destaca. “Sistemas de direção, suspensão, freios e os eixos são produzidos no Brasil.”
O Attivi integral é um ônibus urbano de 13,2 metros de comprimento, com capacidade para 89 passageiros. “É o modelo que oferece o maior espaço interno, em relação à concorrência existente no País. Isso é possível graças à expertise da Marcopolo no desenvolvimento da carroceria”, explica.
Soluções da Zenobe
Além do acordo com a BYD, a Marcopolo acredita que a política de parceiras é fundamental para o desenvolvimento da eletromobilidade no País. “Não nos importamos somente com o veículo mas com todo o ecossistema, como infraestrutura de energia e gerenciamento de baterias, o que inclui a segunda vida delas”, salienta Resner.
Para ajudar a empresa nessa tarefa, a Marcopolo contratou a Zenobe, empresa, sediada em Londres (Inglaterra), especializada em frota de veículos elétricos e armazenamento de energia em baterias. A do Attivi, feita de lítio-ferro-fosfato, tem vida útil de dez anos, e, em seguida, é aproveitada em outras funções, assim como a dos automóveis de passeio.
Com experiência em eletrificação de frotas e software de carregamento inteligente, a Zenobe vai desenvolver soluções de eletromobilidade para transporte público e testar soluções de carregamento inteligente.
“A Zenobe gerencia toda a frota de Londres e se encarregará do monitoramento da recarga e da eficiência energética dos nossos ônibus com recursos de telemetria”, revela o diretor.
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