Zona Sul de SP tem sistema comunitário de bicicletas compartilhadas
Empréstimo de bikes é gratuito para toda comunidade da Peinha; objetivo é promover o lazer através da mobilidade ativa e fortalecer bairro

Diferente das bicicletas compartilhadas geridas por empresas, o projeto Pedalando Juntas propõe o uso de bikes comunitárias de forma gratuita na Zona Sul de São Paulo. A proposta iniciou em outubro de 2024 e já conquistou, principalmente, as crianças de Peinha. A comunidade fica ao lado da Ponte João Dias e do Rio Pinheiros.
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O Pedalando Juntas é gerido por mulheres da própria comunidade aos fins de semana. Para determinar as regras de uso, a população da região se reuniu e determinou que cada pessoa pode ficar até três horas com a bike. Além disso, o projeto conta com aplicativo personalizados para fazer a gestão dos empréstimos.
Ao contrário dos sistemas de aluguel de bicicleta, que não chegam até as áreas marginalizadas pelo poder público, o Pedalando Juntas permite uma circulação livre. “Geridas de forma coletiva, são voltadas diretamente para o benefício da própria comunidade”, informa a organização do projeto.
Atualmente, são dez bicicletas compartilhadas, doadas pelo Instituto Aromeiazero, organização sem fins lucrativas que promove o uso das bikes nas cidades. Já a customização ficou com o artista Puga, de uma comunidade vizinha. O serviço de mecânica, para garantir o funcionamento dos veículos, ficou com Joílson, também morador de uma comunidade na redondeza.
O projeto também conta com o apoio da Associação de Ciclistas do Recife (Ameciclo), responsável pelo Bota pra Rodar. Na capital pernambucana, o projeto já está em três comunidades, onde as bicicletas servem para facilitar o acesso dos moradores ao trabalho nos dias úteis.
Na capital paulista, o projeto pode expandir e alcançar outras comunidades da região.
Como funciona as bicicletas compartilhadas?
O projeto da Peinha é um pouco diferente de Recife. O empréstimo das bicicletas ali busca promover o lazer, esporte e em ampliar o acesso da comunidade ao Parque Linear na margem do Rio Pinheiros. Por isso, as bikes comunitárias ficam acessíveis durante os fins de semana, normalmente das 10h às 17h. Desde a implementação, cerca de 30 pessoas emprestam as bicicletas, com o principal público sendo infantil e adolescente.
Para isso, os responsáveis precisam autorizar a retirada da bicicleta pelo menor, que vai percorrer o bairro com o modal. Embora os passeios ocorram na Peinha, a ideia é permitir o acesso dos moradores ao Parque Linear Bruno Covas, no outro lado do rio.
Apesar de estar em uma das regiões mais urbanizadas de São Paulo, o parque é de difícil acesso, pois não há ciclofaixas ou calçadas. Desta forma, a comunidade acaba isolada do outro lado, sem poder desfrutar das ciclovias, playgrounds, áreas de piqueniques e trilhas do parque. Aliás, a organização do projeto relata que muitas pessoas sequer sabiam que poderiam acessar todas as atrações do parque.
Conforme o Laboratório Rio Pinheiros, das organizações Instituto Caminhabilidade e Metrópole Um pra Um, um levantamento identificou graves riscos aos pedestres e ciclistas que circulam diariamente pela região. A iniciativa estuda as relações sociais, ambientais e urbanas nas margens e na área do parque e propor melhorias e maior democratização da cidade nos eixos. Por isso, a comunidade e as organizações cobram a prefeitura por melhorias o trajeto, com implementação de caminhos e sinalização adequada.
Enquanto isso não ocorre, a comunidade resolveu promover o uso das bicicletas compartilhadas por ali mesmo.
Diferenças entre os gêneros na infância

Nesses primeiros meses de implementação, o Pedalando Juntas identificou que as crianças são o principal público e costumam sair em conjunto pedalar no bairro. Mesmo a ponte que dá acesso ao parque esteja há apenas a cinco minutos do bairro, quase nenhum morador vai até lá.
Além disso, o cotidiano da iniciativa mostrou outro comportamento que ressalta as diferenças dos gêneros na infância. Conforme Letícia Sabino, do Instituto Caminhabilidade, os meninos pegam as bicicletas para brincar, enquanto isso, as meninas usam para ajudaras mães nas tarefas de casa. “Como fazer compras, ainda que digam que brincam ao mesmo tempo que ajudam suas mães, o que mostra os insistentes papéis de gênero desde a infância”, alerta Letícia.
Por isso, a iniciativa pretende promover ações para incentivar o uso das bicicletas por mulheres e meninas com o intuito de lazer.
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