Senna Tower: maior torre residencial das Américas e a mobilidade em BC

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Senna Tower: veja o impacto na mobilidade de BC com maior torre residencial das Américas

Por: Isabel Lima . Há 22h
Mobilidade para quê?

Senna Tower: veja o impacto na mobilidade de BC com maior torre residencial das Américas

Com mais de 800 vagas de estacionamento, empreendimento pode tornar o trânsito na região próximo do inviável

8 minutos, 45 segundos de leitura

26/05/2025

Senna Tower carrega no design a proporção áurea com a harmonia orgânica da sequência de Fibonacci. Foto: FG Empreendimentos/Divulgação
Senna Tower carrega no design a proporção áurea com a harmonia orgânica da sequência de Fibonacci. Foto: FG Empreendimentos/Divulgação

A estreita Balneário Camboriú (BC), no litoral de Santa Catarina, carrega alguns títulos: a segunda menor cidade do Estado em área e o local escolhido para construção da maior torre residencial das Américas, a Senna Tower. Com apenas 45 mil quilômetros quadrados, BC enfrenta desafios de mobilidade há anos, agravada nos períodos de alta temporada. Entretanto, a chegada no novo prédio será responsável por um dos maiores impactos já vistos na região. 

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A Senna Tower é fruto de parceria entre a família de Ayrton Senna (morto em 1994), a construtora e incorporadora FG, e a Havan, rede de lojas de departamento catarinense. Para entender como a torre vai modificar o tráfego de veículos e pessoas na região, a reportagem do Mobilidade Estadão entrevistou a engenheira responsável pelo projeto e o professor e coordenador de Arquitetura e Urbanismo na Universidade do Vale do Itajaí (Univali). 

Para além da escolha estética do prédio, a Senna Tower é um empreendimento diferente dos demais na orla da praia central. Ou, pelo menos, é o que propõe a campanha de divulgação do projeto. Com uma fachada supostamente aberta ao público, o prédio terá alguns restaurantes, galeria de lojas, pista de kart, memorial em homenagem ao piloto e uma área para grandes eventos. Além disso, as 871 vagas de estacionamento compõem o subsolo e alguns andares do prédio. 

O conceito criativo do empreendimento foi elaborado pela Lalali Senna, sobrinha do piloto. Foto: FGm Empreendimentos/Divulgação
O conceito criativo do empreendimento foi elaborado pela Lalali Senna, sobrinha do piloto. Foto: FGm Empreendimentos/Divulgação

Serão 228 unidades, contando com 18 mansões suspensas de 420 a 563 m², 204 apartamentos de até 400 m², 4 coberturas duplex de 600 m², 2 mega coberturas triplex de 903 m² e sete elevadores de ultravelocidade. Haverá seis pavimentos de lazer privados, distribuídos em vários andares do empreendimento, além de Rooftop destinado exclusivamente ao residencial, totalizando mais de 6 mil m² de área de lazer.

Apesar da construtora responsável divulgar que é o maior residencial do mundo, um edifício de ultra luxo já em obras em Dubai tem previsão de alcançar altura superior, de 595 metros. O adversário do prédio de Santa Catarina é o Burj Binghatti Jacob & Co. Residences, do Emirados Árabes Unidos, que deve ser entregue em 2027.

Já a Senna Tower deve ter mais de 500 metros, com custo de R$ 3 bilhões. A previsão para entregue é para daqui oito anos, portanto, em 2033.

Estacionamento aberto ao público

Apesar do prédio ser de alto padrão, a Senna Tower vai oferecer vagas de estacionamento para o público geral. Portanto, quem estiver de passagem pela cidade ou até deseja visitar uma das atrações do prédio, poderá estacionar no subsolo. Ainda não há informações se o estacionamento será gratuito, mas é prudente imaginar que não. 

Separadas das 700 vagas destinada aos moradores, as 149 abertas ao público em geral ficam no subsolo. Para Stéphane Domeneghini, diretora-executiva da Talls Solutions e engenheira responsável pelo Senna Tower, isso representa um ganho enorme na cidade, já que não há oferta de estacionamento na orla Barra Sul de BC. 

“A gente vai conseguir amortecer e até trazer mais espaço para as pessoas que querem vir para as atrações turísticas e ter um lugar para colocar o carro”, defende Stéphane. Porém, para que esse estacionamento seja mesmo vantajoso, Carlos Barbosa, professor e coordenador do curso de Arquitetura e urbanismo da Univali e presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Santa Catarina (CAU-SC), defende a gratuidade. 

Caso contrário, a cidade ficará cada vez mais isolada aos ricos, afastando moradores de outras faixas de renda. “Vai completamente contra tudo que todos os urbanistas modernos falam”, explica ele. O professor ainda aponta que esse volume de vagas vai gerar ainda mais trânsito na região, em uma cidade com ruas estreitas, que nada remetem a Dubai, nos Emirados Árabes, cidade que costuma ser alvo de comparação com o município catarinense. 

“Se você olhar a malha urbana de Dubai, é completamente diferente da malha urbana de Balneário. São grandes avenidas, seis pistas, não tem nada a ver com balneário”, reforça o Barbosa. 

Ele ainda opina que a verticalização é importante e reconhece que a construção civil é uma das principais atividades econômicas da cidade. Porém, BC não pode se isolar do restante do mundo. “Uma das premissas do urbanismo é que a cidade é para todo mundo. A cidade não é para quem pode pagar o estacionamento”.

