Motorista de aplicativo: saiba quanto ganha por mês.

Buscando sugestões para:


Publicidade

Quanto ganha um motorista de aplicativo?

Por: Isabel Lima . Há 8 min
Mobilidade para quê?

Quanto ganha um motorista de aplicativo?

Taxa retida pelos aplicativos e valor mínimo são as principais demandas da categoria

7 minutos, 10 segundos de leitura

01/05/2025

motorista de aplicativo
Segundo Cebrap, Brasil tem 1,7 milhão de motoristas de aplicativo. Foto: Dusan Petkovic/Adobe Stock

Há mais de dez anos os motoristas de aplicativo no Brasil estão crescendo. As vantagens relacionadas à flexibilidade atraíram e ainda atraem principalmente homens em busca de uma renda extra ou realocação no mercado de trabalho. Mas você já parou para pensar quanto ganha um motorista de aplicativo?

Leia também: Mulheres no Volante: Salvador capacita vítimas de violência para torná-las motoristas de ônibus

Antes de responder esta pergunta, é preciso entender quem levanta esses dados. No Brasil, existem duas fontes mais utilizadas: a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), representante dos aplicativos que encomenda pesquisas do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap); e o GigU, um aplicativo copiloto que auxilia motoristas no cálculo dos ganhos de cada corrida.

Além disso, ainda existe o levantamento empírico da Federação dos Motoristas por Aplicativos do Brasil. A categoria de motoristas acumula diversos representantes ao longo dos anos, portanto, cada uma delas atua de forma descentralizada. 

Os dados do Cebrap apontam que haviam 1,7 milhão de motoristas em 2024, um crescimento de 35% em relação a 2022. Desses, 94% são homens, 66% têm ensino médio completo e 64% de declara preto ou pardo. 

Enfim, vamos aos dados dos rendimentos. 

Motorista de aplicativo no Brasil: saiba quanto ganha

Em São Paulo, por exemplo, um levantamento do GigU, anteriormente conhecido como StopClub, mostra que motoristas de aplicativo têm um faturamento mensal médio de R$ 8.571,42. Após descontar gastos com combustível, IPVA e manutenção do veículo, o lucro mensal é de R$ 3.701,31, com uma jornada de trabalho de 60 horas semanais. 

No Rio de Janeiro, o lucro mensal é de R$ 3.210,77 com 54 horas semanais trabalhadas. Por outro lado, motoristas de Manaus têm rendimentos menores. Com uma média de 55 horas semanais trabalhadas, um trabalhador tira no final do mês R$ 1.854,77. 

Nas dez cidades com mais motoristas de aplicativo utilizando o serviço, a média de lucro por hora trabalhada vai de R$ 8,43 em Manaus até R$ 16,10 no Rio de Janeiro. Confira alguns dados abaixo:

CidadeQuanto faturam mensalmente, em R$Quanto gastam mensalmente, em R$Média de horas* (considerando que a média semanal é 55 h)Quanto sobra, em R$Média por hora, em R$
Manaus (AM)5.357,143.502,37220,001.854,778,43
Salvador (BA)5.357,143.290,70220,002.066,449,39
Porto Alegre (RS)6.428,574.224,69220,002.203,8810,02
Brasília (DF)6.428,574.028,57220,002.400,0010,91
Uberlândia (MG)6.428,573.769,03220,002.659,5412,09
Curitiba (PR)6.428,573.681,86220,002.746,7112,49
Maceió (AL)6.428,573.553,54220,002.875,0313,07
Goiânia (GO)6.428,573.523,50220,002.905,0713,20
Belém (PA)7.285,714.356,30220,002.929,4113,32
Recife (PE)6.170,403.180,13220,002.990,2713,59
Fortaleza (CE)7.500,004.326,00220,003.174,0014,43
São Paulo (SP)7.714,294.452,39220,003.261,9014,83
São Luís (MA)7.285,713.966,43220,003.319,2815,09
Belo Horizonte (MG)7.714,294.224,13220,003.490,1615,86
Rio de Janeiro (RJ)7.714,294.172,14220,003.542,1516,10
Fonte: GigU. *Média trabalhada por mês foi calculada com base no dado da GigU de que os motoristas trabalham 55 horas por semana em média.

Já os dados do Cebrap, coletados a partir dos próprios aplicativos, como Uber e 99, mostram valores superiores. Em dezembro de 2024, a Amobitec apresentou dados preliminares da segunda edição da pesquisa “Mobilidade Urbana e Logística de Entregas: um panorama sobre o trabalho de motoristas e entregadores com aplicativos”, durante uma audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF). 

Conforme a pesquisa, entre maio de 2023 e abril de 2024, os motoristas passaram em média 85 horas em viagens por mês, sem considerar o tempo de espera entre corridas. Dessa fora, a renda bruta média por hora foi de R$ 47, o que representa um aumento real (acima da inflação) médio de 5% em relação ao mesmo período entre 2021 e 2022.

