A eletromobilidade é uma realidade na indústria automotiva mundial, e o crescimento da frota de veículos movidos a bateria, em muitos países, trouxe à tona um tema importante: a necessidade de gerar energia elétrica em alta escala por meio de fontes limpas e renováveis.
Nesse contexto, o hidrogênio verde (H2V) desponta como uma das soluções para a produção de energia e que, futuramente, poderá reduzir expressivamente o tamanho e o peso das baterias dos automóveis elétricos. Segundo estudo da SAE Brasil, o hidrogênio verde é um dos combustíveis que oferecem a maior quantidade de energia por grama.
A obtenção do hidrogênio verde é um trabalho limpo, o que contribuiria para a descarbonização da cadeia automotiva. Ele é alcançado com base em uma molécula de água, composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio.
Por meio de um processo chamado eletrólise, é possível dividir essa molécula e separar o hidrogênio do oxigênio, sem emissão de gases. A eletricidade usada na eletrólise vem, justamente, de fontes renováveis, como solar e eólica.
O hidrogênio é o elemento mais abundante do universo, mas, de forma geral, não é encontrado na sua forma pura. Está sempre ligado a outro elemento químico, como oxigênio, carbono ou nitrogênio. Não é fonte primária de energia, e pode ser obtido de diversas outras fontes de energia primárias e secundárias.
“O mundo vive uma transição energética, mas o Brasil está atrasado”, afirma Cláudio Ribeiro, CEO da 2W Energia. Para ele, o hidrogênio verde é um insumo fundamental para substituir combustíveis fósseis, como gasolina e óleo diesel. “A Europa ficou muito dependente do gás russo ou do petróleo árabe. O Brasil pode se diferenciar, aproveitando suas fontes de energia, que são 85% limpas, e por ter água em abundância”, diz.
Na avaliação da SAE Brasil, o Brasil tem alto potencial para produzir hidrogênio verde, devido à abundância de fontes renováveis para realizar eletrólise. A entidade assinala que o Nordeste é a região com o campo mais propício para se transformar em um hub de desenvolvimento do H2V.
Cláudio Ribeiro concorda. “As usinas eólicas offshore, que são semelhantes às plataformas de petróleo, podem gerar hidrogênio verde com mais capacidade do que uma planta onshore, graças ao sol e ao vento mais estável e constante, sem barreiras naturais como morros. É mais viável do que gerar o H2V no Rio Grande do Sul, por exemplo”, acrescenta.
O levantamento da SAE Brasil destaca que, atualmente, 84% da energia gerada no Nordeste são renováveis. A energia eólica gera 48.706 gigawatts por ano, o equivalente a 49% do total. A hidrelétrica responde por 30.082 (31%); e a solar, 3.643 gigawatts (4%).
Há, porém, desafios a serem superados, como os valores de investimento, armazenamento, distribuição e transporte. “A iniciativa privada tem condições de ajudar a alavancar essa tecnologia e trazer benefícios ao Nordeste e ao País”, afirma a pesquisa da SAE Brasil.
De fato, os valores para a construção de uma fábrica de hidrogênio verde em alta escala assustam. Segundo Ribeiro, criar uma plataforma offshore custa, ao menos, US$ 1,5 bilhão e mais US$ 1 bilhão para acoplar a unidade de geração de energia.
As primeiras iniciativas já aparecem. Em 2021, o governo do Ceará assinou protocolo de intenções, com a empresa australiana Enegix Energy, para a construção de uma planta de H2V no complexo industrial e portuário de Pecém, com capacidade de produzir 900 mil toneladas por ano. O investimento anunciado é de US$ 5,4 bilhões.
Para Cláudio Ribeiro, a tendência é que o H2V se dissemine ao longo dos anos como fonte de combustão. “O transporte urbano de carga e ônibus será a porta de entrada desse insumo à área da mobilidade”, prevê.
E vai além. “Em um período de cinco a dez anos, o Brasil terá os primeiros projetos para produzir hidrogênio verde, com grandes investidores – como empresas de óleo e gás – capazes de baratear os custos. É importante ter hidrogênio com menor custo; senão, vale mais a pena continuar usando petróleo”, ressalta.
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