De onde vem a solução?

Carlos defende que os responsáveis pelo projeto ofereçam uma solução para todo o movimento gerado. Para ele, isso deve ocorrer paralelamente ao valor pago a prefeitura, que chega na cifra dos milhões, conforme estabelece o Estudo de Impacto de Vizinhança. Apesar do alto valor, o professor crê que o poder público não deve ser o único encarregado de lidar com as consequências na mobilidade ao permitir a construção de um residencial desse porte na beira da praia. 

“Se você gera movimento, você tem que dar solução, estacionamento, pista que possa andar, como é que você vai fazer esse transporte coletivo que leve até lá?”, exemplifica. Por outro lado, a engenheira responsável vê esse movimento do poder público como uma evolução. Qualquer prédio acima de 25 mil metros paga um valor para a prefeitura. É a cidade que tem que estar pronta para receber um Senna Tower, estabelece a legislação.

“O Senna tem uma torre alta, mas a gente tem muito projeto próximo, são torres mais baixas, mas como tem duas ou três torres no mesmo terreno, o impacto visual não é tão grande, mas o impacto em malha viária e malha de infraestrutura é até maior do que o Senna”, ela explica. 

Ainda de acordo com a engenheira, em um prédio como a Senna Tower, o número de vagas de estacionamento deveria ser ainda maior. Porém, a construtora teria pedido uma redução desse número para o poder público com o objetivo de se enquadrar melhor nos padrões da arquitetura mundial. Na lei municipal, existe um número mínimo de vagas, não máximo. 

“Hoje a gente tem uma lei bem antiquada aqui na cidade, de 2008, quando foi revisada a lei de ocupação e lá eles têm um número mínimo de vagas vinculado à área de apartamentos. Isso acaba trazendo um excedente número de vagas para os projetos”, justifica ela. 

Se não fosse pelo pedido da construtora de reduzir o número de vagas, a engenheira prevê que o prédio teria mais de mil. 

O trânsito em BC

O tráfego intenso de veículos ocorre nas principais avenidas da cidade, a avenida Atlântica, na beira da praia, e a avenida Brasil e Armando Tedesco, na primeira quadra atrás da praia. Além disso, são apenas duas pistas, sem qualquer espaço para ampliação. 

“Esse é o grande problema que vai dar o impacto, porque é gigantesco. Você tá centralizando um lugar que aí vai ser um marco da cidade, todo mundo vai querer ir lá. E aí tu tá gerando tráfego numa pista pequenininha”, opina o professor. 

Portanto, para mitigar os impactos, a prefeitura incentiva o uso de modais ativos, como bicicletas. A orla de balneário tem uma longa ciclofaixa sinalizada e calçadas para os pedestres. Porém, o uso é tão grande, que a cidade enfrenta um problema com acidentes envolvendo bicicletas e patinetes. 

Patinetes e embarcações

Em janeiro de 2025, a prefeitura sancionou novas regras para o uso dos patinetes. Isso ocorreu após a prefeita Juliana Pavan (PSD) sofrer um acidente e ser atingida por um patinete elétrico

O poder público também tem alterado o sentido de algumas ruas. Para a engenheira Stéphane, a prefeitura poderia cogitar um elevado. Apesar da velocidade máxima para tráfego nas vias seja de 50 km/h, é a cidade catarinense com mais infrações de trânsito por habitante. 

Nesse sentido, Stéphane explica que vai incentivar os futuros moradores do Senna Tower a adotar a micromobilidade ou sequer se deslocar por grandes distâncias na cidade. Isso porque o prédio terá todos os serviços ofertados nos seus 157 andares. 

Somado a isso, o local deve ter bicicletas compartilhadas e patinetes elétricos para alugar. Outra possibilidade apontada pelo professor Carlos Barbosa é a criação de rotas de transporte hidroviário. Dessa forma, barcos podem desafogar as avenidas da cidade e promover mais um atrativo turístico. Esse ponto de vista também é defendido pela engenheira. 

Senna Tower: um prédio para todos?

A Senna Tower promete de ser um prédio democrático, pois vai oferecer um hall de entrada aberto ao público, além das atrações e restaurantes. Este deve ser o primeiro prédio da orla a ter um espaço assim. 

“No hall de entrada dos super ricos, tem uma passarela que porta ele no meio de vidro e que as pessoas comuns andam nessa passarela. A maior mensagem é que não há segmentação de pessoa”, diz a engenheira. 

Com entrada pela avenida Atlântica e Armando Tedesco, a população poderá aproveitar as lojas e os espaços de alimentação. Porém, as atrações como kart e o memorial ao Ayrton Senna devem ser pagos. 

“Normalmente o segmento de auto luxo não gosta dessa conexão tão ampla com cidade, com outros públicos. Mas aqui a gente formatou de uma maneira que o projeto tem isso como legado, como a Ayrton Senna e os acessos são distintos”, explica. “O design foi feito assim, o nosso conceito é esse, é democrático, é incentivar também a cidade”, conclui. Para os idealizadores da Senna Tower, o prédio é uma forma de contribuir com a tendência turística da cidade. 

Apesar da construção civil ser a principal atividade econômica da cidade, o tamanho da cidade já denuncia que a atividade tem prazo de validade.

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