Mecânico do "carro anfíbio" cria moto adaptada para cadeirantes

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Mecânico do “carro anfíbio” cria triciclo adaptado para cadeirantes

Por: Isabel Lima . Há 5 dias
Inovação

Mecânico do “carro anfíbio” cria triciclo adaptado para cadeirantes

Mais de 200 triciclos adaptados para pessoas com mobilidade reduzida circulam pelo país; próxima criação será anfíbio elétrico, com motor de bicicleta

5 minutos, 56 segundos de leitura

13/02/2025

Caio tem planos de se mudar para a praia, mas por enquanto mantém residência no bairro Vila Santa Catarina, na capital. Foto: Mobilidade Estadão/Isabel Lima

Após ter seu carro anfíbio apreendido em dezembro de 2024 na praia do Gonzaguinha, em São Vicente, litoral do Estado de São Paulo, o mecânico autoditada Caio Strumiello já anunciou novo modelo de veículo adaptado para estrada e água. Aos 53 anos, ele acumula centenas de criações, como uma mini moto, um carro de fórmula 1 e até motos adaptadas para cadeirantes. Mesmo com a recente perda do carro “nanico anfíbio”, ele decidiu ser ainda mais ousado.

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Carro anfíbio

A próxima criação, que já está em fase de desenvolvimento, será um “nanico anfíbio” híbrido, com motor a combustão e elétrico. O veículo terá um sistema parecido ao das bicicletas elétricas, impulsionadas pelo pedalar. Para Strumiello, a apreensão do “nanico anfíbio” não fez sentido, pois o veículo não apresentava riscos ao meio ambiente ou as pessoas. Ele ainda tece críticas à forma que as coisas funcionam no País, punindo aqueles que se dedicam a desenvolver novos produtos. “Aconteceu o mesmo com Santos Dumont, que precisou sair do Brasil para fazer alguma coisa”, opina, referindo-se ao “Pai da Aviação”.

Primeiro teste do nanico anfíbio na praia de São Vicente. Foto: Reprodução Instagram.

“O motor que usei é muito fraquinho porque eu não queria navegar, só queria me deslocar na água, ele me dava a 5 km/h ou 6 km/h” explica o mecânico. No dia da apreensão, ele tentou explicar às autoridades que não havia risco de vazamento de óleo, um dos argumentos da fiscalização. Isso porque Caio vedou a estrutura do veículo para que não entrasse água, impedindo vazamentos.  Além disso, ele conta que já havia testado o carro na praia em outras ocasiões

Porém, ele não conseguiu convencer e teve a criação apreendida. O mecânico ainda tentou recolher o veículo do pátio e contratou um advogado. Mas entendeu que os custos seriam muito maiores do que simplesmente construir um novo. Como resultado da repercussão do caso, ele recebeu uma encomenda para a Bahia e já começou a construção. 

Além da nova unidade do nanico anfíbio, Caio desenvolve outro veículo com capacidade de se movimentar na água, mas, desta vez, mais sustentável. “Vou construir o carro anfíbio mais leve do mundo para duas pessoas, com motor elétrico e a gasolina”, ambiciona ele. Aliás, a estrutura do novo veículo já está montada aguardando Caio entregar outras encomendas para se dedicar a ela. O “nanico anfíbio” híbrido terá apenas 50 quilos.

Caio dentro da estrutura do novo anfíbio híbrido
Novo modelo de anfíbio já tem estrutura montada e pesa atualmente 40 kg. Foto: Isabel Lima/Estadão

Moto adaptada para cadeirantes

Apaixonado por mecânica desde pequeno, Caio sabia que algum dia montaria o próprio carro. Quando ele começou a construir seus próprios veículos aos 41 anos, o objetivo era diversão. Na época, ele montava as estruturas com papelão. “Eu comprei uma mobilete para poder ir comprar tinta e transformei ela na Mob Davidson”, conta ele. 

Caio montado na Mobi Davidson
Quando montou a primeira motocicleta, Caio estava sem habilitação e encontrou na mobilete uma opção para sua mobilidade. Foto: Mobilidade Estadão/Isabel Lima

Porém, ele não esperava que a principal fonte de renda mudasse da funilaria e pintura de veículos, atividade que ele se ocupa desde os 22 anos, para a venda de motos adaptadas para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida. 

Em 2015, Caio gravou um programa com o Faustão na TV Globo. Isso ocorreu logo após ele montar o menor carro para duas pessoas do mundo, com 1,2 metro, e começou a receber encomendas. Em seu canal no Youtube, ele chegou a ensinar como montar um carro nanico em casa.

Naquela época, uma mulher passava pela rua dele de ônibus e viu o pequeno veículo estacionado em frente a um estabelecimento na Vila Santa Catarina, bairro da zona sul da capital paulista em que Caio reside. “Apareceu a senhora por meio desses carros e falou: ‘se você colocar motor num carro desse, você consegue colocar um motor na minha cadeira de rodas'”, ele lembra.

Por fim, o mecânico iniciou uma trajetória de montar veículos adaptados. “Comprei a cadeira de rodas no brechó e desenvolvi um triciclo para ela com peças de moto. Ela usa até hoje”, conta o mecânico.

Já que havia criado uma cadeira de rodas com motor a combustão, ele decidiu desenvolver outros modelos triciclos adaptados, com cobertura e até uma Harley Davidson para um tetraplégico. “Hoje, já são mais de 203 triciclos”, ressalta Caio, que recebe encomendas de todo o País. 

Caio recebe suas criações, como a Harley Davidson, para fazer manutenção e devolver revisada para os clientes. Foto: Mobilidade Estadão/Isabel Lima

Mobilidade para pessoas com deficiência

“São veículos para as pessoas que se locomovem pequenas distâncias, porque a pessoa com deficiência não precisa ir longe. Só precisa sair de casa um pouco, ir a uma padaria, uma farmácia, tornar-se independente”, ele defende. 

Embora sempre receba novas encomendas de triciclos, ele percebe que o cenário atual é mais difícil. “O Brasil tá meio estranho”, opina sobre a situação financeira das pessoas. Isso porque, para montar os triciclos adaptados, o cliente precisa comprar uma moto, normalmente uma Honda PCX 150. “A pessoa tem que financiar e quando você tem uma insegurança econômica, infelizmente, sonho fica para frente”, conclui ele. 

Como os triciclos são produzidos?

Triciclo Mobilidade é o modelo mais encomendado pelos clientes de Caio. Arquivo Pessoal/Caio Strumuiello

“Eu faço como se fosse um caixote, uma gaiola, onde a pessoa vai entrar com a cadeira de rodas. Corto a moto na frente do tanque, coloco a suspensão dianteira na frente do caixote e faço uma suspensão traseira do lado esquerdo. Também faço uma carenagem igual a da moto que fica do lado direito.

Ela lembrar uma biga. Tem uma rampa elétrica, a pessoa entra com a cadeia de roda, se trava lá dentro e pilota. Do outro lado eu fiz um sistema que é um motor elétrico e mecânico para dar ré. É como se tivesse dois motores. Parece que você tem duas motos, mas um lado é de fibra.”

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