‘Entre 2017 e 2021, Recife reduziu em 42% sinistros e mortes no trânsito’, diz executiva da CTTU
Taciana Ferreira, diretora presidente da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano, fala sobre as ações adotadas pela capital pernambucana e como esses indicadores estão sendo ameaçados pelo aumento nas mortes de motociclistas
Desde 2021, a Prefeitura Municipal de Recife publica, todos os anos, um Relatório Anual de Segurança Viária, com informações sobre mortos e feridos no trânsito, utilizando, como fonte, dados coletados de órgãos envolvidos com o tema na capital pernambucana.
A iniciativa é reflexo de um esforço maior, que se intensificou pouco antes dessa data e envolve ações integradas de infraestrutura urbana, fiscalização e conscientização da população e uma cuidadosa gestão dos dados com foco na prevenção dos sinistros.
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“Adotamos a metodologia de um sistema seguro de trânsito que previna erros humanos, com base na premissa do Visão Zero, a de que nenhuma morte no trânsito é aceitável”, explica Taciana Ferreira, diretora presidente da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) e uma das responsáveis pela coordenação do trabalho. Confira, na entrevista a seguir, detalhes das iniciativas.
Qual era o cenário no Recife antes das ações serem implementadas?
Apenas como exemplo, em 2017 foram registradas 154 mortes no trânsito em Recife. Em 2022, último dado oficial disponível, o número total de óbitos em passou para 101 na cidade.
Desde 2020 a cidade participa do programa de segurança viária em parceria com a Bloomberg, iniciativa que começou em Fortaleza (CE) em 2019 e que foi um marco em nossas ações. Naquela época, vimos bons resultados na capital cearense e muita semelhança nas dificuldades que ambas as cidades enfrentavam, do ponto de vista da segurança viária, da necessidade de avançar com a mobilidade ativa, além de questões como o registro correto dos sinistros de trânsito.
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Com o apoio dos especialistas, começamos a fazer o diagnóstico de Recife e, sobretudo, passamos a organizar os dados coletados nos sinistros de trânsito. Todo o trabalho tem sido muito focado na gestão das evidências, ou seja, onde aconteciam a maior parte dos sinistros, horários, causas, entre outras informações.
Dessa forma, todas essas medidas tem norteado ações de fiscalização, de engenharia de tráfego e as boas práticas de comunicação para a educação no trânsito.
Quando a cidade começou com as ações para maior segurança viária?
Entre 2017 e 2021, Recife registrou redução geral de 42% de sinistros e mortes no trânsito. Grande parte da queda nesses indicadores se deve a uma série de medidas preventivas e educativas adotadas pela Prefeitura Municipal do Recife, por meio da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU).
Uma das mais relevantes é o redesenho urbano com foco na engenharia viária. Estudos da Universidade Federal do Ceará (UFCE) e da Vital Strategies demonstram que áreas redesenhadas tiveram até 37% menos registros de sinistros.
Exemplo disso é o projeto na Rua Othon Paraíso, no bairro do Torreão, a principal perimetral da cidade e que corta diversos bairros, fazendo conexão da zona norte com a zona sul. Nessa via houve uma redução expressiva de 72% no excesso de velocidade após intervenções viárias.
Já na comunidade de Jardim Monte Verde, no bairro do Ibura, na zona sul da cidade, as situações de velocidade excessiva caíram de cerca de 50% – passando de 47% para 23,4% dos registros -, reduzindo significativamente o risco de acidentes.
Que outras intervenções e resultados podem ser mencionados?
Além das mudanças físicas, a prefeitura investiu em campanhas de mídia e em comunicação de massa. Em 2023, a campanha desenvolvida pela Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global revelou que 38% dos recifenses consideravam aceitável dirigir acima dos limites de velocidade.
Dessa forma, após conscientização sobre os riscos de sinistros,mortes e situações de atropelamentos com possibilidade de gerar graves sequelas decorrentes do excesso de velocidade, 70% da população afirmaram ter discutido o tema com outras pessoas, mostrando o impacto positivo das ações de conscientização.
O que tem sido feito em mobilidade ativa?
Além das medidas que acabei de mencionar, o Recife também tem se destacado na promoção da mobilidade ativa. A implantação da malha cicloviária, que atualmente soma 196,5 km, representa um aumento de mais de 700% desde 2013. O programa Calçada Legal, que requalifica calçadas, tem promovido segurança aos pedestres, reforçando o compromisso da cidade com uma mobilidade urbana eficiente e segura.
Outro destaque foi o projeto vencedor do Desafio Visão Zero das Cidades Brasileiras, promovido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A proposta de reestruturação da Avenida Norte Miguel de Alencar, que está em fase inicial de análise, deverá priorizar a revitalização dos passeios públicos, a acessibilidade e o redesenho do perfil viário, com o objetivo de criar um ambiente mais seguro para pedestres e usuários do transporte público.
E quais são os desafios atuais que a cidade enfrenta?
Embora o Recife venha registrando avanços significativos na diminuição de sinistros de trânsito, entre os anos de 2022 e 2023 houve um aumento de 19,3% e 37,1% nos números de ocorrências, respectivamente, por conta dos motociclistas.
Esse fenômeno é atribuído ao aumento do uso de motocicletas no trabalho com entregas, padrões que temos observados em diversas cidades da América Latina no período pós-pandemia.
Localidades como Cidade do México (México), Bogotá (Colômbia) e Guayaquil (Equador) também enfrentam desafios semelhantes, com destaque para a cidade equatoriana, onde a mortalidade no trânsito aumentou 109,7%, e Córdoba, com alta de 52,4%.
Dessa forma, com base nessa constatação de que os sinistros ocorrem em função para que os motociclistas atinjam o menor tempo de atendimento nas entregas, começamos a fazer uma abordagem dirigida com esses profissionais e agentes de trânsito, em parceria com as empresas de aplicativos.
Outra iniciativa importante é a formação dos motoristas de ônibus, também decorrente de dados que mostram aumento em acidentes entre esses dois modais, alguns deles fatais.
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