“Como pode uma moto de apenas 400 cilindradas custar tanto?”, questionaram muitos motociclistas brasileiros quando a Kawasaki Ninja ZX-4R foi apresentada. Afinal, a recém-lançada Ninja de 400 cc chega às lojas, em outubro, com preço sugerido de R$ 55.990.
O valor, de fato, é bem mais alto do que as concorrentes na mesma faixa de cilindrada. Entretanto, a esportiva da marca japonesa engana quem leva em conta apenas a capacidade cúbica do motor. Aceleramos a nova integrante da famosa linhagem na pista de Interlagos e pudemos conferir que, apesar de ter só 400 cc, a nova Ninja ZX-4R é acima da média.
A começar pelo seu design, inspirado nas superesportivas maiores e radicais da Kawasaki. Conjunto óptico duplo em LED, linhas afiladas e uma grande entrada de ar na carenagem frontal a caracterizam como uma verdadeira Ninja ZX. Ao montar na moto, o porte compacto impressiona. O tanque acinturado, as pedaleiras recuadas e os dois semiguidões proporcionam uma postura esportiva, inclinado para a frente, quase escondido sobre o para-brisa.
Mas, ao dar partida, descobre que a principal diferença está mesmo no seu motor. Vale dizer que nada tem a ver com o da Ninja 400, vendida, no Brasil, desde 2018 (leia quadro abaixo). A nova Ninja ZX-4R usa um inédito propulsor de quatro cilindros em linha, com 399 cm³ de capacidade, 16 válvulas e arrefecimento líquido.
Com pistões de grande diâmetro e pouco curso, o tetracilíndrico gira alto, até 14.500 rpm, para produzir 80 cv de potência máxima com o sistema de indução direta de ar em ação – a tal entrada de ar na carenagem frontal. Chamada de RAM Air, forma um túnel que “empurra” o ar para o motor, melhorando o desempenho em altas velocidades.
Além do bom desempenho, o motor de quatro cilindros traz muita tecnologia embarcada, herdada das superesportivas de maior cilindrada da Kawasaki. Acelerador eletrônico, controle de tração e modos de pilotagem, itens, normalmente, encontrados em motos mais sofisticadas, são de série na Ninja ZX-4R.
Como avaliei o modelo em seu hábitat natural, um autódromo, saí dos boxes já com o modo Sport selecionado. Dessa forma, o motor entrega toda a potência e reduz a intervenção do controle de tração, permitindo extrair o máximo dessa esportiva.
Já na reta oposta, outra grata surpresa da ZX-4R: o quickshifter bidirecional. O sistema que permite subir ou reduzir sem usar a embreagem nem tirar a mão do acelerador. O ronco estridente do motor sofre uma pequena interrupção, enquanto engato as marchas e os giros sobem até a Ninja ZX-4R alcançar 196 km/h na reta!
O desempenho é tão surpreendente que quase esqueci que estava em uma moto de 400 cc, o que significa que o torque em baixas rotações não é igual ao de uma moto de 1.000 cc. Para aproveitar toda a potência, é preciso manter os giros lá no alto e trocar as marchas no tempo certo, como em uma moto de corrida. Aliás, a Ninja ZX-4R chega bem perto disso.
Ao final da reta, a nova Ninja mostra seus diferenciais na parte ciclística. O sistema de freios conta com dois discos flutuantes de 290 mm de diâmetro, com pinças monobloco de fixação radial, na dianteira. Já na traseira, há um disco simples de 220 mm de diâmetro. Configuração mais do que suficiente para parar os 188 kg da “pequena” esportiva. O sistema ABS de dois canais é de série no modelo – e pode ser desligado.
O quadro em treliça, inspirado na Ninja H2, a moto com turbo compressor da Kawasaki, facilita a transição da esquerda para a direita ao contornar o famoso “S” do Senna. Além de leve, a Ninja ZX-4R demonstra agilidade nas mudanças de direção.
Vale destacar o conjunto de suspensões que dão confiança para inclinar até o limite dos pneus – radiais sem câmara, têm medidas 120/70-ZR17 (dianteira) e 160/60-ZR17 (traseira). Na frente, o garfo telescópico invertido Showa BFF-SP permite frear dentro das curvas sem sustos, enquanto o monoamortecedor traseiro, fixado por links à balança, mantém a roda traseira tracionada, com ajuda do controle de tração. Com isso, acelero, na curva do sol, para quase chegar, novamente, a 200 km/h, na reta oposta.
Depois de algumas voltas na pista, pode-se entender melhor a proposta da nova Ninja ZX-4R. Segundo a Kawasaki, o modelo foi desenvolvido para dar mais emoção aos iniciantes no mundo das esportivas, além de divertir pilotos mais experientes em um track day. Com potência impressionante, porém mais controlável do que a cavalaria das Ninjas maiores, a pequena 400 cc cumpre o que promete, mas cobra caro por isso. Talvez não seja a ideal para quem usa a moto no dia a dia, mas serve como uma excelente porta de entrada a quem está começando nas esportivas. A Ninja ZX-4R custa mais do que a média, mas entrega melhor desempenho e mais diversão para acelerar na pista! Local, aliás, mais apropriado para extrair tudo o que essa pequena esportiva de quatro cilindros pode oferecer.
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