Perigos da combinação de remédios com direção
Diversas classes de medicamentos, de uso controlado ou não, podem interferir na condução segura
Dados da Fundação Oswaldo Cruz apontam que o Brasil está entre os maiores consumidores de remédios do mundo, fato que só se intensificou com a pandemia e uma maior incidência de distúrbios de maneira geral. “Muitos medicamentos, especialmente os psicotrópicos, causam sono, comprometem o reflexo, alteram a visão, a audição e o equilíbrio, como antialérgicos, antigripais e até moderadores de apetite”, alerta Stefania Alvise, pedagoga, educadora de trânsito e observadora certificada pelo Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV).
De acordo com a Associação Brasileira e Medicina de Tráfego (Abramet), o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) não dispõe, especificamente, sobre o uso de remédios e a direção de veículos. “Aqueles que contêm substâncias psicoativas que causam dependência poderiam ser enquadrados no Artigo 165, que prevê que dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência é infração gravíssima. Porém, o motorista que utilizar de forma apropriada de substâncias psicoativas de uso lícito ou medicamentos no tratamento de doenças não incorrerá em prática ilegal”, explica Flávio Emir Adura, diretor científico da Abramet.
Diversos fatores dificultam o estabelecimento de níveis seguros, como a tolerância de cada organismo, além da associação com outro fármaco ou mesmo com álcool. “Depende ainda da idade, da sensibilidade individual e do estado de saúde físico e mental. Ainda que a maioria dos efeitos indesejáveis sejam bem conhecidos, a intensidade e a frequência não se manifestam da mesma forma nas diferentes pessoas”, explica o médico.
Aumento no consumo
De acordo com a Abramet, a pandemia marcou uma escalada na procura por medicamentos relacionados a dificuldade para dormir, estresse, ansiedade, depressão, pânico, transtornos de humor, entre outros.
“Muitos motoristas que usam desse tipo e substância desconhecem os riscos a que estão submetidos na direção veicular. Os termos ‘insônia’ e ‘remédio para insônia’, por exemplo, são hoje alguns dos mais procurados no Google, e o risco é agravado, em alguns casos, pela prática da automedicação”, completa Adura.
Entre os mais perigosos, segundo o médico, estão os ansiolíticos, hipnóticos, estabilizadores de humor e antidepressivos. “Eles são capazes de produzir efeitos muito severos sobre a condução veicular segura e deveriam ser evitados pelos motoristas”, completa Adura.
Segundo Stefania Alvise, pedagoga e educadora no trânsito, no País, não existem números sobre a quantidade de sinistros causados pela combinação entre uso de medicamentos e direção, o que dificulta que as autoridades tomem providências nesse sentido. Ainda de acordo com ela, o Brasil tem endurecido leis na busca pela redução de infrações, mortes e sequelados permanentes, além de coibir comportamentos de risco no trânsito.
“Mas é necessário, além da fiscalização e da engenharia de tráfego, criando uma estrutura de educação para o trânsito permanente, unindo sociedade civil organizada, empresas e órgãos públicos em prol de um trânsito mais seguro e humano. A educação para o trânsito deve permear o processo de formação não somente dos futuros condutores mas desde a infância, de forma transversal nas redes de ensino”, diz.
Confira os principais efeitos de classes de medicamentos no organismo*
• Antialérgicos: os mais antigos são totalmente contraindicados para uso por motoristas pela sedação. Já os mais recentes, “não sedativos”, causam menos sonolência.
• Analgésicos comuns: muitos análgicos ingeridos habitualmente podem causar sonolência, e resultar em dificuldade para dirigir.
• Relaxantes musculares: podem causar sonolência diurna.
• Antieméticos (medicamentos para náusea e enjoo): podem causar sonolência excessiva como efeito colateral.
• Antiespasmódicos (medicamento para cólicas menstruais e intestinais): tem a sonolência como um dos principais efeitos colaterais do medicamento.
• Antitussígenos (medicamentos para tosse) e narcóticos: também causam sonolência.
* Fonte: Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet)
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