Veja o que cinco cidades ao redor do mundo fizeram para melhorar a segurança viária
Em comum as metrópoles têm o fato de trabalharem segundo o Visão Zero, uma estratégia de segurança no trânsito que tem como objetivo eliminar todas as mortes e ferimentos graves em sinistros nas vias

É consenso entre especialistas em mobilidade que, para melhorar os índices de segurança viária das cidades, não existe receita pronta: cada região tem suas especificidades, que precisam ser levadas em conta para a elaboração de um plano efetivo.
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No entanto, é consenso que existem elementos comuns nas cidades que estão mudando sua realidade viária. Um deles é a adoção do Visão Zero, uma estratégia de segurança no trânsito que tem como objetivo eliminar todas as mortes e ferimentos graves em sinistros nas vias. Acompanhe, a seguir, as iniciativas de cinco cidades que estão alcançando bons resultados.
1. Segurança viária: o sucesso do Visão Zero em Nova York

Nova York, nos Estados Unidos, adotou a política Visão Zero em 2014, com um plano de ação sob a gestão do prefeito Bill de Blasio, eleito naquele mesmo ano. Na época, contudo, a situação era catastrófica: a cidade contabilizava aproximadamente 4 mil nova-iorquinos gravemente feridos e mais de 250 mortos em acidentes de trânsito por ano.
Em média, veículos feriam gravemente ou matavam uma pessoa a cada 2 horas. Nesse sentido, em 2023 foram registradas 299 mortes no trânsito.
Para reverter esse cenário, entretanto, o Visão Zero foi implementado com ações em diversas frentes. São elas: maior rigor nas fiscalizações, redesenho de ruas evitando acidentes e protegendo pedestres, interseções para melhorar a segurança, com metas de realizar melhorias de segurança em 50 corredores e interseções por ano, além de campanhas de conscientização.
Resultados expressivos
Em 2022, de acordo com a Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global, a queda nas mortes totais diminuíram 6,6% em relação a 2021, e os óbitos de pedestres reduziram 6,3%.
Comparado a 2013, contudo, as mortes totais no trânsito em Nova York diminuíram 14,7% e os óbitos de pedestres caíram 35,9%. Os óbitos de ciclistas também diminuíram pelo terceiro ano consecutivo em 2022, mesmo com o aumento do número de pessoas pedalando.
2. Lombadas diferenciadas na Colômbia

Em Bogotá, na Colômbia, os dados têm ajudado a diagnosticar e a atuar sobre os principais problemas das vidas. Nesse sentido, o principal exemplo está em sua política de segurança viária e gestão de velocidades, com base no programa Visão Zero e previsto no Plano de Segurança Viária.
Assim, os trechos com maiores concentrações de sinistros e vítimas no trânsito receberam algum tipo de ação, como redução dos limites e outras intervenções.
Um exemplo concreto está em um trecho de 1,03 km da Av. Guayacanes, que atravessa uma zona densamente povoada na periferia de Bogotá. Cercado de escolas, parques e residências, o trecho apontava para um aumento dos acidentes fatais: foram registradas duas 2 mortes nos últimos 6 meses.
A partir do diagnóstico do local, contudo, a cidade instalou novos modelos de lombadas, adaptados para velocidades mais baixas — com zonas de 50 km/h e, em áreas escolares, de 30 km/h.
Resultados expressivos
Dessa forma, seis meses após a intervenção, o trecho não registrou nenhuma fatalidade, e a severidade dos sinistros que ocorreram foi menor.
Como resultado, a parcela das motos que circulava acima da velocidade durante a noite passou de 60% antes das intervenções para 21% depois delas.
“O projeto demonstrou ser realmente eficaz para eliminar mortes e evitar lesões graves. É uma solução simples e de baixíssimo custo, que realmente transforma a vida das pessoas que vivem e trabalham na região. A comunidade ficou feliz com os redutores, inclusive a cidade recebe pedidos para implementá-los em outros locais”, explica Jessica Kisner, gerente de segurança viária do WRI na Colômbia.
De acordo com ela, Bogotá já está expandindo essas medidas para outros corredores críticos, e já houve intervenção em outro corredor que mostrou resultados semelhantes, zerando as mortes.
3. Foco nos pedestres na Cidade do México

Com foco na mobilidade ativa, a Cidade do México lançou em 2010 o programa ‘Camina libre, camina segura’, com foco principalmente na segurança das mulheres, melhorando a iluminação das ruas, travessias para pedestres, substituindo passarelas por faixas e criando escolas de condução de bikes para o público feminino.
Implementado em 25 cidades, o programa gerou uma redução de 32% nos óbitos gerais nos locais tratados,no período entre 2010 e 2020. Já as mortes de pedestres caíram 31,5%, enquanto os de ciclistas caíram 16,7% na média.
No entanto, de acordo com a Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global, mesmo com o progresso, a redução de mortes e lesões graves tem sido mais lenta entre usuários vulneráveis e as lesões graves de ciclistas aumentaram 21% em 19 cidades. Isso se deve, principalmente, ao aumento no número de viagens de bicicleta, o que tem demandado ajustes no programa.
4. Buenos Aires: terceira revisão do Plano de Segurança Viária

Atualmente, a capital argentina tem uma taxa de 3 mortes nas vias a cada 100 mil habitantes, índice que lhe confere o título de um dos trânsitos mais seguros da América Latina. Como comparação, no Brasil são 17 óbitos por 100 mil habitantes.
Em 2023 foram 104 mortes no trânsito registradas em Buenos Aires e, em 2024, o dado preliminar (ainda não consolidado) é de 103 óbitos/ano. Dentre as principais ações estão redução dos limites de velocidade, ações de mobilidade ativa (pedestres e ciclistas) e revisões constantes do Plano de Segurança Viária.
No início do ano, Buenos Aires fez sua terceira revisão do Plano de Segurança Viária (PSV) e estabeleceu como meta reduzir em 40% suas mortes até 2027. “O PSV também prevê aumento de 34% nas operações de fiscalização de velocidade, com 50 novas câmeras para fiscalização, 30 cruzamentos críticos com intervenções, assim como em seis terminais de transporte público”, explica diz Bruno Rizzon, coordenador de planejamento da mobilidade do WRI Brasil.
A construção do plano foi coordenada pela Secretaria de Transportes do Governo da Cidade de Buenos Aires e contou com o apoio do WRI Brasil no âmbito da Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global.
5. Bolonha e o Città 30
A cidade italiana de Bolonha implementou, em janeiro de 2024, um programa chamado Città 30. Ele consiste, nesse sentido, na redução dos limites de velocidade em áreas determinadas para 30 km/h.
Além disso, também instituiu zonas de tráfego limitado (ZTL), ou seja, áreas onde o acesso a veículos é controlado, exigindo licença para entrar e sair. Essa medida visa reduzir o tráfego em áreas centrais da cidade e melhorar a qualidade do ar.
Nesse sentido, a medida tem se mostrado eficaz na redução de acidentes e das mortes no trânsito. Apenas seis meses depois, a cidade comemorava redução de 33% das mortes, 38% de queda nos sinistros graves. Alem de 92% de aumento no uso de bikes compartilhadas.
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