Entretanto, as informações são rebatidas pelo presidente da Federação dos Motoristas por Aplicativo no Brasil. Leandro Cruz defende que o motorista precisa trabalhar 12 horas por dia para tirar 1,2 salário mínimo. Para ele, os dados divulgados pela representante dos aplicativos é mentiroso. Isso porque ele acredita ser necessário entender que esse trabalhador não ganha proporcionalmente por hora extra e  acaba diluindo os ganhos quando fica mais horas na rua. 

“No horário de pico, as plataformas colocam alguns valores maiores. Quando dá a baixa do pico, elas começam a colocar corridas muito abaixo do valor que o trabalhador mereça”, explica o presidente. 

Leandro Cruz ainda acrescenta que pesquisas como da Amobitec levam mais trabalhadores a entrarem na plataforma com promessa de ganhos irreais. Ele lembra que no início das operações dessas plataformas no Brasil havia ganhos vantajosos, mas as mudanças nos algoritmos e a falta de transparência tornaram o trabalho ruim.

Quanto fica para a plataforma?

Além do presidente da federação, as taxas retidas pelos aplicativos é um ponto abordado pelo CEO da GigU. Conforme o Luiz Gustavo Neves, este é um dos motivadores da empresa, que oferece uma calculadora de ganhos. Ou seja, antes de aceitar a corrida, o aplicativo lê as informações referentes aos ganhos e quilômetros rodados e calcula quanto o motorista vai lucrar. Com essa informação preliminar, o trabalhador escolhe se vai aceitar ou não. 

Porém, ainda assim, Luiz Gustavo Neves relata que a GigU não consegue acessar o tamanho da taxa retida pelos aplicativos que varia a cada corrida com facilidade. Essa informação fica disponível apenas no final da corrida, em uma aba com informações detalhadas de cada viagem. Portanto, antes de realizar o trabalho, o motorista não sabe quanto o cliente pagou e o valor que ficou para o aplicativo. 

“Só que é inviável fazer isso durante as corridas todo dia. [Ter essa informação] permitira o controle [dos rendimentos], só que não é o que acontece”, explica Neves. Ele ainda relata que antes das atualizações de algoritmo, a taxa era fixa, mas as coisas mudaram. 

Na experiência de Leandro Cruz, as plataformas podem ficar com um valor de 20% a 45% dos rendimentos de uma corrida. Porém, ele relata que já viu um caso que a taxa superou os 70%. 

Em resposta a questionamentos do Mobilidade Estadão, as três principais plataformas do Brasil, segundo a GigU, tentaram explicar como funciona. Conforme a 99, os motoristas podem acessar uma interface com os detalhes dos ganhos e taxas das corridas. Além disso, a empresa ressalta que testa uma ferramenta de controle financeiro para o motorista desenvolver estratégias. Até a publicação desta matéria, a 99 informou que essa ferramenta está vigente nas cidades de Fortaleza, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. 

Já a Uber reforçou que a taxa de serviço do aplicativo pode ser consultada no recibo das viagens. “Essa taxa não é fixa, logo em algumas viagens pode ser maior. Enquanto em outras, pode ser menor. Na média, considerando todas as viagens da semana, a taxa de serviço é de aproximadamente 25%”, diz a nota enviada à reportagem. 

A InDrive afirma aplicar uma taxa fixa. Nesse caso, o aplicativo tem uma abordagem diferente dos demais, em que o motorista negocia o valor com o passageiro antes da corrida. “Oferecemos uma sistematização com parâmetro pré-determinado para o preço mínimo – colocando os valores oferecidos por cada trajeto de forma transparente e dentro da média do mercado”, disse a plataforma. 

Valores mínimos

Outra demanda dos motoristas, ressaltada por Leandro Cruz e Luiz Gustavo Neves, são os valores mínimos por corrida. Para eles, é injusto a forma com a qual os trabalhadores são remunerados em corridas curtas. “Um consenso é que pelo menos R$ 10 seria um valor mínimo, independentemente se for de 100 metros”, defende Neves. 

O CEO da GigU exemplifica com os taxistas. Assim que o passageiro entra no carro, uma taxa já está cobrada, a famosa bandeira. Somado a isso, Neves defende o reajuste dos valores pagos. Ponto também destacado pelo presidente da federação. 

“Eles [os motoristas] acham que o valor médio que eles ganham por hora e por quilômetro rodado está defasado demais. E, de fato, está na maioria das vezes, tanto que hoje em dia os motoristas têm uma taxa de aceitação de corridas muito baixa”, explica Neves.

Apesar da escalada a inflação e aumento dos preços dos automóveis e combustíveis, os valores das corridas não acompanharam, reclamam. Dessa forma, os trabalhadores acabam atuando para sustentar necessidades básicas e não conseguem acumular capital. 

De acordo com Neves, essa é a realidade que o aplicativo busca combater. Oferecendo mais informações aos motoristas, permite que cada um desenvolva sua estratégia e entenda os melhores locais e horários. Dessa forma, os trabalhadores conseguem estabelecer uma relação de trabalho menos injusta. 

Leia também: 1º de Maio: como entregadores podem aumentar a vida útil da moto

De 1 a 5, quanto esse artigo foi útil para você?

0 Comentários


Faça o login