Eletrificação poderá gerar R$ 200 bilhões por ano em novos negócios

Segundo levantamento recente, de 2% a 11% da frota total de leves será eletrificada em seis anos. Foto: Adobe Stock
Mário Sérgio Venditti
28/05/2024 - Tempo de leitura: 5 minutos, 38 segundos

Os recentes investimentos anunciados pelas montadoras para o Brasil, que superam R$ 120 bilhões, deverão desencadear um círculo virtuoso em todo o ecossistema da eletromobilidade nacional. A projeção é que, a partir de 2030, o segmento será beneficiado por um potencial de R$ 200 bilhões anuais gerados por novos negócios.

Esse é o resultado de um minucioso estudo da Mirow & Co., consultoria de estratégia que atua nos setores automotivo e energético. Segundo a empresa, de 2% a 11% da frota total de carros leves será eletrificada daqui a seis anos.

Para que eles rodem com a infraestrutura necessária, a soma bilionária irrigará quatro segmentos da cadeia de valor: além das fabricantes, estão incluídos setores de serviços, gestão de recarga e fornecimento de energia (veja quadro no final do texto),

“A rigor, o levantamento começou em 2019, mas o mercado de carros elétricos ficou estagnado, principalmente no período da pandemia”, afirma Felipe Diniz, sócio da Mirow & Co. e líder do estudo.

“O cenário era de automóveis muito caros de BMW, Volvo e Mercedes, por exemplo. A chegada dos chineses mudou a chave.”

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Marco zero

Ele conta que o período para planejamento de todo o ecossistema da mobilidade elétrica já está em andamento. “O programa Mover, do governo federal, e a série de anúncios de investimentos das montadoras para produção de veículos eletrificados compõem o marco zero do processo de eletrificação da frota e de várias transformações que ela provocará no mercado”, acentua. 

O estudo ouviu empresas da cadeia de valor, usuários e provedores de energia. Depois de cruzar os dados e refinar análises e premissas, a Mirow & Co. consolidou os resultados.

“Há vários aspectos que devem ser considerados visando o horizonte de análise de 2030, como a evolução do mercado de elétricos usados nos próximos anos, as fabricantes que pretendem se estabelecer no País e a bateria que está ficando mais barata, deixando os preços dos veículos competitivos”, destaca o executivo.

Diniz destaca que, de 2016 a 2022, a frota brasileira de veículos elétricos cresceu 122%, enquanto Estrados Unidos, Europa e China registraram aumento de 32%, 60% e 65%, respectivamente. De janeiro de 2023 ao mesmo mês de 2024, a compra de automóveis leves plug-in evoluiu quase 250%.

Mais atrativos

A expansão continua, mas dois terços do market share de elétricos 0 km emplacados no Brasil custam até R$ 120 mil, como BYD Dolphin Mini, Chery iCar e Renault Kwid e-Tech. “Isso abre a perspectiva de o segmento criar um mercado de massa”, diz.


O estudo da Mirow & Co. mostra também que os elétricos são mais atrativos economicamente do que os veículos com motor a combustão para quem roda, no mínimo, 30 mil quilômetros por ano. Ou seja, principalmente taxistas e motoristas de aplicativo. 


Quem dirige, em média, 13 mil quilômetros/ano sentirá as vantagens de possuir um elétrico a partir de 2028. Como reflexo da produção de eletrificados, cujo início está previsto para 2025, o custo total de propriedade dos automóveis será igual ao veículo a combustão em quatro anos.

“O cálculo leva em conta os gastos para compra e manutenção de um BYD Dolphin, um dos modelos elétricos mais populares e com autonomia anunciada de 280 quilômetros”, aponta.

Fusões no futuro

O relatório faz uma previsão interessante. “A eletrificação promoverá novos negócios entre empresas de eletromobilidade, como de recarga e de distribuição de energia. Haverá fusões e aquisições com vistas a essa nova realidade”, ressalta Diniz. 

Os segmentos de autopeças, manutenção de veículos e locação já são impactados pela eletrificação e a estimativa é de que, em 2030, sejam favorecidos pelo montante de R$ 17 bilhões anuais em negócios.

As locadoras igualmente representam um importante vetor para o desenvolvimento de novos negócios. Segundo a Associação Brasileira de Locadoras de Veículos (Abla), elas compram mais de um quarto da produção de automóveis no País. Os eletrificados começam a ganhar espaço nesse volume, com 3.300 unidades adquiridas em 2022.


Para as empresas de autopeças e manutenção, a oportunidade de gerar receitas está na especialização em serviços e produtos voltados para a eletrificação. Será uma forma de compensar o impacto provocado pelo baixo índice de manutenção exigido pelos elétricos, por causa do número bem menor de peças, componentes e sistemas.

Recarga fará consumo de energia aumentar em 2%

O estudo feito pela Mirow & Co., que considera os hábitos em mercados mais desenvolvidos, aponta que de 73% a 84% das recargas de automóveis de passeio acontecerão em ambiente doméstico.

Dessa forma, os postos de combustível terão de se adaptar, no sentido de oferecer serviços de recarga e fornecimento de outras fontes de energia, como o gás natural veicular (GNV). Ao mesmo tempo, a venda de combustíveis líquidos (gasolina, etanol e diesel) entrará em queda.

A tendência é que os estabelecimentos se convertam em postos de multisserviços de mobilidade, atendendo principalmente os usuários que passam mais tempo fora de casa, como taxistas, motoristas de aplicativos e viajantes. 


“Tais mudanças abrirão espaço para empresas especializadas em gestão de pontos de recarga e fabricantes de carregadores”, acredita Felipe Diniz. “Esse tipo de serviço também será essencial para frotistas, condomínios residenciais e comerciais, shopping centers e estacionamentos.”

O potencial do mercado de infraestrutura de recarga chega a R$ 14 bilhões anuais. Até 2030, a demanda de recarga de veículos elétricos aumentará o consumo de eletricidade do País em 2%. “Privilegiado por suas fontes renováveis de energia, o Brasil está preparado para absorver esse gasto extra”, afirma.

Para a Mirow & Co., o crescimento no consumo provocado pela eletrificação automotiva não deve impactar significativamente os segmentos de geração e transmissão. O aumento vai se refletir na distribuição, gerando potencial de R$ 10 bilhões anuais para as companhias. 


Potencial da cadeia de valor a partir de 2030

Setor automotivo
Fabricação e venda de veículos nacionais ou importados
R$ 167 bilhões

Serviços
Autopeças (reposição), manutenção e aluguel de carros
R$ 17 bilhões

Recarga
Infraestrutura de recarga pública e privada e soluções de recarga R$ 14 bilhões

Setor elétrico
Energia elétrica para suprir a demanda de veículos elétricos
R$ 10 bilhões

Fonte: Mirow & Co